quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
SÃO COISAS DO MEU SERTÃO
meu nome é Sousa Sobrinho
nasci aqui nesse chão
quero fazer nesses versos
pouquinha comparação
um mote enluarado
uma samba numa latada
são coisas do meu sertão
um cabra remoendo
na sombra de um oitão
um gerador quebrado
engachado no mourão
um arado enferrujado
um carro de mão quebrado
são coisas do meu sertão
no alpendre da fazenda
um vaqueiro e o patrão
na cozinha duas cabôcas
pilando mio no pilão
chega balança o bum-bum
no vai e vem e no tum tum tum
são coisas do meu sertão
uma galinha ciscando
e no chiqueiro um barrão
couro de bode espichado
na parede do oitão
uma véia rezadeira
num tronco de arueira
são coisas do meu sertão
num domingo de manhã
é aquela animação
os cabôcos na budega
bebe pinga com limão
chega um cabra da ribeira
bate de mão na peixeira
são coisas do meu sertão
vaquejada e cantoria
reizado, missa e leilão
pescaria e bebedeira
cambito, foice e facão
três birobas e um cavalo
um chucaí véi sem badalo
são coisas do meu sertão
uma noite de novena
uma desbuia de feijão
um dia de adjunto
e as apanhas de algodão
chega um menino aos pinote
lava as mãos dentro do pote
são coisas do meu sertão
num dia de cantoria
a mulher mata um capão
na bacia que vem a janta
é a que a gente lava as mão
da oito horas pra frente
um bêbo pede um repente
são coisas do meu sertão
num casamento matuto
é grande a animação
de tarde a muié ajeita
com cuidado o barracão
o dono da casa tras
um lampião cheio de gás
e manda agoar o chão
aí começa o furdunço
e começa a animação
moça não corta rapaz
e nem dança de feição
o sanfoneiro coitado
com o seu fole furado
tocando xote e baião
o dono da casa vai
ao sanfoneiro avisar
toque só mais dois forró
e depois pode parar
pois lá no méi do terreiro
chegou um cabra enquencreiro
que tá doidim pra bagunçar
os cavaleiros e as damas
dançando com educação
daí um pouco o sujeito
emburaca no salão
empurra logo o porteiro
e apaga o candieiro
são coisas do meu sertão
o dono da casa grita
no meio da escuridão
negrada traga uma corda
pra amarrar o valentão
o cabra amanhece o dia
amarrado numa forquia
são coisas do meu sertão
no sertão é desse jeito
quem duviadr, vem cá vê
se o cabra brincar direito
pode dançar e beber
mas não pagar a cota
lá do terreiro ele volta
não entra nem no salão
eu não estou aumentando
tudo que estou falandoo
são coisas do meu sertão
no meu sertão é assim
tudo é muito natural
é diferente das coisas
que tem lá na capital
aqui tudo é verdadeiro
onde o cabôco roceiro
vive a lavrar o chão
me desculpe se errei
mas, porém eu só falei
das coisas do meu sertão
Sousa Sobrinho
Muito bons os versos rimados do poeta e animador cultural Souza Sobrinho.
ResponderExcluirForte abraço.