domingo, 4 de julho de 2010

Poesia à Sangue Frio


-Aqui jás uma história de amor...

Depois de ter deixado o trabalho, Conor havia sentido uma breve inspiração, enquanto passeava pelo estacionamento procurando seu Golf, encaixava e ritmava as palavras em sua cabeça para não perder se quer o mínimo de riqueza em suas rimas, acionou o alarme, entrou em seu carro, deu um tchau para um companheiro de trabalho e começou a cantarolar seu projeto de texto junto às leves batucadas no volante.
Após a espera de alguns minutinhos para sair do estacionamento devido a rua movimentada, ligou para Noêmia, mais uma de suas quinhentas pretenções, acoplou o celular ao rádio do carro para não levar flagrante dos guardas e prosseguiu a típica prosa
de encontros casuais, perguntou o que a moça iria fazer mais tarde, se estava sozinha àquela hora, fez uma graça e deu seu bote, marcou às vinte e três para comer uma pizza na orla.
Chegando em casa, foi às pressas para o chuveiro, tomou uma ducha e se surpreendeu com o tamanho de sua barba, voltou rapidamente para o banheiro e deu aquela caprichada para a mais linda de suas "amigas". Mais uma, pois o galã fazia sucesso com todas, além de seu chame e seu porte sério, ele costumava escrever textos característicos para todas as mulheres as quais o agradasse, chamavam-nas para um jantar, falava no ouvido delas tudo o que elas queriam ouvir e depois pegava o telefone para ligar quando estivesse sozinho.
Vinte e Duas horas, Conor liga para confirmar o endereço de Noêmia e parte para mais umas noite de encontro, embora estivesse excitado com o clima era uma coisa costumeira para ele, apanhou a moça em seu apartamento, e partiu em direção ao restaurante, durante conversas no carro o galã não perde tempo, elogia de mil maneiras diferentes a moça, enquanto ela se deixa levar na conversa do garanhão.
A noite estava nebulosa, propícia para o fim do mundo, mas o mundo só poderia acabar depois que Connor conseguisse chegar ao ouvido de Noêmia com o mais especial de seus poemas, realmente uma obra de arte tamanho o dom do homem, apesar de viver de números, Connor em seu tempo vago escrevia textos românticos pensando em cada oportunidade que pudesse falar com cada mulher diferente, ele poderia ser o mais doce do mundo quanto poderia fazer qualquer mulher perder o juízo com o mais quente dos versos, sabia explorar minuciosamente cada olhar oportuno, e não foi diferente com Noêmia, quando a moça levantou para ir ao toillet, Connor puxou seu braço e pôs suas mãos sobre seu rosto ficando frente a frente com aqueles expressivos olhos, olhos que pediam para ele ser o mais canalha possível, então ele elevou sua mão até a nuca da mulher e puxou-a levemente de encontro à seus lábios, deu um beijo para lapidar os sentimentos dela e partiu ao seu ponto predileto, o lugar de se dizer segredos.
Foi como falhar na cama, Connor chegou ao ponto principal da noite e ficou calado, nem ao menos suas batucadas de ritmação ao volante chegaram-lhe a cabeça, por um segundo ele perdeu os sentidos e dali para a frente ele preferia a morte, no momento as palavras se tornaram suas piores inimigas e sua mente lhe pregou uma terrível e imensurável peça, e o garanhão em frente de sua mais bela dama, se pôs em um desespero mudo até que Noêmia se retirasse das mãos dele com um simples beijo no rosto antes de partir para o banheiro. Tomado de decepção, Connor abandonou a moça deixando ao menos a conta paga, afinal ele havia pedido uma garrafa do mais refinado vinho para fazer um clima até chegar ao ápice, tomou seu carro em velocidade e desligou todos os meios que pudessem te achar, em alta velocidade, ele parte ferozmente para casa, onde lá finalmente ele cometeria sua vingança.
Vai até a cozinha, pega um cutelo e não se polpa da culpa de não ter registrado a sua mais bela obra prima, apanha por fim
uma indefesa folha de papel e em suas frágeis costas branca ele começa o ritual de brutalidade.

-Aqui jás uma história de amor

"Abandonou-me quando mais te necessitava
Fez-me perder toda a credibilidade
Minha conciência agora me castiga
Por isso que faço contigo essa maldade

Vou fazer você sofrer
Como se fosse um desespero mudo
Trancar essa letras num cofre,
Por cometer tamanho absurdo.

Fez minhas palavras de amor
Quando eu quis selar uma aliança
Calar-se e tremer e medo
Agora as uso para fazer vingança

Vingarei-me contra as palavras
Uma vingança que não tenho medo
E agora com esse cutelo de escrevo,
Trancarei-as para sempre,
Cortarei minha língua e meus dedos"


Com as frágeis costas sangrando, a folha agora sente as dores de uma decepção amorosa no qual um homem se desilude com as palavras deixando escarificado o mais puro sentimento de melancolia e uma literal dor, uma punição a si que jamais se curará, mas leia seu poema antes que ele se cicatrize.

WiLL Devillart

Publicado no Recanto das letras

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