terça-feira, 20 de julho de 2010

SAUDOSO RESGATE


O meu sonho resgatou
Uma saudosa lembrança
De uma época que passou
No meu tempo de criança
Foi quase realidade
Avistei minha cidade
Como foi antigamente
Quarenta aos depois
Ver a "terra do arroz"
Só pode ser um presente

Eu vi a lagoa cheia
Onde hoje é só asfalto
Depois eu vi a cadeia
Pôr cima daquele alto
Este sonho do passado
Com a saudade de lado
O tempo não paralisa
Meu sonho continuou
E ainda me levou
Na escola de dona Elisa

No sonho vi penitente
Se cortar na disciplina
Vi na rua São Vicente
Seu Sousa e a concertina
Eu vi até uma dança
Ali perto da matança
Animada pôr Bié
Ficou meio indefinido
Mas só achei parecido
Com dança de cabaré

Vi um jogo de gamão
de Léo e Zé Teixeira
Eu vi Bogim e Souzão
Fazer negócio na feira
Só virou um pesadelo
Quando vi o desmantelo
Da lagoa loteada
Tomaram posse indevida
Deixaram bem dividida
E São Raimundo sem nada

A luz era lamparina
Ou então lampião
Não havia cocaina
A droga da perdição
Não tinha água encanada
Tinha que ser transportada
Da velha lavanderia
Não se falava em rock
Ninguém morria de choque
Porque não tinha energia

No sonho eu fui a feira
Onde vi dona Zulmira
Depois vi Lula Goteira
Com uma banca de caipira
Vi Alenca e Barbinha
No café de Mariinha
Merendando tapioca
Na feira tinha de tudo
Eu vi até Zé do Mudo
Conversando com João Doca

Eu sonhava mas ouvia
Uma pessoa dizer
Que ia chegar o dia
De Várzea Alegre crescer
Era uma voz de verdade
Que falava da cidade
Com muita experiência
Mas esqueceu de falar
Que ia caminhar
Junto com a violência

VI padre Otávio rezando
Com a hóstia na mão
Dona Santa comungando
Mas não vi o sacristão
Foi porque seu Amadeu
Neste dia adoeceu
E teve que se acamar
Mas vi Raimunda Teixeira
Subindo aquela ladeira
Apressada pra rezar

Vi Caboclo do Rosário
Na calçada da usina
Assisti o aniversário
da Senhora Adelina
Vi o poeta Bidinho
Na farmácia de Nelinho
Pra tomar Injeção
Vi também Pedro Tonheiro
Quando contava o dinheiro
Da quermesse e do leilão

Este sonho tão gentil
Me deixou muito contente
Pois ele me conduziu
Pra capela de São Vicente
Lá eu vi José Joaquim
Sentado perto de mim
Sem perder a paciência
Vi chegar num animal
Meu avô Joaquim Piau
Que vinha pra conferência

Vi o velho Irineu
E Bastião Marinheiro
Vi o coronel Disceu
Que era o tesoureiro
Eu vi a cega Teresa
Sentada perto da mesa
Segurando uma bengala
Vi gente doando prata
Fiz a leitura da ata
No centro daquela sala

Vi também a procissão
No dia de São Raimundo
Uma fila de cristão
A maior que vi mo mundo
Uns carregava o andor
Com seu santo protetor
Padroeiro da cidade
Outros cantavam o hino
Enquanto batia o sino
No compasso da saudade

Também tinha um leilão
Gritado pôr Zé Sobrinho
Ele subia um capão
E um Garrafão de vinho
Dizia: - "É a sua vez
Dou-Lhe duas, dou-lhe três
Já está arrematado".
Depois mandava o dinheiro
Para o santo padroeiro
Sem faltar nem um trocado

Já que não vai retornar
O tempo maravilhoso
Quero voltar a sonhar
Esse "resgate saudoso"
quero falar nesta rima
Do velho carrossel Lima
Na festa de São Raimundo
Uma festa Colossal
Que não vejo outra igual
Em nenhum lugar do mundo

O sonho foi demorado
Foi até o outro dia
Deu pra ouvi um dobrado
Que mestre Antonio regia
A banda bem afinada
Na salva da madrugada
"ou bandinha pra tocar!"
Eu continuei sonhando
Porque estava gostando
Não queira acordar

Conheço a realidade
Do avanço do progresso
Mas sei que toda saudade
Atua no retrocesso
Sei que sonho é ficção
A mais eterna ilusão
Chega a ser um disparate
Mas meu sonho deixou
um desejo que ficou
deste SAUDOSO RESGATE.

Mundim do Vale

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