SEXTA - FEIRA 13

Eu vou contá sem cansêra
Cuma foi o meu disgosto
Uma infiliz sexta feira
Dia 13 de agosto.
Reparei no calendaro
Era meu anivesaro
Mais eu num tive aligria.
Quando eu puchei a tremela
Prumode abrir a jinela
Dei um jeito na bacia.

Fiquei mei atrevessado
Mais achei qui era bestêra,
Pruque tinha combinado
Ir pru samba da rebêra.
Incumedei uns sapato
Chico de Onorato
E uma rôpa a Seu Noza.
Quiria Sê o premêro
De entrá no samba facêro
Cum minha cabôca Rosa.

A calça ficô Forgada
Saiu o maió fracasso
brusa tão apertada
Qui num côbe nem meu braço.
E os sapato foi pió
Fizero os dois dum pé só
Mode aumentá a tristeza.
Ficô um Deus nos acuda.
Foi o jeito ir de bermuda
E chinela japonesa.

Fui buscá a minha Rosa
Ela num quis ir mais eu,
Eu inda dixe umas prosa
Mais ela fez poço deu.
Me chamô de atrivido,
Saliente e inxirido,
Cunvesadô de bestêra.
Mandô eu me arritirá
Dizendo qui tinha um pá
Prumode ir pra rebêra.

Saí de lá tão sem graça
Qui deu inté tremedêra
Aí fui tumá cachaça
Na budega da rebêrra.
Tira gosto de buchada
Cum tripa de poico assada,
Eu cumi feito a mulesta.
Dispois de umas e ôta
Deu a vontade da gôta
De ir vê Rosa na festa.

A ora mais dolorosa
Qui chega dueu a vista
Foi quando eu avistei Rosa
Agarrada cum um cambista.
Quando eu entrei no salão
Sinti logo um frivião
Num deu mode sigurá.
Notei logo uma quintura
E a catinga de fussura
Tumô conta do lugá.

Quando o cambista me oiou
Quage eu dava uma pilôra,
A bermuda se rasgou
E eu tava sem cirôla.
Dixero: - Agarra o safado!
Prumode ele sê capado,
Pra deixar de sê cagão.
Meu coipo era só firida
E eu num achava a saída
Mode corrê pru oitão.

Era eu passando mal
E eles cum raiva deu,
O cambista cum um pau
Nessa ora apareceu.
Dispois iscutei um grito:
Essa banda de cambito
Já sei onde vô metê.
Aí fiquei maginando:
Se fô onde eu tô pensando,
É mais mió se iscondê

Me iscundi detrás dum muro
Mode me aliviá
Saiu do mei do munturo
Lacráia e cobra corá.
Risuvi dá um pinote
Bati cum a testa num pote
Qui dueu a natureza.
Intrupiquei num tijolo
Aí quebrou-se o bidôlo
Da chinela japonesa.

Eu vi qui tava acuado
Quis me assubi num paiol
Um dixe: - Pega o tarado!
Qui eu infío o guarda-sol.
Aí frexei pra cunzinha
Disviei duma quartinha
E me assubi no fugão.
Chegõ o nêgo Dudu
Dixe: - O cabra já tá nu
Vô metê esse tição.

Nessa hora meu patrão!
Parece qui criei asa
Avuei desse fugão
Inté inriba da casa.
Aí eu pensei cumigo
Aqui num corro pirigo
Tando inriba dessas têa.
Mais era coisa do diabo
Apois eu tava assentado
Num inxame de Abêa.

Foi aí qui fiquei fraco
Deu vontade de chorá
Adonde tinha um buraco
As bicha quiria entrá.
Só me livrei das abêa
Quando me deitei nas têa
E butei as mão na cara.
Mais iscutei a cunveça:
- Se o cabra iscapá dessa,
Nóis apara ele na vara.


Eu ispiei um momento
Assim mei discunfiado
Eles tava tudo atento
Cum os pau alevantado.
Aí peguei um cupim,
Qui tinha perto de mim
E rebolei na cambada.
Eles saíro correndo,
Se coçando e se trocendo
E eu pinotei na calçada.

Foi tão grande a curriria
Cum medo daqueles macho
Qui isquicí a trivissia
E fui cair no riacho.
No mei daquele aperrei
Bem distante eu iscutei
Uma voz assim falá:
- Sô seu anjo guardião,
Mais você vai pru caixão
Pruque eu num sei nadá.

Nesse dia meu patrão!
Acho qui Deus me isqueceu,
Inté anjo guardião
Tava tombém contra eu.
Eu consigui me apiá
Num tronco de jatobá
E até fiquei cum mais fé.
Mais foi pôca a aligria
Inriba tava a rudia
Duma cobra cascavé.

O susto foi tão danado
Qui eu fui batê na barrêra
Caminhei cum mais coidado
Pra num fazê mais bestêra.
Saí pensando cumigo
Se isso foi um castigo
Eu já mereço o perdão.
Mais num é bom cunfiá,
Pode sê qui esse azá
Seja tentação do cão.


Eu num dixe nem adeus
Saí de lá foi correndo
Hoje eu agradeço a Deus
Tê iscapado fedendo.
Mais eu fui iscurraçado,
Ofindido e omilhado ,
É pur isso o meu disgosto.
Pirdí a Rosa Brejêra,
Nessa dita sexta fera

DIA 13 DE AGOSTO.

Mundim do Vale


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