A TRISTEZA

Há um misto de encanto e poesia. De música e alegria na tristeza. Triste é o crepúsculo, agonia do dia que morre, envolto em franjas de rosicler e debuxos de luz, coada nos vitrais das nuvens. Triste é a violeta sem espinhos e maldade para ferir, e perfume para atrair. Tristes são as águas do lago, que choram não deslizarem pelo macio leito dos rios e cantarem juventude nos saltos das cachoeiras. Triste é a voz de bronze dos sinos, na hora mística das Ave-marias. Triste é a solidão das montanhas, vestidas de azul e toucadas com capulhos de neve.
Até parece que as cousas mais belas e espirituais da natureza são tristes. A tristeza nasce da consciência íntima e profunda das cousas. Triste é o filósofo concentrado, em seu gabinete, na decifração de enigmas. Triste é o artista preocupado em traduzir, no mármore, na tela ou em harpejos, os esboços e idéias do seu espírito. Triste são os santos que meditam e os crentes que rezam. Tristes, as crianças que não são amadas e as mães que amam muito.
A lagrima, irmã da tristeza é pérola e diamante. Nada existe maior, sobre a terra, que aquela gota d’água que rola pela planície do rosto que sofre. Nem o oceano, em toda a sua imensidão, é do tamanho de uma lagrima. Nem o universo inteiro pesa tanto como uma lagrima.
O cristianismo nasceu das lagrimas do Calvário, que se cristalizaram em luz e perfume, na face de Maria santíssima. A arvore da cruz, cujas frondes penetram os umbrais da eternidade, foi regada de lagrimas, no pranto de três mulheres.
A tristeza é um sacramento de que as lagrimas são a extrema-unção. Purifica e redime. Não há culpa, por grande que seja que uma lágrima não limpe. As lagrimas da penitencia iluminaram os caminhos dos grandes pecadores e os transformaram nos maiores santos.
As pessoas tristes são sacerdotes que celebram rituais de penitencia, nos altares da alma, onde as lagrimas são perenes votivas a Deus.

Padre Vieira

Escritor de Várzea Alegre Ceará texto do seu livro “sem cortes sem recortes”.