domingo, 27 de fevereiro de 2011

Gêmeos


Escrevi em linhas dóceis minha viagem
Travestido de poeta não sou eu
Minha escrita é terna
Meu falar é duro
Meu dizer é praga
Meu contar é puro
Meu viver é meta
Meu olhar escuro

Sou mistura e como mistura me perco
Ai de mim, sôfrego ser
Hora homem que cala
Hora poeta que escala
A tortuosa pedra do não ter
Nem força, nem coragem
De ser um só

Pudera eu fosse feito passarinho
E nascer alado, livre, único
Mas não

Sou gente inquieta
Tal qual o bicho

E na impossibilidade de voar
Na latência de sonhar
Desdobrei-me em dois
O poeta que por vezes vai embora
E o menino que por sua falta chora

Rafael Cury

http://rafaporelemesmo.blogspot.com

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