terça-feira, 29 de março de 2011

POBREZA: JESUS MENDIGOU?


(Ajuda para sua pregação)


Na história da exegese bíblica (explicação ou interpretação minuciosa e esclarecedora de uma palavra, de um versículo ou de um longo trecho da Bíblia), há um versículo, entre milhares de versículos estudados pela exegese, que tem suscitado uma curiosa polêmica entre os eruditos e estudiosos da Bíblia, ao longo dos séculos.
É o versículo 9 do capítulo 8 da Segunda Carta de Paulo aos Coríntios: “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis”.
A polêmica foi causada pela expressão se fez pobre. Tudo começou quando os dois maiores pregadores e intérpretes bíblicos da língua grega, mundialmente respeitados e aclamados como doutores nas ciências bíblicas, João Crisóstomo (349-407) e Gregório Nazianzeno (329-389), afirmaram que o mais entranhado e profundo significado da expressão que em português foi traduzida como se fez pobre, é mendigou.
Já prevendo a reação que essa afirmação iria causar em todos os setores da Igreja e em todas as épocas, esses dois teólogos, que conheciam profundamente a língua materna deles, o grego, e a grande riqueza do contexto bíblico neotestamentário no qual tinha vivido o apóstolo Paulo, esclareceram que afirmar que Jesus mendigou não era o mesmo que dizer que Ele pediu esmolas para ter com que se manter.
Portanto, Jesus jamais mendigou no sentido em que todos nós entendemos o que é mendigar, pois os evangelhos deixam bem claro que o nosso Salvador, até a idade de 30 anos, viveu da profissão que aprendera com José, a de carpinteiro, conseguindo com esse ofício o seu sustento com o trabalho de suas próprias mãos.
E quando iniciou seu ministério de pregação, passou a receber ajuda financeira de várias pessoas, especialmente das mulheres. Elas sustentavam o ministério do Senhor Jesus, conforme registra o evangelista Lucas (Lc 1.26-30). Portanto, Jesus não precisou mendigar, conforme o significado comum dessa palavra.
Ora, se Jesus não necessitou pedir esmolas para se sustentar, o que Ele teria mendigado? Eis aí um altíssimo mistério relacionado à nossa salvação. E foram esses mesmos dois maiores luminares da teologia grega, Gregório Nazianzeno e João Crisóstomo, que nos deram a melhor resposta e esclarecimento sobre a questão. Por serem gregos, puderam penetrar a força e a riqueza de significado do texto escrito em sua própria língua. Eis o que disseram:
O Filho de Deus não só se fez pobre para nos tornar ricos, mas humilhou-se a ponto de mendigar. Mendigar o quê? Mendigar nossa carne e nosso sangue.
Antes de tornar-se um de nós, Jesus era Espírito. Para nos resgatar, era necessário que Ele sofresse na carne as consequências dos pecados que nós havíamos cometido na carne. Nosso resgate exigia preço de sangue. Jesus não tinha sangue. Portanto, por não ter carne e por não ter sangue, Ele mendigou, pediu emprestado à nossa natureza a carne e o sangue que não tinha, para nos resgatar na cruz do Calvário e nos enriquecer com Suas infinitas riquezas divinas e celestiais que não tínhamos.
Devido ao pecado de Adão, a humanidade estava prisioneira do pecado e pobre. Como cativa, gemia no cativeiro; como pobre, não tinha recursos para pagar seu próprio resgate. E qual seria o preço desse resgate? O sangue do Unigênito Filho de Deus, conforme estabelecera a Justiça Divina. E é aqui que entre o termo mendigar.
Não dispondo, nem podendo dispor, enquanto Deus, do valor decretado para realizar nosso resgate, Jesus mendigou (pediu, pegou emprestado) à natureza humana, a carne e o sangue, que uniu à sua Pessoa divina.
Com isto, conforme comentou altissimamente o apóstolo Paulo, nós, que éramos cativos e pobres, com a pobreza e mendicância de Jesus, tornamo-nos livres e ricos. Jesus, mendigando como pobre, obteve o necessário para realizar a nossa redenção. Com o que adquiriu de sua mendicância, nos remiu.
Portanto, na obra de Redenção da humanidade, que foi a maior demonstração do amor divino (João 3.16), Deus não se contentou só em dar o que tinha, mas também mendigou o que não tinha, para também os dar. Deu a Sua Pessoa divina, que era o que tinha, e mendigou nossa carne e nosso sangue, que era o que não tinha, para os apresentar ao Pai como preço de nossa Redenção.

Jefferson Magno Costa

http://jeffersonmagnocosta.blogspot.com

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