sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Morte Devagar


> Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca
> de discurso, evita as próprias contradições.
>
> Morre lentamente quem vira escravo do hábito,
> repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas
> compras no supermercado. Quem não troca de marca, não
> arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não
> conhece.
>
> Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e
> seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro
> ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda
> assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz
> informação e entretenimento, mas que não deveria,
> mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em
> uma vida.
>
> Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o
> preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de
> emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho
> nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços,
> sentimentos.
>
> Morre lentamente quem não vira a mesa quando está
> infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo
> incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma
> vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
>
> Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não
> ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
>
> Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode
> ser depressão, que é doença séria e requer ajuda
> profissional. Então fenece a cada dia quem não se
> deixa ajudar.
>
> Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda,
> e na maioria das vezes isso não é opção e, sim,
> destino: então um governo omisso pode matar lentamente
> uma boa parcela da população.
>
> Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má
> sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto
> antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto
> que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o
> que sabe. Morre muita gente lentamente, e esta é a
> morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se
> aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados
> para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã,
> portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que
> não podemos evitar um final repentino, que ao menos
> evitemos a morte em suaves prestações, lembrando
> sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do
> que simplesmente respirar.

enviado por Klébia Fiúza

Nenhum comentário:

Postar um comentário