sábado, 11 de junho de 2011

Propaganda enganosa *




Essa História é verdadeira,

Ouvi lá no meu salão.

Enquanto estava cortando

A juba de um cidadão.

Que morou lá em são Paulo

No bairro da Aclimação.

*

Garçom era a profissão,

Do cidadão que eu citei.

Só não digo o nome dele

Porque juro que não sei.

Mas o que Ele me contou

Prometo que contarei.

*

Eu quase que defequei

De tanto rir com o cara.

Quando contou o desfecho

Meu riso quase não para.

Com o que a televisão

Fez com aquele pau-de-arara.

*

Trabalhando em Jabaquara

Em um fino restaurante.

Quando Record foi gravar

Uma cena importante

E me convidou pra ser

O garçom e o figurante.

*

Aceitei e num instante,

Assinei o meu contrato.

Cachê: quinhentos reais,

O pagamento no ato.

Folgava o resto do dia,

Com quinhentão, de gaiato!

*

Comprei roupas e sapato,

Caprichei no visual.

Ensaiei mais que os atores,

De um papel principal.

Pensei: dessa vez eu entro

Pro cenário nacional!

*

Ou quem sabe mundial,

Talento eu tenho, isso é certo.

Vai que a minha estrela brilha

E a TV do seu Roberto

Descobre o dom que eu tenho...

Hoje eu vou ser descoberto.

*

Acho bom ficar por perto

Dos atores da novela.

Fazendo alguns contatos

E aparecendo na tela.

Assim vejo de que lado

A minha face é mais bela.

*

Um maquia, outro pincela...

É hora, vamos gravar!

Assim grita o diretor

Prontos, vamos começar?

Luzes, câmeras, ação...

Parou! Podem retornar!

*

Eu tinindo e sem errar,

Só os outros que erraram.

O diretor gritou bravo,

“O que vocês ensaiaram!”

Vamos outra vez, gravando!

Até que enfim, acertaram!

*

O meu cachê me pagaram

E entregaram-me um cartão.

Escrito a hora que eu ia

Sair na televisão.

Agradeceram e disseram:

Mandou bem na profissão.

*

Avisei pro meu irmão,

Que avisou para mainha,

Que avisou para papai,

Que avisou para vizinha.

Que em menos de uma hora

Avisou toda a terrinha.

*

Comprei cerveja em latinha,

Carne de gado e leitão...

Convidei o bairro inteiro

E aluguei um telão.

Pra ver o garçom famoso

Passar na televisão.

*

Ganhei apertos de mão

De quem eu nem conhecia.

Estourei o meu cartão

De credito na padaria.

Pra abastecer o freezer

De coisas que eu não podia.

*

Um dizia: hoje é seu dia,

Você vai ficar famoso.

Outro elogiava a carne,

“Oh churrasco saboroso!”

E eu ficando endividado,

Por dá uma de gostoso.

*

O meu pai ligou nervoso,

Meu filho vai ou não vai?

Tem certeza que você

No capitulo de hoje sai?

Respondi, é hoje sim,

Gravei dez cenas meu pai.

*

Minha mãe num ai, ai, ai,

Também diz que convidou

Toda a sua vizinhança

E um churrasco improvisou.

Pra ver o filho famoso

Que a televisão lançou.

*

Meu irmão também ligou

A cobrar e a ligação.

Foi em horário de pico,

De são Paulo pro Sertão.

De orelhão pra celular

Pra lascar mais seu irmão!

*

Um gritou lá no salão,

Corram que vai começar!

Comecei a suar frio,

A tremer e gaguejar.

Mas já estava gravado

E eu só tinha que esperar.

*

Todos procuram um lugar,

Perto do grande telão.

Escolhi o melhor anglo,

Pra ver minha aparição.

Mal sabia eu que ia

Ser uma decepção!

*

Mostraram só minha mão

Com uma água mineral.

Na hora eu não desmaiei,

Mas fiquei passando mal.

Pensando no que gastei,

Com comida e visual...

*

Levei uma vaia geral

E o nome de bobão.

Só se ouvia o quebra-quebra

De lata e copo no chão.

E eu sentindo as facadas

Das parcelas do cartão!

*

Toda aquela enganação

Também teve um lado bom.

Porque agora eu já sei

O meu verdadeiro dom.

Que é servir sem ser servido,

Trabalhando de garçom.

*

Deixe-me ser feliz com

A fama que eu não tenho.

Meu trabalho me completa,

Isso pede o meu empenho.

A propaganda enganosa

Ocultou meu desempenho!

*

Fim.

Autor: Damião Metamorfose.

Nenhum comentário:

Postar um comentário