Sr. João Gonçalves Neto
Por certo foi batizado
Com alcunha João Mandu
Como sempre foi chamado
Foi nascido em Várzea Alegre
Nas margens do Rio Machado
Um cidadão exemplar
Com pouco tempo de escola
Logrou muitos resultados
Cantor sem tocar viola
Cultura e lição de vida
Continha em sua sacola
Tirou conta de tarefa
Com isso não se conteve
aprendeu ler e contar
Bom resultado obteve
Com suas cartas escritas
Obstáculos nunca teve
Fez as quatro operações
E foi muito salutar
Somar e diminuir
Dividir e multiplicar
Graças a sua palmatória
Eu aprendi a soletrar.
Bom dia minha querida
Boa tarde minha amada
Boa noite meu amor
Assim trilhou a sua estrada
Se levou lição de vida
Não ficou devendo nada
Com sua esposa Maria
Conviveu sem desenganos
Tratar bem e ser tratado
Sempre esteve nos seus planos
Quem teve uma vida dessas
Viveria mais cem anos
Viúvo assim que ficou
Do primeiro casamento
Ela também já viúva
Houve um comprometimento
E assim foram felizes
Conforme seu pensamento
Do primeiro matrimônio
Onze com Dora nasceram
Embora só tenha cinco
Porque seis faleceram
Mais deixei-os pra Maria
Porque todos mereceram
Quando foi pra me casar
Minha fortuna era rara
O meu pai me perguntou
Como é que você se ampara
Aí eu respondi
Com a coragem e a cara
Sei que és trabalhador
Mas pode ta enganado
O meu pai já retrucou
Isto às vezes dar errado
Fui começar com a minha
E estou todo arranhado
Quase com dezoito anos
Eu e a Dora nos casamos
Só tivemos onze filhos
Mas com muito amor criamos
Cada qual com seu talento
Um a um os destacamos
Hoje tudo está mais fácil
Para os filhos e para os netos
Conforme vocês já viram
Tou deixando alguns bisnetos
E pra quem desconhecia
Fica até tataranetos
E para Maria eu disse
Que filho nunca os teriam
Se não pude lhes dá tudo
Mas sei que os receberiam
Pois de fato lhe ofereço
Todos que me restariam
Deixei quatro gerações
Cada uma seu modelo
Volte sempre a minha casa
Mais trate com muito zelo
E volte bem humorado
Isento do meu apelo
Vá ao Umari olhar
Desfrute do panorama
Vá também ao Gravier
E lá curta o seu programa
Viva e traga o que puder
E ofereça a quem ama
Vão lá para relembrar
O velho engenho famoso
Mas não o engenho velho
Onde o povo era maldoso
É um engenho de verdade
Onde tudo é saboroso
O grito das engrenagens
Com seu gemido saudoso
E a garapa escorrendo
Produz alfenim cheiroso
Mel, rapadura e batida
Tudo é muito saboroso
No campo tem tudo isso
O que é ruim é descartável
Porém o que é precioso
Sempre é bem aproveitável
Faça igualmente a um boi
Que ele é auto-limpável
Venha sempre usufruir
Curta do alto a cidade
Aqui tudo é tão bonito
Por enquanto é só bondade
Veja sempre com bons olhos
Pra não semear Maldade
Sinta o perfume das flores
Pelo vento carregado
Os arvoredos nutridos
Pelos orvalho aguado
Só não quero ver discórdia
Do pouco que foi legado
Portanto não quero arenga
Eu vou sempre contestar
Ao contrário, eu peço sempre
Que venham aqui desfrutar
Viver bem com harmonia
É muito mais salutar
Não questionem por bens
Estes são futilidades
O que vale é ser feliz
Amor sem qualquer maldade
Quem planta o bem com presteza
Só tende a colher bondade
Só traga aqui coisas boas
Leve os fluídos do lugar
Mas não deixe coisas ruins
Para não se castigar
Somente os frutos do bem
São dignos de propagar
Toda prole que deixei
Se acham bem arranjados
Comerciantes, empresários
Alguns até são formados
Bens materiais que deixei
Tem poucos significados
Pra os filhos deixei a luz
Que serve como coroa
Num tombo duro da vida
O paletó abotoa
Pode vir morar comigo
Que encontrará coisa boa
Minha Maria lhe peço
Cuide de nosso Trigueiro
Você a melhor amiga
O cão grande companheiro
Quando precisei dos dois
Sempre chegavam ligeiro
Conviva bem om meus filhos
Tal qual faz um conselheiro
Comungando com a paz
Como do amor primeiro
Ore por nossas famílias
No meu adeus derradeiro
Para que eu fique feliz
Recomendo aos filhos meus
Conduzam as suas vidas
Educando os filhos seus
Filhos que atendem ao pai
Recebem a bênção de Deus.
José Gonçalves de Sousa (Gonçalves)
*Cordel que ele fez homenageando ao seu pai João Gonçalves Neto (João Mandu do Saco) falecido em 06/08/2011. Cordel muito bem elaborado, da qual João Mandu sendo primo legítimo de minha mãe, e o intuito de meu blog é divulgar os poetas novos de minha terra então divulgo esse bonito cordel.
João Gonçalves Neto
*25/11/1919
+06/08/2011
Israel, o Gonçalves como nós chamamos é um grande amigo. Eu não sabia que ele era poeta. Fiquei surpresa com a beleza do cordel.
ResponderExcluirParabéns a ele e a você que posta essas maravilhas.
O texto que postei que fala da Rural, a rural era de Seu João Mandu e o motorista era o Gonçalves.