Manuel de Abreu
Abreugrafia é o nome dado no Brasil a um método rápido e barato de tirar pequenas chapas radiográficas dos pulmões, para facilitar o diagnóstico da tuberculose, doença mortal. O teste, que registra a imagem do tórax numa tela de raios X, espalhou-se pelo mundo.
O inventor do exame, Manuel Dias de Abreu, foi indicado ao Nobel em 1950 e teve o invento batizado em sua homenagem aqui no Brasil. Em outros países o exame recebeu nomes como: "schermografia" (Itália), "roentgenfotografia" (Alemanha) e "fotofluorografia" (França). No Brasil, comemora-se no diaQuatro de janeiro (04/01) o "Dia Nacional da Abreugrafia".
Manoel Dias de Abreu foi o inventor da abreugrafia que revolucionou o diagnóstico e tratamento da tuberculose, através de um método de diagnóstico coletivo e o primeiro no mundo a falar sobre Densitometria Pulmonar.
O papel social da ciência era algo claro para Abreu: "No valor da ciência, está o valor da vida; fora da vida, a ciência não tem amenor finalidade". Abreu escreveu poesias e trabalhos em filosofia, além de inovar em outras áreas fora da medicina, como em hidráulica. Em Manuel de Abreu, observa Barros Vidal, lampejava "esse gênio de múltiplas formas, que fazia a grandez do sábio, alimentava a inspiração do poeta e dava originalidade e profundeza ao filósofo".
Não raro se encontra o poeta e o cientista como no momento em que descreve a emoção que experimentou ao contemplar os primeiros resultados daquilo que perseguia com tenacidade por anos: "no fime revelado estavam as primeiras fluorografias; olhei-as longamente; eram flores para mim, eram pássaros, cantavam um canto matinal que me extasiava".
Manoel de Abreu foi o terceiro filho do casal Júlio Antunes de Abreu, português da província do Minho, e Mercedes da Rocha Dias, natural de Sorocaba. Nasceu em São Paulo a 4 de janeiro de 1892. Diplomou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1913 e defendeu tese de doutoramento intitulada "Natureza Pobre", relativa à influência do clima tropical sobre a civilização, em julho de 1914. Nesse mesmo ano, deixa o Brasil acompanhado de seus pais, seu irmão Júlio Antunes de Abreu Júnior e sua irmã Mercedes Dias de Abreu, com destino à Europa, a fim de aperfeiçoar-se nos hospitais de Paris. A primeira Grande Guerra obriga-os a desembarcar e permanecer em Lisboa até o início do ano de 1915 quando, enfim, a família Abreu chega à capital da França. Seu primeiro contato com a medicina francesa foi no "Nouvel Hôpital de la Pitié", mais precisamente, no serviço do professor Gaston Lion. Encarregado de fotografar peças cirúrgicas, Manoel de Abreu demonstra engenhosidade e constrói um dispositivo especial para obter fotografias da mucosa gástrica. Além do aparelho, Abreu tem a idéia de mergulhar as peças a serem fotografadas, na água, visando à uniformização da superfície faiscante.
Uma das primeiras radiografias feitas por RöntgenFoi entre as paredes do Hôtel-Dieu, no ano de 1916, que o jovem brasileiro despertou para os encantos da emergente radiografia, especialidade criada por Roentgen em 1895, cerca de vinte anos antes. Uma das mais espetaculares e influentes invenções, o aparelho de radiografia, inventado pelo físico alemão Wilhelm Röntgen, em 1895, revolucionou a medicina ao permitir que os médicos obtivessem imagens não invasivas do corpo dos pacientes, ou seja, sem precisar abri-los. Milhares de diagnósticos se tornaram possíveis, desde fraturas até tumores, úlceras e distúrbios das veias e artérias.
Mas até os tempos de Abreu, os médicos não utilizavam radiografias com fins de diagnósticos, confiando apenas no método de percussão e auscultação, com uso de estetoscópio. Radiografias chegavam a ser utilizadas com fins de diversão. A primeira radiografia foi realizada no Brasil em 1896. A primazia é disputada por vários pesquisadores: Silva Ramos, em São Paulo; Francisco Pereira Neves, no Rio de Janeiro; Alfredo Brito, na Bahia e físicos do Pará. Como a história não relata dia e mês, conclui-se que as diferenças cronológicas sejam muito pequenas. Em 1897 um rico comerciante de Recife, capital de Pernambuco, importou um aparelho para fazer, em suas festas, radioscopias das mãos das senhoras da Sociedade local.
No seu livro, o doutor Itazil dos Santos narra com rara felicidade o fascínio que causou em Manoel de Abreu, em 1916, o inesperado diagnóstico radiológico de tuberculose em doente cujo exame propedêutico clínico, realizado pelo chefe do Serviço, o professor Gilbert, nada havia revelado de anormal: "Feita a chapa, Abreu levou-a -ainda molhada e prêsa aos grampos com os quais deveria voltar à solução fixadora,- a seu mestre....Tomando a chapa nas mãos, Gilbert suspendeu-a em face da janela, para examiná-la por transparência...Não pôde esconder mais do que a sua surprêsa, o seu espanto, ante o quadro que se lhe deparava aos olhos, de uma tuberculose avançada, complicada de piopneumotórax....aquela contradição entre o achado clínico e o achado radiológico era resultante da transição que experimentavam os conhecimentos médicos na ocasião...a radiologia ensaiava seus primeiros passos...para êle, Abreu, aquela contradição chocante, entre a estetacústica e a radiologia, teve uma grande significação." Esse acontecimento provavelmente contribuiu para que o jovem médico brasileiro se inclinasse definitivamente para a radiologia.
O professor Gilbert viria a aproximar Manoel de Abreu da promissora especialidade ao confiar-lhe a chefia do Laboratório Central de Radiologia do Hôtel-Dieu, ocupando o posto do Dr. Guilleminot, afastado para servir na Grande Guerra. Guilleminot relata a Abreu suas pesquisas em radiocinematografia indireta, assinalando que seu êxito definitivo dependeria de obter ecrans de maior fluorescência (as imagens não tinham muita definição), emulsões fotográficas mais sensíveis e objetivas de abertura maior. Não pensava Abreu ainda na fluorografia, na fotografia do ecran como solução para o exame coletivo "Há certas criações do pensamento que somente se realizam numa encruzilhada. No caso da fluorografia em massa, a idéia nasceu do encontro da fotografia da imagem fluorescente e do diagnóstico das afecções toráxicas. Quando ambos atingiram a plenitude no meu pensamento, eu teria encontrado a chave do recenseamento em massa das populações"
O terceiro nosocômio que freqüentou em Paris foi o Hospital Laennec , desta vez como assistente do professor Maingot. Lá, aperfeiçoou-se na radiologia pulmonar e desenvolveu a densimetria, isto é, a mensuração das diferentes densidades. O tom, a densidade, a tonalidade das sombras ou imagens, não haviam sido ainda devidamente valorizados. Não haviam sido ainda convenientemente pesados como elementos de apreciação das mesmas. Coube a Abreu o mérito de salientar a importância da tonalidade da sombra pulmonar, como um elemento indispensável à própria caracterização da imagem radiológica. Ao invés de termos vagos, imprecisos, para exprimir as diferentes nuances de tonalidades das sombras, dever-se-ia fazer a mensuração delas e exprimi-las em graus.
Para tanto utiliza o cm3 de água como unidade densimétrica, como elemento de comparação, pela razão de que água apresenta uma opacidade quase idêntica à dos tecidos orgânicos. Faz então a mensuração da densidade por dois modos: servindo-se de um dispositivo contendo uma sequência de lâminas de prata correspondente, densimetricamente, a uma gradação de 1 a 30 cm3 de água. desse dispositivo, ajustado sobre o tórax, obtinham-se simultaneamente, ao fazer a radiografia do paciente, as imagens a ele correspondentes. Por comparação da tonalidade da sombra radiológica em questão com aquela projetada pela escala de lâminas de prata, fazia a sua densimetria. O segundo modo consistia em compara a densidade da imagem com a opacidade de determinados reparos anatômicos (ósseos ou não) cujo valor densimétrico fora estimado previamente, em relação aos valores da escala de lâminas prata. Esse trabalho intitulado "Densimetria Pulmonar", levou Abreu à Academia de Medicina de Paris.
A frequencia ao Hospital Laennec proporcionou a Abreu o convívio com personalidades de projeção na época, da medicina torácica e pulmonar, entre as quais Rist, Leon Bernard, Ameuille, Kuss. Ao pensar nas vantagens da sistematização dos quadros da radiologia pulmoar da tuberculose, Abreu, sobrepondo-se à sua época e à fase de evolução que atravessava a radiologia entrevê na fotografia (filme pequeno de 36 mm) da radioscopia do tórax (ecran, 30 x 40 cm) o meio exequível de realizar em massa o exame de tórax, em tempo mínimo e por baixo custo. Foi também no hospital que leva o nome do inventor do estetoscópio que visualizou pela primeira vez na fotografia do "écran" fluorescente o meio de realizar exame do tórax em massa e por baixo custo com a finalidade de detectar precocemente a tuberculose pulmonar. Infelizmente, obstáculos técnicos o impediram de desenvolver a abreugrafia já em 1919: "a luminosidade muito fraca da fluorescência do ecran está longe de ser suficiente para impressionar os ceclulóides com sais de prata em tão mínima fração de segundo; tal é, pelo menos, o resultado de nossas experiências".
Fonte Wikipédia e http://www.portalsaofrancisco.com.br
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