Estava na fila de ônibus, triste como os demais passageiros, sem saber o que fazer. Olhava para um lado e outro, na direção de onde deveria surgir o ônibus, mas nada. Tudo parado! Na fila ninguém falava. Mas quantos pensamentos naquelas cabeças. A preocupação de chegar para o almoço, de não perder a aula. Deus sabe o que cada um pensava.
Ao meu lado, duas moças conversavam banalidade, de cinemas , modas e casamento. Que mocidade feminina tem o nosso país? O Brasil espera grandes sacrifícios de cada um de nós, e no entanto, perdemos o nosso tempo em futilidades. Felizmente já se processa uma revolução na mulher brasileira. O exemplo que nos legaram as enfermeiras, que acompanharam os nossos soldados ao "front" italiano, ficará na história da pátria como testemunho vivo da capacidade heroica da nossa raça. Olhem estas moças fúteis para o sacrifício dos nossos soldados e das suas companheiras de luta na Europa e se dediquem mais ao trabalho e a algo construtivo.
Chega o ônibus e a fila entra silenciosa e vagarosamente no carro. Como corria veloz aquele ônibus pela ruas da nossa cidade, assim também fogem, bem depressa, as nossas palavras. Ficarão somente aquelas que serviram para diminuir a miséria do pobre ou melhorar a vida da nação.
Escrita em 20/04/1945
Ari de Sá Cavalcante
Do seu livro "Para ler no Bonde" página 229
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