quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

FREI DAMIÃO


Darei notícias em outra crônica
Sofri muito advogando para pobres: não lembro de ter encontrado juiz nem promotor que se compadecesse do estado de necessidade de tais pessoas. Uma vez ou outra promotor deu parecer em tempo e juiz despachou com presteza, porém assim fizeram mais por atenção a mim, que não importuno, do que pelo sofrimento do coitado. Não fizeram justiça. Fizeram favor.

Não fizeram justiça. Fizeram favor (crônica de 24.03.09)

Muitas pessoas diziam, e ainda dizem, que Frei Damião de Bozzano era um frade tão atrasado, que foi exportado para o Brasil para viver entre pessoas ignorantes: “Tudo que ele sabe é ameaçar de inferno quem vive amancebado.”

No Brasil, como na Europa, a pregação católica era esquentada pelo fogo do inferno, que parecia devorar a todos que não vivessem corretamente na fé cristão, e os que estivessem fora da Igreja Católica Apostólica Romana.

Nascido em Bozzano em 05.11.1898, Frei Damião chegou ao Brasil nos começos de 1930. Faleceu em Recife em 31.05.1997, com sessenta e sete anos de chão brasileiro.

De tempos em tempos, o pequenino santo homem Frei Damião vinha a Juazeiro do Norte, segundo o roteiro dado às santas missões, que eram a cara dele.
Aqui, como em qualquer parte, o povo “adorava” Frei Damião, que levava multidões de católicos à igreja em que pregasse e ouvisse confissões.

Tia Nega, que morava na Rua Dom Pedro II, quase na Igreja de São Francisco, era das fiéis que lhe não saíam do pé, enquanto ele não lhe fosse a casa dar uma bênção e uma bênção a ela e ao marido, Manoel Henrique.

E lá ia o santo homem, às vezes no pingo do meio-dia. Nunca sem multidão de pessoas.
Tínhamos um comerciante vaidoso, rico, na época. Na Fazenda Coité, entre Juazeiro do Norte e Caririaçu, Jenário Oliveira fazia questão de hospedar Frei Damião, que aceitava o convite, com censura de muitos católicos: “Frei Damião condena amancebado e vai ficar na casa de Jenário, um cabra raparigueiro daquele!”

Certa noite, muito tarde, Jenário ou algum curioso da casa da fazenda, estranhando o comer quase nada do padre, a humildade das roupas, a esquisitice dele, ousou olhar pela fechadura da porta do quarto onde ele dormia e o viu deitado no chão duro: “É doido!”

Eu tinha vontade de ler alguma coisa escrita por Frei Damião. Um amigo me disse ter Em defesa da fé, livro fora de circulação. Comprei-o num sebo pela Internet e o li. É a minha última leitura do ano, da qual darei notícias em outra crônica. (14.12.10)

Por Assis Ferreira

http://blogdojuazeiro.blogspot.com

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