quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Cristãos afirmam que independência do Sudão do Sul é cumprimento de profecia descrita na Bíblia
Para os cristãos do recém-formado Sudão do Sul, a oportunidade de tornar-se independente da maioria muçulmana do norte é mais que um dos termos do acordo de paz de 2005, que encerrou uma guerra civil de duas décadas. Trata-se da vontade de Deus para cumprir uma profecia do capítulo 18 do livro do profeta Isaías.
A independência de sua nação teria sido anunciada na Bíblia mais de 2.000 anos atrás, em uma das várias passagens que se refere à terra de Cuche, e os descreve como pessoas de estatura elevada e pele lisa, cuja terra os rios dividem.
“Lemos muitas vezes esse texto bíblico no domingo”, disse Ngor Kur Mayol, imigrante sudanês residente nos EUA que votou no referendo realizado no início deste mês para decidir a independência. ”O texto menciona muito a maneira como estávamos sofrendo durante tantos anos e como esse sofrimento irá terminar depois que votamos pela independência.”
A interpretação não é de todo inverosímil, defende o professor Ellen Davis, da Escola Teológica de Duke, que tem colaborado desde 2004 com a Igreja Episcopal do Sudão a fim de reforçar a educação teológica naquele país .
“Não há dúvidas que Isaías 18 fala sobre o povo do Alto Nilo. Realmente está falando sobre o povo sudanês”, explica Davis. Segundo ele, a crença na profecia é quase unanimidade entre os cristãos daquele país.
“De modo geral, os cristãos sudaneses creem muito mais que a maioria dos cristãos norte-americanos que a Bíblia fala de acontecimentos atuais. Em especial dos acontecimentos políticos”, disse o professor.
Líder de uma Igreja Presbiteriana de imigrantes sudaneses em Nashville, o pastor Jock Paleak explica como Isaías 18 tem sido interpretada como uma referência para a independência.
“A Bíblia diz que quando eles levantarem a bandeira sobre os montes, o mundo inteiro vai ver.” Para ele, os olhos do mundo todo estão agora sobre o Sudão do Sul.
Os resultados divulgados na semana passada mostram que a separação foi aprovada por quase 99% dos eleitores. Os sudaneses que moram em outros países também puderam votar.
Para Paleak, Isaías 18 termina com uma indicação que aponta o fim do regime muçulmano do norte. O versículo 7 diz: “Eles levarão seus presentes para a monte Sião”. “Significa que serão livres para louvar a Deus do seu jeito em sua própria terra”, explica ele.
Mesmo assim, Paleak não afirma estar “100% seguro” de que a profecia realmente se refere à independência do Sudão do Sul. Já o pastor Malok Deng, da Igreja Bíblica Sudanesa de Nashville, não tem dúvidas disso.
Ele viu o sofrimento dos sudaneses do Sul durante a guerra civil que deixou dois milhões de mortos e a fuga de muitas pessoas que saíram do país durante o conflito como parte de um plano divino descrito no capítulo dois de Sofonias, entre outras passagens.
“O texto diz que Deus enviaria inimigos para nos castigar, assim poderemos nos arrepender de nossos pecados e voltar para Deus”, disse o pastor. ”É por isso que tudo isso está acontecendo.” Deng conta que a guerra provocou sua conversão.
“Quando era adolescente, fui para o norte de Darfur por causa da guerra. Foi então que conheci o Senhor e fui salvo. Se não fosse isso, teria morrido no paganismo.”
Martin Drani, pastor Igreja Comunitária Sudanesa, em Nashville, não tem dúvidas de que Deus é a verdadeira força por trás do referendo. Ele afirma: ”É uma profecia. Se você acredita na Bíblia, então sabe que toda profecia deve se cumprir. Os israelitas também tinham profecias sobre eles que foram cumpridas.”
Outros estudiosos também veem a possibilidade de que o norte muçulmano estará envolvido no ataque a Israel profetizado em Ezequiel 38, onde afirma-se que a terra de Cuche fará aliança com a Pérsia (Irã) e Pute (Líbia) no fim dos tempos. Assim, apenas países muçulmanos atacariam Israel segundo o profeta Ezequiel. O Sudão do Sul será majoritariamente cristão, pois após a decisão pela independência muitos moradores do norte que seguem a fé cristã estão mudando para o sul.
Mesmo assim, nem todos os sudaneses veem a situação da mesma maneira. Ayak Duot, por exemplo, discorda que trate-se de uma profecia cumprida. ”Ouvi falar disso, mas não acredito. Quando o sul do Sudão se tornar um país novo, será porque muitas pessoas, inclusive meu pai, lutaram e morreram por esta causa”, afirma.
Depois do anúncio oficial do resultado do referendo, países ligados à ONU devem reconhecer a independência, que só deve ser formalizada em 9 de julho. Ainda há disputas bilaterais sobre a demarcação definitiva da fronteira, por conta da divisão dos preciosos recursos hídricos do Nilo e das reservas de petróleo do país.
Fonte: Pavablog
http://mixgospelblog.blogspot.com
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