segunda-feira, 2 de maio de 2011
Adeus a Sábato
Buenos Aires, 30 abr (EFE).- A Argentina chora neste sábado a morte do escritor Ernesto Sábato aos 99 anos, o último mito vivo da literatura do país e figura fundamental na defesa dos direitos humanos.
"Um farol da ética se foi", resumiu o ministro da Cultura da cidade de Buenos Aires, Hernán Lombardi. "Sábato é essa classe de personagens que vale a pena olhar, aprender e encontrar refúgio, mesmo que você discorde de alguma coisa", destacou em declarações à imprensa.
O renomado escritor morreu na madrugada deste sábado em sua casa de Santos Lugares, nos arredores de Buenos Aires, onde permanecia recluso há anos por conta de seus problemas de saúde.
Elvira González Fraga, a mulher que o acompanhava desde que Sábato ficou viúvo, em 1998, disse que nos últimos dias uma forte bronquite acabou complicando seu delicado estado de saúde.
Devido à cegueira, o autor foi obrigado nos últimos anos a abandonar a leitura e a escrita, e a preencher seu tempo com a pintura e outras atividades que praticava em sua casa.
Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz 1980, destacou a preocupação que o escritor tinha com os problemas sociais e humanitários.
"Sábato contribuiu muito com o país e a humanidade com sua responsabilidade social, cultural e política", afirmou ao mencionar seu papel como presidente da Comissão Nacional sobre Desaparecimento de Pessoas (Conadep), em 1984.
Este grupo redigiu o relatório "Nunca mais", que descreveu os horrores da última ditadura militar argentina (1976-1983).
A dirigente política e escritora Graciela Fernández Meijide, que integrou a Conadep, destacou "a coragem e a ética" do escritor.
"Ernesto era muito detalhista. Queria que as coisas fossem muito bem feitas e tinha muita consciência de responsabilidade. Ele se enojava com muita facilidade", lembrou.
O ensaísta Abel Posse, com quem o escritor fundou a revista "Crisis", ressaltou o caráter de "pensador que quis dar solução aos problemas mais complexos do mundo" de Ernesto Sábato, além de sua "paixão pelo tango".
"Ele tentou ser um escritor total. Teve o desejo de criar um grande romance argentino, como foi 'Sobre Herois e Tumbas'. Estimulou a vida literária e era aberto aos dois pensamentos da época, o liberalismo e o marxismo", considerou.
Da Espanha, seu amigo e colega Mario Muchnik lembrou que conheceu Sábato aos 14 anos e admitiu que com o tempo chamou sua atenção o fato de que "a maioria das pessoas o elogiavam abstratamente, sem saber por que".
"Sábato foi minha universidade. Me ensinou o ceticismo, não acreditava em nada. Me lembro que em uma ocasião chegou uma pessoa a uma reunião na qual estávamos e comentou que estava chovendo, e Sábato perguntou: como o senhor sabe?".
Há poucos dias, seu filho, o diretor de cinema Mario Sábato, anunciou à Agência Efe que planeja abrir um museu na casa de Santos Lugares para realizar um sonho do pai.
"A casa vai ser restaurada integralmente para que os objetos do meu pai possam ser exibidos", afirmou Mario, que no ano passado estreou um filme sobre a vida do escritor.
Sábato será velado no clube Defensores de Santos Lugares neste sábado, "seu desejo de toda a vida", afirmou o filho do autor em uma breve declaração aos jornalistas.
"Sei que todos compartilham da dor e da tristeza que sentimos", ressaltou, antes de agradecer o apoio de seus vizinhos.
"Meu pai não pertencia só a nós e ele disse: 'Quando morrer quero que me velem aqui para que as pessoas do bairro possam me acompanhar nesta viagem final e lembrar de mim como bom vizinho'", declarou.
Ernesto Sábato nasceu na cidade de Rojas, na província de Buenos Aires, em 24 de junho de 1911 e sempre afirmou que "a arte" o salvou do suicídio.
A fama internacional chegou em 1961, com o romance "Sobre Herois e Tumbas", e sua consagração aconteceu em 1974 com "Abaddón o Exterminador", que foi premiado na França. Essas duas obras completaram uma trilogia ao lado de seu primeiro livro, "O túnel" (1948), que, pouco valorizado na Argentina, "maravilhou" o escritor francês Albert Camus.
Entre os inúmeros prêmios que recebeu estão o Cervantes (1984), Menéndez Pelayo (1997) e o Gabriela Mistral (1983), entregue pela Organização dos Estados Americanos (OEA).
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