segunda-feira, 12 de setembro de 2011

OUVIR OS GAYS E OS HÉTEROS


Eles falam em farisaísmo. Muitos deles, feridos no seu âmago, não aceitam nem aproximação nem explicação da Igreja. Há ressentimento e conflito. As palavras vêm dos Estados Unidos e têm suas nuances em cada país. Gay supõe celebração feliz. Seria o Eros sem culpa, mas não necessariamente sem responsabilidade. Os não gays podem discordar, mas não podem denegrir seus irmãos que optaram por assumir sua homossexualidade. Vai além da postura. Envolve moralidade e caridade. Straight ou hétero seria alguém que vive sua sexualidade segundo o caminho tradicional e estabelecido na maioria das culturas. Homo-afetivo e hétero-afetivo são, hoje, ......
palavras incorporadas ao cotidiano da maioria das democracias.
Vivendo numa democracia, a Igreja terá que se pronunciar, sem perder o respeito por defensores de teses opostas, deixando claro sua moral, posto que as sociedades aceitam novas morais no seu seio. E deverá fazê-lo, sabendo que não é mais a única voz, nem a mais preponderante a mostrar os rumos de uma nação. Acabou a tutela da Mãe e Mestra. A sociedade aceita ouvir, mas não aceita ser pautada pela Igreja Católica nem pelas evangélicas. É a realidade do Brasil de agora! Mas as Igrejas têm o direito de entrar no debate do amor e da vida, como os outros entraram, mas sem ceder nos conceitos e princípios. E devem saber fazê-lo.
Aqui entra a nossa comunicação. Não somos obrigados a aceitar a moral sexual e matrimonial dos gays, nem eles são obrigados a aceitar a nossa. Talvez um dos livros interessantes sobre o assunto seja o: Fé Além dos Ressentimentos – Fragmentos Católicos em Voz Gay, de James Alison; editado pela É-Realizações. Entra de cheio no assunto inclusão-exclusão. Incluí-los na liderança. Nos sacramentos? Na comunhão? Excluí-los? E incluir é modernidade e excluir é conservadorismo? Quem o diz?
Não somos obrigados a ceder aos seus argumentos, só porque fazem pressão na mídia ou no Congresso. Eles pensam o mesmo sobre nós. Ensinam o oposto, mas temos que nos ouvir. A questão gay é mais um dos desafios da comunicação da Igreja, que sabida, mas nem sempre admitidamente, teve e tem gays nas suas fileiras e até nas altas esferas. Agem como os marranos de ontem que escondiam sua fé judaica sob aparência de cristianismo. Revelando-se, sofreriam represálias. Mas, ao esconder sua condição, enganam sua igreja que impõe como condição para o ministério, que seus pregadores não sejam nem homo-afetivos, nem homófobicos. Nem aderir nem agredir. Como assumir este discurso?
Alguns abertamente gays querem espaço na Igreja. Outros, veladamente gays, influenciam como podem a visão sexual dos católicos. Nem eles desistem nem nós devemos desistir. E não se diga que os problemas de pedofilia estão com os gays enrustidos. Não é verdade que gay seja o mesmo que pedófilo. Qualquer católico que pense e estude sabe a diferença. Nem é verdade que ser gay revela falta de caráter. É sentimento que não cabe no pensar moral da Igreja Católica e de muitas igrejas cristãs, mas isso não nos autoriza a dizer que são pessoas desequilibradas.
Disse-o bem o rapaz assumidamente gay que, sentindo-se católico, mas com enorme dificuldade de viver a proposta da Igreja, declarou que não pretendia mais ser padre, nem para dobrar, nem minar, nem mudar o pensamento católico. Toda sociedade tem regras e ele ficaria onde poderia. Seu amor pela igreja herdada dos pais e na qual aprendera quase tudo do que sabia, era maior do que o amor pelo parceiro a quem chamava de namorado. Se a Igreja lhe negava o altar, ao menos lhe desse outros auxílios. Se sua Igreja não admitia seu amor por alguém do mesmo sexo, ao menos lhe desse o direito de ser católico naquilo em que poderia ser, posto que muitos que sabidamente também não vivem a integridade da fé permanecem católicos. Ele conhecia pouquíssimos católicos 100%.
Mal sabia que estava repetindo o que Bento XVI afirma no livro Luz do Mundo, ao dizer que muitos que se afirmam católicos não vivem como tal e muitos que não se sentem católicos estão dentro do mistério, pelo seu sofrer e pela sua procura.
Não é assunto que se resolva superficialmente. A Igreja vive de conclusões, mas, para concluir, sofre muito em cada procura. A Pascom (Pastoral da Comunicação) da Igreja, já que discorda, procura um jeito de discordar dos gays sem machucá-los. Mas também a eles cabe o dever de, ao discordar de nós, não investir contra seus irmãos sabidamente não gays, como se fôssemos ferozes e excludentes.
Aos sacerdotes e religiosos com tendência para tais relacionamentos, a fala da Igreja é clara. Não podem! Não entrem, ou se não podem viver esta dimensão moral por ela proposta, saiam! A mesma sociedade que tolera os gays não religiosos reage violentamente contra religiosos abertamente gays. A duplicidade vem de todos os quadrantes. É aí que o conflito se agiganta. Querem ser sacerdotes e religiosos, mas querem viver como gays. Em alguns casos, soa como desafio aberto. Alguns moram juntos e não demonstram a menor intenção de separar-se. Esperam que a Igreja aceite, ou se cale. Dá-se o mesmo com igrejas evangélicas ou pentecostais.
São diversas as vozes, nas mais variadas igrejas a garantir que esta moral já coube e ainda cabe no cristianismo. Na Igreja Católica, a decisão está tomada: dialogar sem ceder e sem fazer de conta que não existe. Crescem as reivindicações dos gays que, inclusive, assumem o nome como algo digno, bom e belo. Há, desde agora, e haverá problemas logo adiante! Onde houver caridade, o conflito será mais suave, mas prosseguirá. É a realidade a ser enfrentada. Se tiver que ser não será não. Mas sem rimar com agressão nem de um lado nem do outro. Conseguirão?

Padre Zezinho

Fonte: /www.padrezezinhoscj.com


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