sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
MARTHA DE HOLLANDA
A escritora Martha de Hollanda nasceu no dia 20 de março de 1903, em Vitória de Santo Antão, Pernambuco, numa época que a mulher era para casar e ser dona de casa. Acontece que esta Martha estava muito adiante do seu tempo. Na própria família havia restrições por ela ser avançada. Era rebelde e participou de muitos movimentos feministas. No dia 8 de dezembro de 1928 casou-se com um viúvo, José Teixeira de Albuquerque. No livro de Luciene Freitas pinçamos este trecho: “Antes de se encaminhar para a igreja, desfilou em carro sem capota pelas ruas principais da cidade, escandalizando a pacata sociedade da época e, como sempre, inovando, pois os vestidos das noivas, por velha praxe, somente eram conhecidos na igreja”. Martha que uma ativista e à primeira mulher a conseguir um título de eleitor e isso aconteceu em 1933, faleceu aos 47 anos de idade, no dia 23 de junho de 1950. Ela queria ser enterrada envolvida com gazes, levar as jóias e os perfumes preferidos. Queria que ao descer à sepultura um violinista tocando a serenata de Schubert, Em Pleno Luar. “Não foi envolvida em gazes, não levou jóias nem os perfumes, tampouco a música foi tocada.” http://fernando.blogueisso.com/2009/01/24/um-nome-que -a-historia-guardou-17/ Martha de Hollanda Recebi, há poucos dias, como oferta da minha estimada amiga Lourdes Sarmento, escritora e poetisa, de alta categoria, um livro fascinante, sob o título Uma guerreira no tempo, de autoria de Luciene Freitas, também brilhante escritora, que tem publicado vários livros de poesias, contos e crônicas.Li, com o maior encantamento e profunda emoção, a biografia da saudosa escritora pernambucana Martha de Hollanda, cuja vida precisa ser conhecida, na história literária de nossa terra, e transmitida às futuras gerações. O excelente livro de Luciene resultou de uma acurada pesquisa, durante quase sete anos, tendo sido publicado, em 2003, e contemplado, em 2005, com Menção Honrosa da Academia Pernambucana de Letras (APL). Tive oportunidade de ler um primoroso ensaio de Cristina Inojosa, intitulado Martha de Hollanda: Feminismo e Feminilidade, prefaciado por Lourdes Sarmento. O trabalho de Cristina foi baseado numa pesquisa minuciosa que realizou na Fundação Joaquim Nabuco. Conheci Martha e José Teixeira de Albuquerque, no início dos anos 40, e tive a sorte e a honra de desfrutar da amizade do casal. Meu Pai havia sido professor de Martha, no Colégio Santa Margarida, e tinha, na biblioteca particular, com uma bela dedicatória, o livro intitulado Delírio do nada, que ela publicou em 1930. Esse livro foi lido pela autora, em sessão especial da Academia Pernambucana de Letras, em agosto daquele ano, quando Martha foi saudada pelo acadêmico Raul Monteiro. Participei, várias vezes, das reuniões sociais e literárias, na residência de Martha e José Teixeira, numa modesta casa, de porta e janela, na Rua do Lima, 280, casa que, ainda, existe (vizinha à TV Jornal). A essas agradáveis reuniões compareciam escritores, poetas, artistas, jornalistas, médicos, advogados, engenheiros, políticos, inclusive intelectuais de outros Estados. Assisti ao enterro da minha saudosa e admirada amiga, em 1950 (José Teixeira falecera dois anos antes). Martha, além de escritora, exerceu o jornalismo e tomou parte ativa, nos movimentos feministas, tendo chegado a ser presidente da Cruzada Feminista de Pernambuco. Tornou-se a primeira eleitora pernambucana. No Instituto Histórico de Vitória de Santo Antão, existem, segundo fui informado pela Fundação Joaquim Nabuco, um busto de Martha e uma pasta só com documentos relativos à escritora. Quando lançado o livro o seu Delírio do nada, foram divulgadas na imprensa, cartas e pronunciamentos de elogios e aplausos à autora, de ilustres intelectuais do Brasil e de Portugal, entre eles figuras eminentes da Academia Pernambucana de Letras, como Carlos Porto Carreiro, Oscar Brandão, Samuel Campelo, João Barreto de Menezes, Mário Melo, Júlio Pires, Carlos Rios, Mauro Mota, Paulino de Andrade. Carlos Porto Carreiro, grande escritor e um dos fundadores da APL, diz em carta à Martha, em 1931: “Martha de Hollanda: o seu livro veio evocar em mim de modo delicioso a última e grata paisagem pernambucana, a cantante alma pernambucana. Muito obrigado.” E ainda: “Martha é... Martha. Tem uma personalidade inconfundível que parece ter nascido firmada. Noto que sob o pessimismo aparente do seu febricitante espírito, desliza a corrente oculta duma preocupação impessoal e muito humana. Tal a impressão que me deixou o volume que me enviou com o maior dos carinhos a respectiva autora. Se o meu avante de animação lhe valesse alguma coisa, deixá-lo-ia, aqui em letras maiúsculas. Estou que pouco lhe aproveitaria a voz de um aposentado das musas. Limito-me a dar os parabéns mais sinceros.” Permito-me sugerir à APL a promoção de uma sessão especial, em homenagem a Martha de Hollanda, com destaque para o notável papel, que essa talentosa escritora representou, como líder do movimento feminista em Pernambuco. E, concluindo, transcrevo um expressivo pensamento da saudosa Martha, que reunia, em sua personalidade, os predicados que valorizam a condição humana: “E o mundo só será, em verdade, obra perfeita de Deus, quando todos os homens, iguais e conscientes, se estreitarem num grande abraço de fraternidade.” ::
Pelópidas Silveira é engenheiro civil e ex-prefeito do Recife.
fonte http://www.enciclopedianordeste.com.br
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Prezado Israel, fiquei surpresa com o texto. Muito obrigada pela referência ao livro e a mim. Sou Luciene Freitas
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