terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O CAPIBARIBE TEM JEITO, SIM!




  No ultimo domingo de janeiro realizei junto com 11 outros companheiros de caminhada domingueira uma excursão de barco por uma boa parte do trecho urbano do Rio Capibaribe no Recife. Saímos às 7h debaixo da Ponte do Limoeiro, onde existe uma comunidade de pescadores, e navegamos em três barcos (chamados por eles de baiteiras) até o Capibar na Rua Tapacurá, atrás da Praça do Monteiro, onde nos esperava a proprietária Dona Socorro, entusiasta da preservação do Rio e responsável pela organização logística do passeio.
  Já tinha feito esse percurso em outros tipos de embarcação, mas desta vez me chamaram a atenção em especial duas coisas: uma a fantástica beleza do Capibaribe urbano vista “por dentro” e, outra, o inacreditável abandono a que está relegando o rio da integração municipal, tudo certamente reforçado pela maior proximidade que ficamos da superfície líquida navegando em barcos pequenos.
  O desmantelo é enorme: incontáveis “bocas” despejando sem cessar esgoto “in natura” no leito indefeso; lixo aos borbotões (o nosso barqueiro teve que parar o motor cinco vezes para retirar sacos plásticos enrolados nas hélices); vegetação crescendo de forma descontrolada e separando a cidade do Rio e vice-versa; margens invadidas por todo o tipo de ocupação irregular; etc., etc.
  O abandono é mais dramático porque, do ponto de vista urbanístico, o Capibaribe é a ultima grande oportunidade, a preços irrisórios, que o Recife tem de recosturar o território municipal, fragmentado por séculos. “Basta” uma via mista para ciclistas e pedestres ao longo das duas margens, do Parque dos Manguezais ao Parque Brennand na Várzea (em torno de 15 km), articulando todos os parques, praças e áreas verdes, com pontes para pedestres e ciclistas ligando os dois lados a intervalos regulares, para que o território se reintegre quase que “por milagre” e a cidade voltar a ter a unidade que perdeu quando passou a dar as costas ao Rio no século 20 (até meados do século 19, as casas que ficavam nas margens tinham suas fachadas principais voltada para o Rio).
  Fátima Brayner, ex-secretária de Ciência & Tecnologia do Estado e especialista em meio ambiente, tem uma frase que acho lapidar: “Todos os dias o Capibaribe é poluído com toneladas de esgoto e o mar se encarrega de despoluí-lo no estuário. O Rio ainda está vivo. Se quisermos, é possível recuperá-lo em menos de uma década.” Em sendo assim, estamos todos os pernambucanos, e os recifenses em particular, desafiados a isso porque dar jeito ao Capibaribe é em grande medida, do ponto de vista urbanístico, dar jeito na organização do território recifense. Vamos lá, afinal, os 500 anos do Recife está aí, batendo na porta!

Francisco Cunha
Consultor e Arquiteto      

*Texto retirado da revista ALGO MAIS a revista de Pernambuco. Na coluna “Última Página”. Pag. 82 de fevereiro de 13.  

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