No ultimo domingo de janeiro realizei junto
com 11 outros companheiros de caminhada domingueira uma excursão de barco por
uma boa parte do trecho urbano do Rio Capibaribe no Recife. Saímos às 7h
debaixo da Ponte do Limoeiro, onde existe uma comunidade de pescadores, e
navegamos em três barcos (chamados por eles de baiteiras) até o Capibar na Rua
Tapacurá, atrás da Praça do Monteiro, onde nos esperava a proprietária Dona
Socorro, entusiasta da preservação do Rio e responsável pela organização
logística do passeio.
Já tinha feito esse percurso em outros tipos
de embarcação, mas desta vez me chamaram a atenção em especial duas coisas: uma
a fantástica beleza do Capibaribe urbano vista “por dentro” e, outra, o
inacreditável abandono a que está relegando o rio da integração municipal, tudo
certamente reforçado pela maior proximidade que ficamos da superfície líquida
navegando em barcos pequenos.
O desmantelo é enorme: incontáveis “bocas”
despejando sem cessar esgoto “in natura” no leito indefeso; lixo aos borbotões
(o nosso barqueiro teve que parar o motor cinco vezes para retirar sacos
plásticos enrolados nas hélices); vegetação crescendo de forma descontrolada e
separando a cidade do Rio e vice-versa; margens invadidas por todo o tipo de
ocupação irregular; etc., etc.
O abandono é mais dramático porque, do ponto
de vista urbanístico, o Capibaribe é a ultima grande oportunidade, a preços
irrisórios, que o Recife tem de recosturar o território municipal, fragmentado
por séculos. “Basta” uma via mista para ciclistas e pedestres ao longo das duas
margens, do Parque dos Manguezais ao Parque Brennand na Várzea (em torno de 15
km), articulando todos os parques, praças e áreas verdes, com pontes para
pedestres e ciclistas ligando os dois lados a intervalos regulares, para que o
território se reintegre quase que “por milagre” e a cidade voltar a ter a
unidade que perdeu quando passou a dar as costas ao Rio no século 20 (até
meados do século 19, as casas que ficavam nas margens tinham suas fachadas
principais voltada para o Rio).
Fátima Brayner, ex-secretária de Ciência
& Tecnologia do Estado e especialista em meio ambiente, tem uma frase que
acho lapidar: “Todos os dias o Capibaribe é poluído com toneladas de esgoto e o
mar se encarrega de despoluí-lo no estuário. O Rio ainda está vivo. Se
quisermos, é possível recuperá-lo em menos de uma década.” Em sendo assim,
estamos todos os pernambucanos, e os recifenses em particular, desafiados a
isso porque dar jeito ao Capibaribe é em grande medida, do ponto de vista urbanístico,
dar jeito na organização do território recifense. Vamos lá, afinal, os 500 anos
do Recife está aí, batendo na porta!
Francisco Cunha
Consultor e Arquiteto
*Texto
retirado da revista ALGO MAIS a revista de Pernambuco. Na coluna “Última
Página”. Pag. 82 de fevereiro de 13.
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