segunda-feira, 26 de julho de 2010

Só quem sabe o que é saudade É quem viveu no sertão.



Quem viu de perto a beleza
De um açude sangrando,
Viu o peixe desovando
Subindo na correnteza.
Viu a família na mesa
Comendo arroz e feijão,
Batata, coalhada e pão,
Na maior felicidade.
Só quem sabe o que é saudade
É quem morou no sertão.

Não há quem queira deixar
O lugar onde nasceu,
Onde com os pais viveu
Por qualquer outro lugar.
Porém se a seca chegar
Ele vai pro Maranhão,
Com a determinação
De voltar com brevidade.
Só quem sabe o que é saudade
É quem morou no sertão.

Quem viu a alegoria
Do arroz soltando o cacho,
Viu enchente no riacho
Numa coreografia
Onde o sertanejo cria,
Na fértil imaginação
Jesus colocando a mão,
Do alto da divindade.
Só quem sabe o que é saudade
É quem morou no sertão.

Quem viu também a tristeza
De um ano sem inverno,
Comparou com o inferno
Lá na sua profundeza.
Viu faltar na sua mesa
O arroz, milho e feijão,
Porém pediu proteção
Para a Santíssima Trindade.
Só que sabe o que é saudade
É quem morou no sertão.

Quem comeu baião de dois
Em dia de adjunto,
Não esquece do assunto
Da apanha de arroz.
O patrão vinha depois
Premiar o campeão,
Que perante a multidão
Exibia a vaidade.
Só quem sabe o que é saudade
É quem viveu no sertão.

Não há quem possa esquecer
Aquela vida na roça,
A morada na palhoça
E a cacimba de beber.
Vê o sol escurecer
Com o eco do trovão
E o cachorro Tubarão
Latindo no pé da grade.
Só quem sabe o que é saudade
É quem viveu no sertão.

Ninguém esquece o roçado
Com o milho bonecando,
O arroz todo embuchando
E o algodão bilotado.
O sertanejo animado
Com a safra de feijão,
Garantindo a produção
Da sua comunidade.
Só quem sabe o que é saudade
É quem viveu no sertão.
Quem no sertão foi criado
Tem um arquivo na mente
Do terço de penitente
E da festa do reisado.
De um violeiro afamado
Falando de lampião
E de um cigano ladrão
Furtando a humanidade.
Só quem sabe o que é saudade
É quem viveu no sertão.

Mundim do vale.

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