domingo, 10 de abril de 2011
147 DA SORTE
(Pedra de Clarianã há dois anos)
O modelo 147, produzido em Betim a partir de 1976, marcou a chegada da Fiat no Brasil. O controvertido veículo da montadora italiana, embora cheio de inovações para a época, construiu uma fama pouco recomendável. É raro encontrar alguém com saudade do seu Fiat 147.
Era um final de tarde de sexta-feira, na movimentada Avenida Caxangá, em Recife, quando o engenheiro Irapuan Costa parou seu 147 em um semáforo. Puan, como conhecido, aguardava o sinal verde, momento em que foi surpreendido por um forte barulho de freio. Um Mercedes de luxo, após deslizar no asfalto, tocou levemente no pára-choque traseiro do seu Fiat. Pelo retrovisor, viu descer do carro uma mulher de meia idade, bem vestida, que, bastante nervosa, foi logo dizendo:
- Querido, mil desculpas, eu vinha dirigindo preocupada com os meus negócios e mal percebi o sinal fechado, visse. Mas o senhor não sofrerá nenhum prejuízo, visse.
A motorista abriu sua bolsa, retirou várias notas, e, sem sequer conferir, entregou a Irapuan. Ainda meio atordoado com a inesperada reação da madame, Irapuan guardou o dinheiro no bolso e foi ver as avarias em seu carro. O choque causara apenas um pequeno arranhão no pára-choque, que não resistiria a um simples polimento.
O dinheiro chegou na hora certa. Não para conserto do velho carro, mas para remediar a liseira daquele final de mês. Puan comprou um jogo de pneus para o Fiat, quitou umas dívidas pendentes e ainda sobrou uma boa quantia para as cervejas do final de semana.
Meu tio Antônio Ulisses contava que depois daquele dia, toda sexta-feira, Puan parava seu Fiat 147 no mesmo sinal da Avenida Caxangá e esperava ansiosamente uma milagrosa batidinha do Mercedes.
Contado por Flávio Cavalcante
http://pedradeclariana.blogspot.com
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