Na contramão da indústria fonográfica em crise, o mercado de música religiosa cresce no Brasil, atrai grandes gravadoras e o interesse da Globo
Desde o fim dos anos 1990, o mercado de música enfrenta uma crise sem precedentes. No Brasil, de acordo com dados da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigla em inglês), 45% das músicas são consumidas a partir de downloads ilegais e 52% dos discos vendidos são piratas. Mas há no cenário pouco animador uma ilha de bonança: o mercado gospel.
Entre vendas de discos e de DVDs e a produção de grandes festivais, o segmento movimentou em 2010 cerca de 1,5 bilhão de reais, patamar que deve crescer 33% este ano, e chegar a 2 bilhões de reais, de acordo com uma pesquisa de mercado de uma gravadora do setor. Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD), o gospel é o segundo gênero musical mais consumido no país, atrás apenas do inquebrantável sertanejo, abocanhando uma parcela significativa dos 500 milhões de reais movimentados anualmente com a venda de CDs.
O êxito despertou o interesse de grandes gravadoras como Sony e Som Livre, detentoras do passe de onze artistas do segmento. E estimulou a criação de um canal on-line inteiramente dedicado a ele – uma espécie de MTV gospel na internet, a LouveTV. Além da entrada da Globo no setor. A Som Livre, braço fonográfico da emissora, tem desde 2010 no seu elenco alguns campeões de venda como Regis Danese, Diante do Trono e Renascer Praise, e promove em parceria com o canal, no dia 10 de dezembro, o Festival Promessas. Oito dias depois, ele será o primeiro evento do tipo a ser exibido pela Globo.
O festival, que pode reunir até 1 milhão de pessoas no Rio de Janeiro, estará entre os especiais de fim de ano da emissora. Sua produção está a cargo da GEO Eventos, empresa responsável pela edição brasileira do festival Lollapalooza, uma grife internacional. “A GEO está atenta a esse público, que hoje representa 20% da população segundo o IBGE, e pretende ampliar a sua atuação no setor”, diz Juliana Carvalho, responsável pela comunicação da empresa.
Luiz Gleiser, diretor da Globo responsável pelo Promessas, diz que “como maior produtora de cultura do país, [a Globo] não pode ficar indiferente à força artística da música gospel”. Gleiser falou ainda sobre a entrada gradativa dos artistas gospel na programação: “A Globo já convidava artistas gospel para os programas de linha, como Domingão do Faustão e TV Xuxa, por exemplo. O Promessas é um passo a mais nesse sentido”.
Para Maurício Soares, diretor do selo gospel criado em janeiro deste ano pela Sony Music, 2011 é um “divisor de águas” nesse mercado em relação “à grande imprensa”. A contratação pela Sony do próprio Soares, produtor que há 22 anos trabalha com artistas evangélicos, é indício da conversão recente do chamado mercado secular – termo usado pelos próprios crentes – ao gospel. Coube a ele levar para a major a cantora Cassiane Santana. Segundo maior nome do gênero, ela já vendeu cerca de 5 milhões de discos desde meados dos anos 1990. “Até o fim de 2012, pretendemos contratar mais três ou quatro artistas”, anuncia Soares.
As maiores cantoras gospel da atualidade:
Aline Barros: É a joia do mercado. Com mais de 7 milhões de discos vendidos desde meados dos anos 1990, Aline é disputada por gravadoras seculares. Extraordinário Amor de Deus, lançado este ano, ganhou disco de diamante pelas 300.000 cópias vendidas. O estilo de Aline inclui desde baladas pop a canções que se aproximam do R&B de cantoras americanas. As letras falam de adoração a Deus, amor e companheirismo.
Cassiane: Abordando assuntos doutrinários de modo mais ostensivo que seus colegas, Cassiane é profundamente identificada com o público pentecostal. Conservadora também no estilo musical, grava ritmos tradicionais como forrós a toadas. Depois de Aline Barros, é a cantora gospel que mais vende discos no país. Estima-se que desde o começo da carreira, nos anos 1990, tenha vendido mais de 5 milhões de discos. E é a maior estrela do selo gospel da Sony Music.
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