domingo, 29 de janeiro de 2012
O DESPREZO DO JUMENTO
É verdade meu senhor
Que o jumento é nosso irmão
Padre Vieira falou
Mas ninguém deu atenção
Eu fiz tudo por escrito
E mostrei pro Gonzagão
Ele achou muito bonito
E gravou logo o baião
A fuga para o Egito
Do jumento nosso irmão
Que Herodes o rei maldito
Perseguidor dos cristãos
Queria matar Jesus
Por inveja e ambição
Mas veio o anjo do céu
E deu toda proteção
José, Maria e Jesus
Fugiram na escuridão
No lombo do jumentinho
Que serviu de condução
Cumprindo o que estava escrito
Se esconderam no Egito
Onde viveu Abraão
Com muito tempo depois
Jesus volta ao seu torrão
Pregando e curando o povo
Pela fé da oração
Perdoou seus inimigos
Cumpriu a sua missão
Morreu cravado na cruz
Para nos dar a salvação.
E o pobre do jumento
Ficou no esquecimento
Sem ninguém lhe dá sustento
Sem nenhuma proteção
Vez em quando um caminhão
Lhe dá uma porretada
Ele cai duro no chão
Se levanta e não diz nada
Vai passando uma porretada
Ele cai duro no chão
Se levanta e não diz nada
Vai passando uma jeguinha
Ele corre em disparada
Monta em cima da bichinha
Dá dois peidos e uma rinchada
A moça ta janela
Fica toda arrrupiada
Grita logo “chega mãe”
Vê que bela presepada!
Ela diz: “cala essa boca”
Feche os olhos e não diga nada
Deixe o pobre do jumento
Transar com sua jegue amada
Isso é coisa do destino
Ta na escritura sagrada
E o pobre do jumento
Foi feliz por um momento
Satisfez o seu intento
Fez amor do seu jeitão
Tudo agora é sofrimento
É desprezo e solidão
Vai morrer no esquecimento
Nas quebradas do sertão
Fica só no pensamento
Que o jumento é nosso irmão.
Zé Clementino.
Letra inédita 28/04/2003
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Você me proporcionou alegria com a postagem sobre o Jumento com a composição de Zé Clementino. Postei algo incluindo as duas figuras literárias da nossa Várzea Alegre. Veja o que escreveu o Padre, na crônica: O ABOIO E O ACALANTO. Comparei a intelectualidade de ambos.
ResponderExcluirAbraços.