Minha história começou nos anos 40, quando a minha mãe veio estudar no Crato com os irmãos na casa dos avós maternos. Casa grande e simples, na Rua Formosa, hoje, Santos Dumont. Acho que era a rua das moças mais bonitas da cidade. Minha mãe, Tia Rosali, Tia Aldenora, Erice, Nazaré, eram singularmente belas. E a minha mãe falava com muito carinho das suas amigas e vizinhas como minha madrinha Eurídice, Ionêda Aguiar, Lindete, Lucimar...
Educação repressiva, vida singela, mas ela dizia-me que todas eram particularmente felizes. Riam à toa, se enamoravam, passeavam na Praça da Estação aos domingos, depois da chegada do trem. Jogavam peteca, nas calçadas, participavam das festas religiosas.
Minha mãe e Eurídice eram carne e unha. Foram amigas/irmãs até os últimos dias de vida. Prometeram-se amadrinhar suas filhas primogênitas, e assim aconteceu. Eu- afilhada de Eurídice; Marta- afilhada da minha mãe. Os restos dos nossos irmãos tratavam-nas também como madrinhas.
Enquanto minha mãe vivia um namoro demorado (8 anos) com meu pai ( culpa do seu lado boêmio, um tanto inaceitável), madrinha Eurídice namorava Vicente Feitosa, um rapaz de qualidades relevantes. Hoje, quando visitei Marta (madrinha do meu filho André), mostrou-nos o álbum de família, e pude lembrar a beleza daquelas mocinhas. O casal Vicente x Eurídice chamou-me a atenção. Foi uma linda história de amor, com final feliz reservado para um futuro longínquo, nos céus... Quem sabe agora?
Antes das bodas, muito pouco antes, ele adoecera de repente. No dia que seria o casamento, foi o seu sepultamento. A casa recebia telegramas de pêsames e parabéns ao mesmo tempo. Minha madrinha ficou vários anos enlutados, pois se considerava espiritualmente viúva. Nos primeiros dias perdeu alguns dos sentidos pelo trauma da dor: fala audição... Depois tudo foi se acomodando.
A dor não passa, não foge; é obrigada a ser compreendida. Eu sinto uma dor enorme por todas as dores das pessoas que não conheço, imaginem como a minha própria dor é digerida...!?
Conheci padrinho Vicente, quando trabalhava com os irmãos, na Livraria Católica. Ele me suspendia me sentava no balcão, e conversava comigo atenciosamente. Deu-me de presente um quadro do Anjo da Guarda, que ainda hoje é o meu protetor.
Pedi á Marta que me enviasse a foto por e-mail, mas não aguentei esperar a ilustração. Estas impressões estão presas no meu coração, como forma de amor transcendente.
A filha de Eurídice, em determinado ponto das lembranças, confidenciou-nos: eles eram almas gêmeas. Rezavam juntos, e as suas almas eram completamente sintonizadas com o amor divino.
Amores perfeitos parecem predestinados à vida eterna.
Ainda temos algumas testemunhas vivas dessa história: Nazaré ( prima da minha mãe, viúva de Raimundo Silvestre)) e Brígida (viúva de Vicente Padeiro).Lucimar, Ionêda e Lindete, moram em Fortaleza.
Que Deus proteja a vida destas amigas sobreviventes. Os demais, já se tornaram anjos, numa esfera superior.
Procuro não ser piegas, mas... Fazer o que?
Nenhum comentário:
Postar um comentário