Alguns fins de semana, eu me encontrava como cozinheiro e assim eu fiquei sendo chamado por ele o cozinheiro. No mês de agosto de 1945, mês de festa do nosso padroeiro em um dia de sábado eu recebi dinheiro e autorização para vir à cidade e comprar um par de alpargatas (apragatas como chamávamos).
Vim a cavalo, meu cavalo muito tropeiro, comprei as alpargatas muito bonitas, feitas com pele de jacaré (eu que pensava assim, amarrei as mesmas nas correias da cela e retornei para casa. No meio do caminho entre a cidade e nossa casa, morava o nosso avô materno e era uma obrigação, tanto na ida como na volta, passarmos na casa de nosso avô. Assim o fiz, parei o cavalo, desci, amarrei o mesmo em pé de imburana e entrei para cumprimentar os avós e os tios. Tomando a bênção a todos, voltei para continuar a viagem, morto de feliz com as alpargatas. Encontrei meu tio Joaquim perto do cavalo e foi logo dizendo:
- Meu sobrinho, porque você só comprou uma alpargatas?
Eu respondi:
- A outra está do outro lado.
Tio Joaquim respondeu:
- Não meu filho, só há um alpargatas.
Eu aproximei do cavalo e verifiquei que só havia uma alpargata. Inicialmente pensei que era meu tio com brincadeira, porém logo percebi que havia perdido uma alpargata. Montei no cavalo, voltei até a cidade, perguntando a todos que encontrava se não haviam achado a alpargata e a resposta foi sempre a mesma: Não. Retornei para casa muito descontente. Em casa, meus pais tentaram me convencer que poderia comprar outras alpargatas, porém eu não me conformava. Passei o resto do dia triste, pois ao perder uma alpargata bonita como aquela não dava para me contentar.
À tardinha do mesmo sábado, sai de casa para dar água a meus animais, neste intervalo, chega Joaquim Batista e entre uma conversa e outra perguntou pelo cozinheiro e meu pai informou-lhe que tinha saído para dar águas a uns porcos, porém acrescentou que eu estava muito perturbado, pois havia ido a cidade comprar umas alpargatas e havia perdido uma no caminho. Joaquim Batista ouvindo esta afirmativa, dirigiu-se para sua carona e retirou uma alpargatas e disse para o nosso pai:
- Eu achei uma alpargatas, será que é esta a dele?
Nosso pai conferiu a outra e disse:
- É compadre.
Porém, minutos depois eu fui chegando e nosso irmão Elizeu gritou em voz alta:
- Pedro, Joaquim Batista achou tua alpargata!
Foi uma alegria grande quando vi que era verdade, minha alpargata tinha sido encontrada e no mesmo momento eu pensei comigo mesmo: "como é bom ser cozinheiro". Terminei meu curso médico, vim para Várzea Alegre e Joaquim Batista durante quinze anos que ainda viveu não pagou uma consulta médica para si, nem para sua esposa e seus filhos. Isto é que é gratidão e reconhecimento.
Doutor Pedro Sátiro
do seu livro "Minha vida Minha história"
*Ilustração do google
Uma história parecida com esta conteceu comigo, eu tinha uns 12-13 anos, estava brincando eu, minhas irmãs e coleguinhas em em um monte de areia que era usada na reforma de uma casa na mesma rua que morei, então perdi as duas alpargatas, de noite em casa minha mãe percebeu isto e me deu uma surra, mas comprou um novo par, e não é que não aprendi a liçao no dia seguinte estava lá de novo na mesmma brincadeira, desta vez perdi apenas um pé, e levei outra surra, porém desta vez minha mãe ainda deu um castigo, fiquei só calçando um pé, mas encontrei uma alpargata para formar o novo pá, só que era de tamanho e cor diferente e já bastante usada, fazer o que? andar apenas com uma não dava.
ResponderExcluirRose