Contrariando a historiografia oficial, o pesquisador Armando Rafael possui uma visão controversa sobre o envolvimento de Bárbara nos acontecimentos de 1817. Segundo ele, a participação da matriarca do Crato foi bem menor do que se divulga. O estudioso explica: "A história é sempre escrita pelo vencedor. Qual o regime vigente no Brasil? O regime republicano. A república é oriunda de um golpe militar, o primeiro de uma longa série que houve no Brasil, e como a imprensa precisava de um ícone, nada melhor que uma mulher corajosa, simpática, que foi a primeira presa política e que a partir daí começou a ser tratada unicamente como a heroína Bárbara de Alencar".
Armando Rafael que é autor da biografia "Os dois Leandros" e tem vários trabalhos sobre a história regional publicados nas revistas "Itaytera" e "A província", dita o livro "Apontamentos para a história do Cariri", de João Brígido, para sustentar a tese de que Bárbara não teve tamanho destaque antes a proclamação da república. "Basta ler o livro, escrito na cidade do Crato em 1888. Ele restringe o episódio da Revolução de 1817, aqui no Crato, ao mínimo, se quer cita Bárbara de Alencar". O historiador situa a participação da Bárbara apenas como anfitriã de um jantar elaborado para angariar adesões à revolução. "conta-se que ela matou cinco capotes e abriu duas garrafas de vinho, das quais foi tomado apenas uma", diz Armando Rafael.
O fato mais substancial para basear seus argumentos seria a falta de provas contra Bárbara e o título de heroína que lhe outorgaram. "Quando houve a contra-revolução e o juiz Joaquim Teles chegou para apurar os crimes, não encontrou nenhuma acusação sobre a participação de D. Bárbara. O título de heroína foi dado a ela em 1810, sete anos antes da revolução acontecer. Quem deu esse título foi o padre Arruda Câmara, um padre republicano que foi fundador da maçonaria em Pernambuco. Ele escreve: "D. Bárbara do Crato deve ser vista como heroína", isso em 1810.
Apesar de não concordar com a fama dispensada a Bárbara de Alencar, Armando faz questão de salientar seu caráter pioneiro. "Ela tinha qualidades? Muitas qualidades. Ela era uma pessoa decidida, imaginar que no século XIX -uma época em que uma mulher só tinha direito a três coisas: 'Cala a boca menino', 'xó galinha', e 'sim, senhor' para o marido - por ela conseguir se projetar significa que não era uma mulher comum".
Falar sobre Bárbara e de todos os eventos que sucederam no Cariri em 1817 sempre deu margem a debates e foi motivo para arroubos. Para a maioria da população cratense, Bárbara de Alencar, quando muito, é apenas um nome de rua. Nome que se perdeu no tempo e que nada significa. Mas para o estudante que tira fotos da casa sem graça, no local onde um dia se tramou uma revolução, Bárbara de Alencar ainda pode dar algumas lições. "Quem ia dizer que uma mulher nordestina, daquela época, seria uma revolucionária?". Pergunta-se Victor Rocha, estudante universitário. Ele mesmo resume: "Sabe o que eu acho? Eu acho que Bárbara serve de exemplo".
Armando Lopes Rafael.
Historiador cratense.
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Texto publicado na revista Cariri Revista página 23
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