sábado, 2 de outubro de 2010

Alegrem-se Sempre Mesmo na Tribulação


Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé (...), redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo. (I Pe 1:6-7 – ARA)

O ano de 2010 iniciou sob tragédia: logo em janeiro, o mundo presenciou, através dos meios de comunicação, os resultados do terremoto no Haiti; no fim de fevereiro, o Chile também foi vítima de um terrível terremoto; em abril, o Brasil acompanhou a tragédia no Morro do Bumba, na cidade de Niterói (RJ), sem contar outras desgraças que não são enfatizadas pelos noticiários. Não sabemos o que mais nos espera daqui por diante. Estamos cercados de incertezas e ameaças. É difícil, diante desse quadro, percebermos motivos de alegria.

Os cristãos a quem Pedro escreveu sua primeira carta também viviam em incertezas e ameaças. Uma grave perseguição estava prestes a se desencadear pelo imperador de Roma, Nero, e eles seriam duramente provados. O apóstolo os faz lembrar que, apesar das várias tribulações que enfrentavam no presente, eles podiam se alegrar em Deus.

A primeira carta de Pedro consiste em uma tarefa que exigia coragem: ele estava escrevendo a cristãos que já padeciam perseguições por sua fé em Jesus, que já sofriam por viverem dispersos pelas províncias romanas, e teria de dizer-lhes que padeceriam provação maior. Seria mais fácil escrever-lhes que a vida cristã é isenta de crises. Mas, como mensageiro fiel do Senhor, ele lhes prega o verdadeiro evangelho. Por isso, sem negar as tristezas do presente, procura encorajá-los à perseverança. Que motivos de alegria constante Pedro apresenta aos seus leitores?

Certeza quanto ao passado: Para encorajar seus leitores, Pedro passa a lembrar-lhes a grande maravilha que Deus havia feito em favor deles: Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos (v. 3). Eles foram espiritualmente preparados para enfrentar as duras provações, ao serem recordados da sua história de salvação, ao voltarem seus olhos para o passado e lembrarem que serviam a um Deus vivo que ressuscitara dentre os mortos. Pedro queria renovar-lhes a fé no Cristo vivo a quem eles serviam e amavam.

As situações que viviam e viveriam eram incertas; o mundo em que viviam era inseguro; mas eles podiam contar com uma certeza: eram filhos amados de Deus, que, pela ressurreição de seu Filho, Jesus Cristo, lhes dera a garantia de serem novas criaturas. Eles não serviam a um Deus indiferente às suas lutas, incapaz de socorrê-los, mas a um Deus misericordioso e poderoso a ponto de transformá-los em servos fiéis. Assim, quanto mais lembrassem a obra de Cristo por eles, mais se alegrariam, mais o amariam e mais se fortaleceriam para enfrentar as adversidades.

Em outras palavras, Pedro quer dizer que viver o cristianismo requer o exercício da memória, pois a verdadeira alegria é renovada nos salvos à medida que recordam o que Deus lhes tem feito, quão poderosamente os resgatou das trevas para a sua maravilhosa luz, quanta mudança produziu e ainda produz em suas vontades, capacitando-os a detestar o pecado, que, antes, dava-lhes satisfação. Esse era o motivo de júbilo para os cristãos a quem Pedro escreveu e deve ser para os cristãos de todos os tempos.

O milagre da transformação de uma natureza dominada pelo pecado em uma natureza sedenta de Deus e desejosa de obedecer-lhe é a maior de todas as dádivas que o crente recebe. Isso só é possível porque Jesus Cristo derrotou de vez a morte. Pedro queria que seus leitores se firmassem nessa mensagem e não permitissem que as adversidades ou outros ensinos apagassem essa certeza de suas mentes. Eles não deveriam permitir que lhes fosse tirado o maior motivo da sua alegria.

Esperança quanto ao futuro: Além de lembrar a certeza que aqueles cristãos tinham em relação ao passado, Pedro também os encoraja a olhar para o futuro e ver o propósito para o qual haviam sido salvos: ... para uma herança incorruptível sem mácula imarcescível, reservada nos céus para vós outros (...), para a salvação preparada para revelar-se no último tempo (vv.4a-5b). Deus os salvara para torná-los seus herdeiros. Pelas características dessa herança, apresentadas pelo apóstolo, percebemos que se trata de um grande motivo de alegria.

O fato de essa herança ser incorruptível aponta para um futuro isento de morte, pois a ideia da palavra grega aphthartos é de algo que não perece, que é imortal. Era essa viva esperança que Pedro queria avivar em seus leitores. Para essa herança eles haviam sido salvos. O que os aguardava no futuro era muito superior a qualquer bem ou prazer terreno. Por essa herança e, principalmente por aquele que a garantira a seus filhos, valia a pena suportarem todo sofrimento que se lhes apresentasse.

As outras duas características importantes que Pedro apresenta com relação à herança dos crentes em Jesus são: sem mácula e imarcescível. A primeira é a tradução para a palavra grega amiantos, que traz a ideia de algo puro, sem contaminação; a segunda é a tradução para amarantos, cuja ideia é de algo que permanece, que não perde o brilho. Assim, uma herança sem mácula diz respeito a uma vida isenta de pecado, de qualquer contaminação; uma herança imarcescível informa que não se trata apenas de uma vida para sempre, mas de uma vida excelente para sempre.

Não bastasse a herança ter características que apontam para um futuro cheio de esperança, Pedro ainda afirma que ela está reservada nos céus, ou seja, trata-se de algo garantido. É o que informa o verbo grego tereo – traduzido para o português por reservada – conjugado no tempo perfeito, cuja ideia é de uma ação completada, definitivamente. Nesse sentido, a herança dos crentes em Jesus não é uma possibilidade, mas uma certeza; não é algo que pode vir a se tornar realidade, mas já é uma realidade. Não há incertezas quanto ao que está por vir, e o que virá é o melhor! Nessa esperança está a alegria dos filhos de Deus.

Tristeza quanto ao presente: Após encorajar a confiança de seus leitores na pessoa de Cristo e na esperança quanto ao futuro, Pedro passa a tratar das adversidades que teriam de enfrentar no presente. Com essa atitude, ele deixa claro que a vida cristã não é uma fuga da realidade. O apóstolo ensina que o cristão de verdade precisa reconhecer que possui uma esperança viva no Cristo ressurreto e na herança futura, mas também precisa reconhecer que ainda vive cercado de perigos. Contudo, a intenção de Pedro é, na verdade, lembrar àqueles crentes que, mesmo em meio às dificuldades que teriam de enfrentar, tinham motivos para se alegrar.

No versículo 5a, ele apresenta o primeiro motivo de alegria dos cristãos em meio às provações: ... sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé. A importância dessa afirmação é a garantia de que as várias provações que eles enfrentariam estavam sob total controle de Deus. Diante de tamanha segurança, eles não tinham por que temer as aflições do presente, pois suas vidas estavam sob a guarda divina. A riqueza da mensagem de Pedro consiste em transmitir esperança sem negar o sofrimento. Para ele, estar seguro em Deus é ter certeza do controle divino sobre toda e qualquer situação adversa.

O segundo motivo por que os crentes em Jesus deveriam se alegrar pela sua condição presente está na expressão: ... por breve tempo (v. 6). O apóstolo ensina que as provações têm duração determinada por Deus. Por mais variadas que fossem as adversidades que eles passariam tinham tempo certo para acabar; não seriam permanentes, porque o Senhor, que está no controle de tudo, não permite que as provações de seus filhos excedam o tempo que lhes está estipulado.

Ainda no versículo 6, Pedro apresenta um terceiro motivo de alegria para os filhos de Deus, quando diz: ... se necessário. Isso diz respeito ao fato de que as provações não acontecem fora de um propósito divino. Não seria o imperador romano ou qualquer outra pessoa quem faria aos cristãos daquela época segundo bem lhe parecesse, mas era Deus quem determinara o propósito das provações que eles enfrentariam. E Pedro explica qual era o propósito: ... para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível (...), redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo (v.7).

Não é sem razão que, já de início, o apóstolo chama seus leitores à atenção para a redenção conquistada por Cristo, no passado, e para a herança garantida para o futuro: ele queria encorajá-los a suportarem os sofrimentos do presente, que estava no total controle de Deus. Portanto, eles teriam sempre motivos de alegria, mesmo quando padecessem perseguições, pois já viviam a nova vida que Cristo lhes conquistara e tinham a garantia de uma herança eterna e excelente. Na sequência deste estudo, veremos que esses mesmos motivos pertencem aos crentes de hoje.

II. PRATICANDO A PALAVRA DE DEUS

Cristo conquistou a nossa redenção - As expressões: “povo sem memória” ou “povo de memória curta” são usadas para se referir a um povo ou uma nação que não valoriza seu passado. Mas isso não pode se aplicar à igreja cristã, porque o povo de Deus depende do exercício de sua memória para perseverar na fé. Pedro deixa isso bem claro, quando encoraja os crentes dispersos a olharem para o passado e lembrarem a obra de Cristo por eles. Você, que faz parte da igreja do Senhor, precisa fazer o mesmo: lembre sempre a vitória de Jesus sobre a morte. Isso tornou possível a sua transformação em uma nova criatura e encherá seu coração de alegria.

Cristo protege a nossa herança - Não podemos esperar por qualquer estímulo mundano para pensarmos no futuro como motivo de alegria, porque o mundo pós-moderno a associa apenas ao presente. A sua ordem é a satisfação imediata; nada de esperas! Mas o evangelho de Jesus caminha em outra direção. É por isso que o apóstolo Pedro encoraja seus leitores a se firmarem numa esperança futura: a herança que está garantida aos filhos de Deus. Trata-se de uma certeza. Ninguém pode mudar isso, porque é o Senhor quem protege a herança de seus filhos. Portanto, você pode se alegrar desde já nessa esperança.

Cristo garante a nossa vitória - Os crentes a quem Pedro escreveu tiveram de passar por perseguições por causa do nome de Jesus. Com você não é e não será diferente. Você precisa manter-se fiel em um mundo que conspira contra sua fé. Muitos querem vê-lo tropeçar, só para terem um motivo a mais para zombar do evangelho. É assim mesmo: o crente em Jesus está cercado de perigos e perseguições. Mas não tenha medo! Confie naquele que garante a sua vitória sobre o pecado, aquele que é poderoso para não o deixar cair em tentação. O Deus a quem você serve é o mais interessado em que você saia vitorioso de toda perseguição. Você é guardado pelo poder de Deus.

CONCLUSÃO

Podemos dizer que nossa alegria tem nome: Jesus Cristo. O que ele fez por nós na cruz, sua ressurreição, seu cuidado em nos guardar em meio às provações e a esperança que mantém em nós na sua revelação são o sustento da nossa fé. Assim, toda a certeza que temos quanto ao passado, a nossa esperança quanto ao futuro e até mesmo a nossa tristeza quanto ao presente são, para Deus, um constante agora, porque ele é eterno. E ele torna atual para nós a sua palavra, assim como era atual para os crentes do primeiro século. Por isso, podemos ser alegres sempre. Não permita, portanto, que outros ensinos e os estímulos do mundo pós moderno tirem seus olhos dessa verdade. Não permita que as perseguições e as ansiedades do presente o desviem da esperança que você tem na garantia que Deus lhe dá. Você é salvo em Jesus Cristo – se ainda não o é, aceite a mensagem da morte e da ressurreição do Senhor – você é herdeiro de uma herança eterna e excelente e é guardado pelo poder de Deus. Alegre-se sempre nisso.

Que Deus nos abençoe!

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DEC - PC@maral

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