domingo, 24 de outubro de 2010

VÁRZEA ALEGRE NO PASSADO


Se a vida tivesse ré
Hoje eu teria engatado,
Pra escrever com mais fé
A história do passado.
Tinha parado esse mundo,
Na terra de São Raimundo
E passava a escrever.
Fazia tudo seguro,
Para no século futuro
Seu filho não esquecer.

Voltava aos anos cinqüenta
E escrevia a história,
Para nos anos noventa
Não sair mais da memória.
Fazia tudo perfeito,
Contando do mesmo jeito
Para geração futura.
Narrava toda a verdade,
Porque a minha cidade
Tem receita de cultura.

Eu começava a falar
Do dentista Elesbão,
Do misto de Zé Odmar,
De Zuza e do caminhão.
Do Bilhar de Antônio Diô,
Do curtume de Totô
E a bodega de Adalgisa.
Do poço de Seu Abel,
De Zé Júlio e o carrossel
E o cartório de Anízia.

Das cocadas de Alceu
De Alexandre e a moageira,
Da usina de Dirceu
E a máquina de Zé Teixeira.
Da farmácia de Nelinho,
Das malotas que Britinho
Fabricava na semana.
Das celas de João Bile,
Do carneiro de Zezé
E o alfinim de Santana.

Do cinema de Leó
E do bar de Zé de Lima,
Da banquinha de filó
Com bastante fruta em cima.
Das festinhas de reizado,
Das corridas lá do prado
E dos galos bom de briga.
Da turma de penitente,
Do leilão de São Vicente
E do terço da Formiga.

Quem viveu lá sei que viu
O clube de Zé Colares,
O Circo Estrela Brasil
De Loudinha e Zé Soares.
Quem viveu ali com nós,
Viu Antônia dos Filhós
Vendendo e fazendo mais.
Viu Belizário com fumo,
Afonso Doido sem rumo
Bogim com seus animais.

As flores de Valdeliz
E as fotos de Jesus,
As presepadas que fiz
Quando lá faltava luz.
Me lembro que todo dia,
Geraldo gago vendia
Pirulito com pão doce.
Mas tudo isso é lembrança,
Do meu tempo de criança
Que a muito tempo acabou-se.

Mundim do Vale
26-10-96

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