sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ao amor de Setembro


Ah! que saudades que tenho
Da inocência da minha adolescência
Ah! se soubesse que o tempo não pára
Que a melhor idade ficou lá atrás!
Quanta doçura, ternura, tudo florescia...
Lembro-me dos finais de tarde,


que saía ao portão só pra te ver passar
Naquelas tardes os anjos do céu entoavam
as mais sublimes melodias...
Meu corpo estremecia, minha face ruborescia ...


Quando você passava, era como um furacão me arrancando o chão...
Seu olhar brejeiro de moreno faceiro, aquele sorriso meio de canto,eram como anzóis, içando sem dó meu coração
Minha alma transpirava uma alucinação desconhecida
ainda que respirasse inocência...


-Até um belo dia, jamais esquecido...
Era numa manhã de Setembro, fiquei a lhe espreitar pela fresta da janela
De longe meu coração lhe avistou, pulando quase de salto pela boca
Corri para o portão, com a chave na mão, fingindo não lhe ver
-Você com aquela voz que causava turbilhões no meu estômago
Sorriu, e perguntou: Onde minha namoradinha está indo?
-E, eu quase sem voz, toda sem graça, com as pernas cambaliantes
lhe respondi gaguejando com meio sorriso: Vou comprar pão e leite, e você?
-Mas, é claro que eu já sabia! ...pensava comigo: Hoje quero ao menos despretensiosamente tocar em sua pele.


-E ele, respondia com um sorriso que, quase não o ouvia; por estar em transe: É mesmo, meu amor?! ... então vamos juntos! -respondeu colocando o braço em volta dos meus ombros. Meu Deus! Pensei comigo: Será que vou morrer, ou desmaiar? ...por favor não deixe que isto aconteça, e, se acontecer, permita que seja depois do meu primeiro beijo. -Acho que esta foi a oração mais pura, e cheia de fé que já fiz na vida.
-A padaria era bem perto de casa, mas, aquele dia foram quilômetros de distância. -Meu corpo, minhas pernas tremiam sem parar, minhas mãos transpiravam sensações de primeiro amor. O que era aquilo?


-Meu coração disparado, multi sensações, líquidos em ebulição, o sangue em minhas veias ferviam em todo meu corpo. -Ele parecia tranquilo, falava coisas que não entendia, apenas balançava a cabeça com sinal positivo.
-Em cada sorriso, e olhar eram como fechas lançadas diretamente ao meu coração... -Se doía? Sim! mas, era a dor mais gostosa de se sentir. -Só estava com medo, de viciar-me! -Mas, isto não importava... a unica coisa que pensava era: -Será que ele irá me beijar? Era como uma goteira, a todo instante, atormentando, buscando resposta, a todo instante... -Ele não parava de falar, e a lançar aquelas setas entorpecentes, que me atravessavam sem nenhuma piedade. -Eu nem percebi que já estava-mos na fila dos pães... -Fiquei vermelha de vergonha, quando ele soltou uma gargalhada, dizendo: -Ei? menina linda, acorda! ...é sua vez de pedir os pães.-Todos ao redor, me olharam com espanto, e pressa... -Balbuciei meu pedido ao balconista: quero dez pães, e um litro de leite b! -E, ele me fitava dos pés a cabeça, com um olhar que sentia percorrer todo meu corpo. -Sem graça, eu lhe perguntava: O que foi? E ele, respondia passando a mão em meus cabelos longos e negros: Não é nada não, meu amor; só estou observando de perto, o quando você é linda! -E, em seguida pegou minha mão, e disse: Como suas mãos são macias, você está tremendo?!... e soltou uma risadinha tão sapeca, que pensei: pronto, agora eu morro mesmo! -E,mais uma vez... me desperto com o tom de voz áspero do balconista que, praticamente grita: Garota, vai querer o pão, ou não?! -Balancei a cabeça que sim, mas, eu mesma não estava ali... só conseguia ouvir a goteira que ficara mais insistente com a pergunta: Será que ele vai te beijar? Será, será, será...? E ia intercalando com uma afirmação: Você não sabe beijar, não sabe, não sabe...!
-Eu não imaginava que a volta pra casa naquele dia, marcaria por toda a minha vida. -Durante o caminho, ele me olhou com doçura, e olhar brilhante, oferecendo sua mão.
-Mais que depressa aceitei aquela mão forte, firme, linda, segurar a minha...
-E voltamos como namoradinhos, nossas mãos coladas... a minha tremia, e transpirava... -Não falamos uma palavra, parecia que todos os sons se resumiam em nossas ofegantes respiração.
-Quando faltava três casas da minha, ele me puxou pela mão, levando-me para debaixo de uma pequena cobertura de uma casa de gente rica ali do bairro; uma espécie de abrigo para facilitar a medição do relógio de energia da casa.
-Eu não disse uma palavra, apenas confiava nele. Gentilmente, ele pegou o leite e os pães, colocando-os com cuidado em cima da caixa do relógio...
-Acomodou-se naquela parede, puxando-me docemente pra junto do seu corpo, colocando as mãos em volta da minha cintura...
-Foi o abraço mais gostoso e demorado que já recebi! -Ficamos ali, abraçados, sem palavras, apenas nossa respiração, nossos cheiros se misturando. -Ele acariciava meus cabelos, meu rosto, minha boca, como se estivesse desenhando cada traço...
-Me olhava com um olhar penetrante; que lançava chamas, simplesmente consumindo-me...
-Naquele momento, eu era uma floresta em chamas, e o fogo era avassalador... não poupava nada! -Meu coração já havia derretido...
-E aquela goteira já não atormentava mais os pensamentos, estava lenta, quase escassa... -Meus lábios ardiam em brasas, sedentos, quase que clamavam pela água daqueles beijos, meu primeiro beijo.
Ah! que saudades de um tempo que não volta mais...
E hoje é Setembro
E você, não está aqui
Se te reencontrasse
viveria tudo outra vez, só que com muito mais
intensidade.

Lene Soares

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