terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Temor do Senhor é o Principio da Sabedoria


Minha aliança com ele foi de vida e paz; ambas lhe dei eu para que me temesse; com efeito, ele me temeu e tremeu por causa do meu nome. (Ml 2:5)

Aliança é um tratado de paz entre duas partes. Na aliança feita entre Deus e os levitas o Senhor dá a melhor demonstração de sua boa vontade, não somente para com essa tribo escolhida para cuidar dos serviços religiosos, mas também, e por extensão, para com todo o povo de Israel. Porém, tão importante e necessária quanto essa aliança, era a manutenção dela por parte daqueles com quem fora feita: os levitas. Estes deveriam demonstrar, também, como prova do seu interesse pela manutenção dessa aliança, obediência e temor ao nome de Deus.

Foi no livro do profeta Malaquias, e especialmente no versículo 5 do capítulo 2, que embasamos este artigo. Nele, os destaques são para a aliança feita por Deus com os levitas e o temor devidos ao seu nome, como condições necessárias à manutenção da referida aliança. Da tribo de Levi saíram todos os sacerdotes, que eram os ministradores do templo, os intermediários entre os homens e Deus. Através deles, o povo recebia orientação espiritual e o perdão dos pecados, mediante o oferecimento de sacrifícios. A aliança com os levitas e o que Deus esperava como resultado dela constitui o nosso tema. Vejamos o que o Senhor disse, por meio de Malaquias.

1. Minha aliança com ele: Na aliança, pelo menos duas partes precisam estar envolvidas. Antes da aliança, cada parte podia ser: amiga, inimiga ou indiferente. Depois dela, cada parte se compromete a adotar, em relação à outra, uma convivência de reciprocidade. A verdadeira aliança exige reciprocidade. Isto significa que envolve compromissos que precisam ser correspondidos por ambas as partes. Nesta aliança feita com os levitas, Deus se comprometeu a cumprir a parte que lhe cabia, e esperava que o mesmo acontecesse com os levitas, ou seja, cada parte devia cumprir fielmente os termos da aliança. Feitas entre os homens, as alianças normalmente têm um caráter político ou militar. Feitas entre Deus e seu povo, são a garantia de que Deus se tornou um aliado desse povo, passando a lutar em favor dele. Estamos tratando da aliança de Deus com Levi e do objetivo pretendido por aquele, em relação a este (cf. Ml 2:5). Era dever dos levitas, e especialmente dos sacerdotes, interpretarem essa atitude de Deus como um sinal de sua boa vontade para com eles, à qual deveriam corresponder com igual demonstração de boa vontade, pois é um grande privilégio viver em aliança com Deus.

2. Foi de vida e de paz: Várias foram as alianças ou pactos feitos por Deus com personagens importantes dentre os filhos do seu povo: Noé, Abraão, Moisés, Davi, etc. Fez ele alianças também com a própria nação israelita, e esta, por sua vez, também fez alianças com outros povos, para garantir sua sobrevivência. Porém, a aliança feita com Deus, neste caso específico, tinha como finalidade proporcionar vida, paz, segurança e tranquilidade a todo o povo, além de ser a certeza de um bom relacionamento entre ele e os sacerdotes. Era este o propósito de Deus para esse povo. Manter boas relações com seu povo sempre esteve nos planos de Deus: Porque eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais (Jr 29:11). Daí a declaração de que a aliança que Deus fez com Levi foi de vida e paz. Porém, para que estas coisas se tornassem realidade, os sacerdotes precisavam cumprir com a parte que lhes cabia na aliança: guiar o povo com sabedoria, servindo-lhe de exemplo. Estes, porém, acabaram se esquecendo de Deus e, com isso, o povo que era por eles orientado também se desviou.

3. Ambas lhe dei eu para que me temesse: Vida e paz são bens espirituais importantes. Sem a vida, todos os outros bens seriam nulos; e a vida sem paz também não teria sentido. E estas duas coisas vêm de Deus: toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação (At 17:25b; Tg 1:17). Este era o reconhecimento que Deus esperava da parte desses líderes, pois, ao fazer aliança com Levi e com os sacerdotes, ele lhes deu vida e paz para que temessem o seu nome, tendo o devido cuidado para não o ofenderem. As bênçãos devem nos levar a expressar um profundo temor a Deus: Para que me temesse (Ml 2:5c). “Aquele que ‘teme’ a Deus concretizará seu temor numa retidão ou piedade que se manifesta na prática. Jó, como alguém temente a Deus, evita o mal (Jó 1:1). O Salmo 128:1 diz que a pessoa que ‘teme’ ao Senhor anda nos caminhos de Deus. Os que temem ao Senhor podem ser aqueles cuja piedade pessoal se manifesta numa reação positiva à mensagem divina” [Harris (1998:656)]. Temos nós dado provas de que tememos a Deus? Não nos esqueçamos de uma coisa, a melhor prova que podemos dar do nosso temor a Deus consiste em nos sujeitarmos às suas determinações (cf. Ec 12:13).

4. E ele me temeu e tremeu: Ao dizer: “E ele me temeu e tremeu”, o Senhor provavelmente esteja se referindo aos “dias antigos” ou aos “primeiros anos”, quando ainda prevalecia o primeiro amor (Ml 3:4). O temor é a primeira das quatro coisas que o Senhor pede do crente, conforme Dt 10:12. Esse temor não é como muitos possam imaginar o medo apavorante, como se Deus fosse um déspota desumano, arbitrário e cruel, sempre pronto a punir com rigor por qualquer motivo. Temer a Deus, neste caso, está relacionado ao respeito, que todos devemos ter, para não o ofendermos e nem o entristecermos com as nossas más obras. Só o temor a Deus pode nos livrar da sedução do pecado. Só o temor do Senhor pode nos livrar das concupiscências da carne. Só o temor do Senhor pode nos livrar dos encantos do mundo. “Só o temor a Deus pode nos livrar de temer os homens. Aquele que treme diante do nome de Deus não teme açoites, prisões, nem mesmo a morte. (...) Quem teme a Deus não teme a mais ninguém” [Lopes (2006:53)]. Daí a mensagem de Deus para o nosso tempo: Temei a Deus e dai-lhe glória; porque vinda é a hora do seu juízo (Ap 14:7). E o temor do Senhor é uma fonte de vida, para preservar dos laços da morte (Pv 14:27).

Até aqui falamos da aliança feita por Deus com os levitas e do temor que a ele deveriam corresponder. Essa aliança evidenciava a bondade de Deus para com os levitas, a quem ele queria abençoar e fazer feliz. Para que isso acontecesse, era preciso que os sacerdotes fossem fiéis, obedientes e tementes ao nome de Deus. Cumpria-lhes também servir de exemplo para o povo. No princípio, até foram obedientes, mas, aos poucos, foram se desviando de Deus, no que foram seguidos pelo povo.

PRATICANDO A PALAVRA DE DEUS

O temor do Senhor nos livra da inquietação - O temor a Deus afasta toda a inquietação. Temendo a Deus, o crente está em paz consigo mesmo, sente-se seguro e confiante; tem a certeza de que Deus o ama e vai cuidar dele; não se aflige quando vêm as dificuldades, pois crê na providência divina. Então, como Davi, poderá dizer: O Senhor é o meu pastor; nada me faltará (Sl 23:1). Por isso, diz a Escritura: Melhor é pouco havendo o temor do Senhor, do que grande tesouro onde há inquietação (Pv 15:26). No temor do Senhor tem o homem forte amparo, e isso é refúgio para os seus filhos (Pv 14:26). Temos nós demonstrado temor em nosso relacionamento com Deus?

O temor do Senhor nos livra da imoralidade - Como crentes que somos, Deus espera de nós que exerçamos controle sobre nossos instintos naturais e demonstremos o nosso temor a ele. Toda pessoa que teme a Deus não se deixa dominar por nenhum desejo impuro ou pecaminoso. Esses desejos manifestam-se através de pensamentos, palavras e ações. Quando, porém, houver temor em nós, conservaremos puros a nossa mente e os nossos corpos, onde quer que estejamos, e nos manteremos sempre lembrados das palavras da Escritura, que diz: Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação (I Ts 4:7). O temor a Deus nos livra da imoralidade.

O temor do Senhor nos livra da negligência - Ser negligente é ser descuidado, desatento; é tratar as questões relativas à fé como se fosse de pouca ou de nenhuma importância; é tratar as coisas concernentes a Deus com descaso; é fazer a obra do Senhor relaxadamente (Jr 48:10). Os levitas se tornaram negligentes quando lhes faltou o temor, pois onde há temor não há espaço para a negligência. Pelo contrario, o temor a Deus nos livra da negligência. Que o desejo de Deus expresso nas palavras que seguem se cumpram em nossas vidas: Mas desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim (...) para que vos não façais negligentes (Hb 6:12).

CONCLUSÃO

Na aliança de que nos fala o texto de Ml 2:5, Deus tinha como propósito proporcionar vida e paz, não só aos levitas e à classe sacerdotal, mas, por extensão, a todo o Israel. Não se trata da vida e da paz comuns, mas da vida e da paz interiores, que produzem a agradável sensação do dever cumprido. Entretanto, os levitas não cumpriram a parte da aliança que lhes tocava. Foram negligentes, faltando com o temor e o respeito devidos a Deus e se esqueceram de que é o temor ao Senhor que livra da inquietação, da imoralidade e da negligência.

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DEC - PC@maral

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