Vez por outra encontro sacerdotes ou leigos que dizem que preferem falar do espiritual e que deixam para os outros isso de falar dos problemas pessoais. Como se fosse correto! Nenhum pregador está dispensado de falar contra a tortura, contra o roubo e a corrupção, contra as drogas, contra os assassinatos, contra a exploração dos pobres, contra a injustiça e a escravidão.
Quem nunca entra nesses assuntos, errou de vocação. É como querer levar o chantili sem levar o bolo; ou como pregar apenas a ressurreição sem falar de cruz e de morte. Nenhum cristão está dispensado de falar sobre a dor do povo e as injustiças do nosso tempo. Até porque, falar em favor do povo não é apenas atitude política: é dever de religioso. Quando Ester defendeu seu povo, estava fazendo política. Quando Moisés orou por seu povo fez muito bem. Quando brigou por seu povo, fez muito bem. Mas quando, irado, mandou matar três mil idólatras, fez muito mal. Nisso, ele errou, porque Deus não manda matar ninguém.
O perigo de olhar muito para o céu é que a pessoa corre o risco de ficar cega. Luz, na posição certa, ilumina. Nos olhos, cega! O problema do fanático é bem esse. Acha-se tão iluminado que acaba cego. Os evangelistas dizem que Jesus olhava para o céu de vez em quando ao orar (Mt 14,19; Lc 9,16). Os Atos dos Apóstolos narram que, enquanto os discípulos olhavam para o céu, procurando Jesus, que para lá subira, dois homens de branco,ao lado deles, disseram que não deviam mais procurar Jesus lá em cima e, sim, aqui em baixo, porque um dia ele voltaria (At 1,11). E é bem por isso que muitos de nós religiosos vemos com respeito a teologia da libertação, que consiste em olhar para o irmão ao lado e convidá-lo a trazer um pouco do Céu para a Terra.
Se a Bíblia nos manda olhar menos para o céu, deve ser porque ficar o tempo todo olhando para o céu, além de causar torcicolo é não entender a fé cristã... Se Jesus fazia as duas coisas, devemos fazer o mesmo: orar para o alto em sinal de respeito para com Deus, que é muito maior do que nós, e para o lado, em sinal de respeito para com o Zé da Silva e a Maria das Dores, que precisam de nossos cuidados...
Pe. Zezinho, scj
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