O pecado maior é a indiferença. – o mínimo gesto de reconhecimento do outro confirma... Que existo!
Parafraseando Descartes, poderíamos dizer: “você me conhece, portanto sou, portanto vivo!”
Ser ignorado, marginalizado, preterido, ofuscado é o pior tormento para um coração humano. Mais pungente e cruel que o próprio ódio. Porque o ódio ao menos nos dá migalhas de atenção...
Já William James confessava: “não se poderia imaginar pior castigo do que ser jogado à toa na sociedade e permanecer absolutamente despercebido por todos os seus membros”.
90% dos suicidas terminaram com sua vida porque estouraram de solidão! Aprovações e esquecimentos alternam-se em nosso cotidiano, em variações de intensidade e extensão, de qualidade ou quantidade. Posso ser esquecido ou aceito, parcial ou totalmente.
Aquele patrão, colega, ou parente me aceita... Em alguns aspectos. Nega-me em outros. Aceita meu trabalho. Nega minha companhia, como amigo. Enquanto lhe sou útil, em seus planos, em seus interesses: tudo OK, tudo jóia! Depois, coloca-me de escanteio. Viro um trapo, despojo velho, peça de museu.
Variam os modos de aceitação e negação – Há sorrisos de aprovação e de desdém. Apertos de Mãos frios e calorosos. Beijos de amizade e de traição. Gestos de simpatia e de menosprezo. Olhares cúmplices e olhares inocentes.
A vida é tecida de ambivalência, dicotomia, ambigüidades. Porque a vida é como o homem.
Posso ser valorizado num nível e negado em outro. Votos de confiança, cartas, telefonemas, visitas, pequenos presentes, confidências partilhadas, entram no terreno da afirmação, da aceitação. Frieza, antipatia, esquecimentos, desaforos, pirraças, indiferença, são negações.
Negam-me uns. Aceitam-me outros. Aqui e ali, perco amigos. La adiante encontro outros. A vida tem dessas compensações, Deus seja louvado!
O pai não consegue esconder suas preferências pela Marilu. A mãe prefere o Zeca, ao menos secretamente. Na comunidade religiosa, uma Irmã é subestimada, mas goza de largo prestígio e aceitação fora, na paróquia, no colégio onde leciona. Para alguns alunos da mesma classe, o professor Hildebrando é uma sumidade. Para outros, uma negação.
Há também pseudo-aceitações. – Os outros simulam apreciar-me. Na verdade, isso é mentira, tapeação. Amigos falsos usando máscaras, fazendo de conta, bancando o amigo-da-onça.
Há pessoas sem olho clínico. Não percebem sua ingenuidade, a diferença entre a verdade e o ambuste, entre a aceitação genuína e a pseudo-aceitação. Falta-lhes algo importantíssimo, especialmente num século de tantas máscaras e tanta desonestidade. Falta-lhes um aparelhinho precioso chamado: DESCONFIÔMETRO!
É legião o número daqueles que jamais desconfiam. Acreditam pia e cegamente em tudo e em todos. Vivem na ilusão, nas nuvens, na estratosfera.
O valor de cada pessoa. – Introduzindo a lei do amor, como mandamento fundamental do cristão, Cristo lembra-nos o supremo valor da pessoa humana, o tesouro inestimável de cada criatura.
Quem rejeita, quem nega seu próximo, não tem direito a ser classificado de cristão. É um traidor do evangelho.
Deve ser frustrante, a, arrasador, aparecer um dia diante do julgamento final e ter que ouvir: “só posso rejeitar-te, na felicidade eterna. Passaste a vida inteira rejeitando a MIM, na pessoa de teus irmãos, lá na terra... Afasta-te!”
Livres, podemos rejeitar ou trazer Deus para dentro de nossa existência. A opção é toda nossa, porque ele não força ninguém. Mas vale recordar aquela estrofe da canção pelo Padre Zezinho:
”Disseram que você já era
Uma quimera que já passou.
Disseram que na Galiléia
Nem sequer a idéia de você ficou.
Os homens ainda fazem guerra
E fazem pouco caso do que você diz.
Amor como você viveu,
O mundo esqueceu... “Porém, não é feliz.”
Roque Schneider
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