sexta-feira, 23 de abril de 2010
A Mulher e o Homem
Escritores, filósofos, psicólogos, poetas, pessoas comuns e outros seres falantes tentaram descrever, de forma acabada, com adjetivos definitivos, o Homem e a Mulher. Das tentativas que eu conheço, a mais bonita é a de Victor Hugo. Ele consegue evidenciar as diferenças sem degradar nenhum, pelo contrário, eleva-os a uma categoria divina, que nos fazem presumir serem obras de um ser muito superior.
Com todo respeito a Victor Hugo e a todos os outros, quero falar sobre homens e mulheres sem idealizá-los, concentrando-me na vida real, no calor da convivência diária, com dores, alegrias, decepções, frustrações e conquistas.
É bom lembrarmos que os homens e as mulheres mudaram muito, ao longo da história, com estas ocupando espaços, hoje, que em outros tempos eram muito “inadequados”. Limitações defendidas pelas religiões, que, de certa forma, masculinizaram Deus e “feminilizaram” o diabo.
Todos os processos culturais, embora diferenciados, mantiveram em comum a realização instintiva da reprodução da espécie, numa estrutura em que se preservava a união básica entre os dois, homem e mulher, para a garantia do desenvolvimento da cria, cuja dependência exigia uma proteção fortalecida pela organização de um núcleo, com tarefas bem definidas. Em princípio, o homem, por ser fisicamente mais adequado às tarefas perigosas, saía para caçar e guerrear. A mulher permanecia em “casa”, fazendo os, não menos pesados, trabalhos domésticos e cuidando dos filhos. Uma vida simples, saudável e com as dificuldades próprias da situação. Os anseios resumiam-se na garantia do alimento e da sobrevivência do núcleo familiar. O homem era o provedor, o que tinha o poder e a força. Achava-se ele, portanto, mais habilitado a ser o interlocutor dos Deuses, chegando a oferecer as mulheres, em sacrifício, para acalmá-los. Talvez, como os animais totêmicos, a mulher tenha sido uma das primeiras versões de moeda. O homem já demonstrava o seu egoísmo, num ato em que dizia aos deuses: se queres um de nós que pegues a mulher.
Louve-se a mulher, que, a despeito da história, dos livros sagrados; das religiões; dos homens; da desvalorização do seu árduo trabalho doméstico e de sua capacidade gestacional, conseguiu se reclassificar na avaliação da importância dos membros do casal, saindo da condição de coadjuvante para tão importante parceira, não só na realização das tarefas para proteção do núcleo, mas, fundamentalmente, na construção de uma civilização menos arrogante, mais sensível, mais preservadora e mais honesta. E se algumas cometem certos erros é porque se deixaram contaminar pelas práticas dos homens, no que de pior eles têm.
As mulheres estabeleceram uma meta e não é a igualdade com os homens. Isto não só é impossível, dada as características diferentes, mas desnecessário, porque elas querem ser mulheres, com direito a viverem todo o seu potencial, e não ser como os homens. Elas não querem ser apenas objeto da poesia, da filosofia ou da psicologia; elas querem viver a poesia, filosofar e realizar-se em toda a sua psique.
Os homens, antes patriarcas do núcleo, as figuras que determinavam os caminhos, olham, hoje, com perplexidade, as mulheres passarem em suas caminhadas rumo a elas mesmas, e nem percebem que elas os convidam. E se não cuidarem elas vão mesmo sozinhas. Eles, por sua vez, não sabem mais andar, estão parados, porque, na realidade, nunca souberam, sempre tiveram o apoio das mulheres. Estas sim, descobriram que podem ir longe, sem eles. Melhor com eles, se quiserem.. Não com os homens fragilizados pela perda da hegemonia, mas com os homens que reconhecem as mulheres como guia e que possam segui-las , pois elas carregam consigo um mapa de um caminho menos tortuoso. Um caminho que os levará para uma vida mais promissora, onde o amor é a palavra chave, onde o feminino e o masculino não sejam apenas referências para diferenciar o sexo e sim elementos base de um ser humano único, mais completo, fundidos com um só interesse: a elevação da vida como a verdadeira obra-prima da Natureza. Enquanto isso é assim que vejo o homem e a mulher. A mulher idealizando-se a cada conquista e o homem desconstruindo-se enquanto ideal. Neste momento, em que eles se cruzam em jornadas cujo caminhos têm sentidos opostos, é a oportunidade de se unirem, desta vez sob o comando das forças femininas, para reescreverem a história da humanidade.
Paulo Viana
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