segunda-feira, 12 de abril de 2010
"O ARRANCA-RABO DE YOKO ONO COM MARIA BONITA" OU "A DESANVENTURA DE JOHN LENNON E LAMPIÃO"
No mundo, ao qual habitamos,
As injustiças imperam
As guerras se multiplicam
As vidas se desoneram
E sem justiça social
Os povos se desesperam.
No século, que se passou
Houve muita tirania,
Assisti guerras horrendas,
Multidões em agonia,
Porém, a paz almejada
Não saiu da fantasia.
O tempo assim vai passando...
A esperança também!
A insegurança aumentando
Não tem pena de ninguém
E a tão sonhada igualdade
Voa alto... Muito além!
Nesse cenário esquisito
Observo sempre, atento,
O pensamento reinante
Do povo em movimento
E um caso interessante
Narro aqui, nesse momento.
Certo dia de domingo,
Num plantão no hospital,
Atendi a um paciente,
Que em sua casa passou mal,
Tendo um quadro de delírio
Quase sobrenatural.
Narrativa de valor
Chamou a todos à atenção:
Um homem muito educado
De bem traçada feição
Após grande bebedeira
Pôs a mente em confusão.
Um episódio delirante
Após parar de beber
Fez-lhe bastante agitado
Sem vontade de viver
Porém, ao ser medicado
Filosofou com prazer:
- Eu sempre fui defensor
Da justiça social
E eterno incentivador
Da concórdia universal,
Daí, nutrir grande crença
De ver a paz mundial.
Enquanto o homem sonhava
O seu olhar foi pro teto
Vislumbrou grandes besouros
Sob a laje de concreto
E delirando, de fato,
Foi falando bem direto:
- Silêncio! Peço silêncio!
Pois assisto a uma visão:
Vejo uma mulher brigando
Xingando uma outra, então,
É a esposa de John Lennon
Com a mulher de Lampião.
Yoko:
Quem você pensa que é
Cangaceirinha atrevida
Pra falar mal do meu Lennon,
Que defendeu sempre a vida,
Você tem é muita inveja
Por ser tão desprotegida.
Maria:
Não me sinto garantida
Nesse mundo injustiçado,
Onde o rico oprime o pobre
Com plano já bem traçado;
Pois se o Lennon quis a paz
Não chegou no meu roçado.
Yoko:
Um planeta abençoado
Foi o que Lennon mais pediu.
Criticando sempre as guerras,
Da violência, fugiu,
Não concretizando o sonho
Do nosso mundo partiu.
Maria:
Sei o quanto ele insistiu
Nessa determinação
E que utilizou o rock
Com bastante precisão
Porém, foi assassinado
Como foi o meu Lampião.
Yoko:
Neste ponto, tens razão,
Ó criatura rural!
Pois a dupla sucumbiu
Na busca de um ideal:
O Lennon buscando o bem
E o teu Lampião, o mal.
Maria:
Se ele usou o seu punhal
Na labuta do cangaço
Foi para fazer justiça
Com fé e sem embaraço
Numa afronta aos coronéis
Que mandavam no pedaço.
Yoko:
Virgem fica sem espaço
Nas andanças do teu bando
Pois o grupo em algazarra
Pela mata ia estuprando
As donzelas mais bonitas:
Era assim, de quando em quando.
Maria:
Já que queres me lembrar
De pendenga sexual
No bando de Liverpool
Tinha um rapaz genial
Que traçava gente moça
Mesmo intelectual.
Yoko:
Não compare o bem com o mal
Catitinha do sertão
O John Lennon tinha estampa
Era um tipo bonitão
Tinha os seus cabelos longos
E artefato na visão.
Maria:
Parece é com Lampião
A sua descrição veemente
Pois Virgulino ostentava
Sua fama de valente
Com uns óculos redondinhos
E cabeleira decente.
Yoko:
Tu tens fama de valente
E és bastante atrevida
Em comparar o teu marido,
Semelhança merecida,
Porém, a mente, do meu
Tem pureza garantida.
Maria:
Não se faça de vencida
Japonesa alvoroçada.
Tu mandas no teu marido
E ele só tem fachada;
Os ingleses que o digam
Sua cobra disfarçada.
Yoko:
A nossa rainha amada
Deu-lhe um título de valor
Membro do Império Britânico
Foi cedido a primor
Devido a sua importância
O chamaram de senhor.
Maria:
Ele viveu o esplendor
Na certa, bem merecido;
Todavia, Lampião
Não ficaria esquecido;
O título de Capitão,
Deu-lhe as tropas, do partido.
Yoko:
O governo ressentido
Com o Carlos Prestes em ação
Cedeu-lhe a nobre patente,
Mas não deu de coração,
E jogo de interesse
Para mim não vale, não!
Maria:
O jogo da sedução
Habita todo Poder.
A rainha Elisabeth
Também quis enaltecer
Os interesses do Reino
E a todos favorecer.
Yoko:
A mídia lhe dá prazer,
Vejo bem em seu olhar,
Pois falas com emoção
Ao, este tema, abordar
A política te fascina
Você não pode negar.
Maria:
Insisto em acreditar
Que um dia vencerei,
Pois com a vida cangaceira
Jamais edificarei;
Porém, temo que este sonho
Eu jamais construirei.
Yoko:
O sonho é o nosso rei
É o nosso grande acalanto
Você sonha em ser livre
Eu já sonho com o canto
O canto da paz fraterna
Para mascarar o pranto.
Maria:
Na realidade eu me espanto
E o meu sonho de desfaz;
Não acredito em mais nada
Tenho esperança fugaz
E o seu John Lennon querido
Nunca foi um bom rapaz.
Yoko:
Você nunca terá paz
Com amargura tamanha.
Mesmo você bem trajada
E com toda essa artimanha
Nesse modelo esquisito
Até parece uma estranha.
Maria:
A minha grande façanha
No sertão ou na cidade
É trabalhar bem o couro
Com enorme variedade
Bordar, cozer e cerzir
Dá-me enorme vaidade.
Yoko:
Com toda cumplicidade
Quero aqui me permitir
Dizer que o John Lennon tinha
Nobre gosto no vestir
E sendo ele bem vaidoso
Sempre soube construir.
Maria:
Eu venho aqui garantir
Que o Virgulino disputa:
Em moda, ele é mais esperto
Que qualquer filho da puta,
Desculpe o atrevimento
Mas você não me recruta.
Yoko:
Você não sabe a labuta
De vestir-se bem decente
O Lennon, em várias lojas,
Só compra roupa atraente
Diferenciando o ídolo
Do normal de muita gente.
Maria:
O ídolo é quem faz a mente,
Muda o costume do novo,
Porém, Lampião é mito
E o mito quem faz é o povo
Sua roupa não é comprada,
É autêntica como um ovo.
Yoko:
Repita você, de novo,
Que Lampião é o melhor!
Na criação e no canto
O Lennon é muito maior
Na busca da liberdade
A guerra ficou menor.
Maria:
No quanto pior, melhor,
O cangaço teve astral
Na escopeta, na bala,
Nós fizemos tudo igual
Na busca da liberdade
A guerra foi natural.
Yoko:
O Lampião fez por mal
Tantas coisas no sertão:
Capando homens de bem
Roubando feito ladrão
Foi pior que Satanás,
Isso eu não entendo, não!
Maria:
Homem de bom coração
No bom Deus ele acredita
O Lampião tinha a fé
O Lennon tinha a catita
No chão, foi tão conhecido
Quanto Jesus, ele cita.
Yoko:
A sua filha Expedita
Sabe que não foi assim.
Quando falou em Jesus
Não foi querendo ser ruim
Só quis demonstrar prestígio,
Ele confessou a mim.
Maria:
Você foi o estopim
Do sonho que acabou
Manipulou o John Lennon
O seu fã-clube frustrou
Desfez a Beatlemania
Sua mão pequena abalou.
Yoko:
A mão pequena afastou-me
Do sonho bom do meu pai
De tornar-me pianista,
A lembrança não me sai.
Daí, passei a cantar
Pois o sucesso me atrai.
Maria
Tua mão pequena não vai
Dedilhar num recital
Bem diferente de mim
Que tem um par bastante igual
E que com habilidade
Manuseio o meu punhal.
Yoko
Cabeçuda sem astral
Você só ver violência
Lennon elevou a cabeça
Pela sua inteligência
E pregou a paz no mundo
Com bastante paciência.
Maria
Não venha com eloqüência
Desmerecer o cangaço
Tivemos um ideal
Preenchemos nosso espaço
Também tivemos cabeças
Não víamos um embaraço.
Yoko
No sufoco do mormaço
Da caatinga abandonada
Vi o teu herói nordestino
Ter a cabeça elevada
Não por ter inteligência
Mas por tê-la decepada.
Maria
Fico decepcionada
Pela maneira brutal
Que você retrata o mito
Como de fosse um animal
Porém demonstro a você
Um Lampião imortal.
Yoko:
Eu sou internacional
E devo admitir:
Que o cangaço teve história
Fez o oprimido sair
Clamando por liberdade,
Só desejando ir e vir.
Maria:
Crendo muito no porvir
Sou também universal
Os Beatles fizeram história
Lennon tornou-se imortal
Clamando por liberdade
Pregou o amor fraternal.
Yoko e Maria:
No tablado da vida vai crescer
A esperança do povo em tom de crença
Desistindo, porém, da desavença
Que nutria o cangaço pra valer.
John Lennon lutou pra fortalecer
O seu franco ideal de liberdade.
Lampião trabalhou com crueldade
Pra justiça social crescer valente
Matou cabo, soldado e muita gente
Nessa luta cruel por igualdade.
Autor: Sávio Pinheiro, médico e cordelista natural de Várzea Alegre-CE, que, segundo notícia do Jornal A Praça, de Iguatu, de 25.08.2007, "vem usando a literatura de Cordel para divulgar seus projetos na área de Saúde da Família e por conta disso já ganhou vários prêmios nesta área em todo o Brasil". Quem enviou o material foi meu amigo e colaborador Ricardo Piau, varzealegranse dos bons, morando no Juazeiro do Norte do meu Padim Ciço.
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Muito lindo!!!!!
ResponderExcluirA inteligência e a força da mulher.... Sempre.
Zé Sávio, parabéns por mais este trabalho!!
Muito boa , eu conheço a do Lampião contra kong Fu rsrs acho que é esse o tíulo.
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