sexta-feira, 4 de junho de 2010
A arte de gostar de uma mulher.
Ainda nos meus tempos de graduação em jornalismo na Uerj, fui assistir a uma
palestra do fotógrafo André Arruda, que foi do JB, Globo e trabalhava, entre
outras coisas, com moda. Em determinado momento da palestra ele relatava a
sua experiência em fotografar nu artístico e soltou a seguinte frase: "para
fotografar nu feminino é preciso gostar de mulher".
Eu sorri, porque na minha cabeça aquilo parecia meio óbvio, mas antes que
qualquer um fizesse algum comentário ele completou:
- Não se trata de gostar de mulher no sentido sexual, ter tesão por mulher
nua, essas coisas. Isso pode ter também. Mas se trata de gostar de mulher em
um sentido mais profundo. Gostar do universo feminino. Observar que cada
calcinha é única, tem uma rendinha diferente e ficar entretido com isso -
afirmou.
O fato é que eu concordo com o conceito do Arruda sobre gostar de mulher.
Não basta ser heterossexual, o machão latino. Para gostar de verdade de uma
mulher são necessários outros requisitos que são raros. Por isso a mulherada
anda tão insatisfeita. Sensibilidade é fundamental. Paciência também.
O homem que não tem paciência para escutar a necessidade que a mulher tem de
falar, ou sensibilidade para cativá-la a cada dia não gosta de mulher. Pode
gostar de sexo com mulher. O que é bem diferente.
Gostar de mulher é algo além, é penetrar em seu universo, se deliciar com o
modo com que ela conta todo o seu dia, minuto por minuto, quando chega do
trabalho.
Ficar admirando seu corpo, ser um verdadeiro devoto do corpo feminino, as
curvas, o cabelo, seios. Mas também cultuar a sagacidade feminina, sua
intuição, admirar seu sorriso que é muito mais espontâneo que o nosso.
Gostar de mulher é querer fazer a mulher feliz.
Levar flores no trabalho sem nenhum motivo a não ser o de ver seu sorriso. É
escutar pacientemente todas as queixas da chefa rabugenta, que provavelmente
é assim porque seu homem não gosta de mulher. O homem que gosta de mulher
não está preocupado em quantas mulheres ele comeu durante a vida, mas sim
com a qualidade do sexo que teve. Quantas mulheres ele realizou sexualmente,
fazendo-as se sentirem desejadas, amadas, únicas, deusas, na cama e na vida.
O homem que gosta de mulher não come mulher. Ele penetra não só no corpo mas
na alma, respirando, sentindo, amando cada pedacinho do corpo, e, é claro,
da personalidade.
"Para viver um grande amor é necessário ser de sua dama por inteiro",
afirmou Vinícius de Moraes no poema; Para viver um grande amor. Para amar
verdadeiramente uma mulher o homem deve ser totalmente fiel, traí- la,
jamais. Amá-la até a raiz dos cabelos. Admirá-la, se deixar apaixonar todo
dia pelo seu sorriso ao despertar e principalmente conquistá-la, seduzi-la,
como se fosse a primeira vez.
O homem que não tem paciência, nem tesão, nem competência para lhe seduzir
várias e várias vezes, esse, minha amiga, não se iluda, não gosta nem um
pouco de mulher. Conquistar o corpo e a alma de uma mulher é algo tão
gratificante que tem que ser tentado várias vezes. Só que alguns homens, os
que não gostam de mulher, querem conquistar várias mulheres.
Os que gostam de mulher é que conquistam várias vezes a mesma mulher.
E isso nos gratifica, nos fortalece e nos dá uma nova dimensão. A dimensão
da poesia, do amor e em última instância do impenetrável universo feminino.
Mas atenção amigos que gostam de mulher: gostar de mulher e penetrar em seu
universo não é torná-las cativas e sim libertá-las, admirá-las em sua
insuperável liberdade.
Uma das músicas com que mais me identifico é uma em inglês - por incrível
que pareça, para um nacionalista e anti-imperialista convicto. É a Have you
really loved a woman. É do cantor Bryan Adams.
A música foi tema do filme Don Juan de Marco, e em uma tradução livre quer
dizer "você já amou realmente uma mulher?".
Em toda a música o cantor fala sobre a necessidade de se conhecer os
pensamentos femininos, sonhos, dá-la apoio, para amar realmente uma mulher.
Essa música é perfeita.
Como se vê, gostar de comer mulher é fácil.
Agora gostar de mulher é dificílimo.
Precisa ser macho de verdade para isso.
Quem se habilita?
Luis Fernando Veríssimo
enviado por Klébia Fiúza
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