domingo, 27 de junho de 2010
O carregador de penico
Há cinqüenta anos, poucas residências possuíam em seu interior banheiros e, por conseguinte, vasos sanitários. As convenientes suítes eram praticamente desconhecidas naquela época, sobretudo em pequenas cidades do interior cearense, como Várzea-Alegre, onde ainda não havia, sequer, a cômoda água encanada.
O banheiro da casa da Rua Duque de Caxias, como em todas as outras residências, era localizado bem no fundo do quintal. Seu acesso era bastante difícil, principalmente à noite, pois no trajeto era necessário descer vários degraus de escada.
Rosa Amélia, irmã mais velha, durante o período noturno, após o dia de estafante trabalho, fazia suas necessidades em um penico. Logo pela manha, encarregava Antonio Ulisses, ainda menino, de jogar os dejetos na distante cintrina, sob a promessa de pagar-lhe alguns tostões.
Na época, Rosa Amélia, jovem e bonita, trabalhava no estabelecimento comercial de propriedade dos seus primos Toin e Joãozinho Costa, próximo da residência da Rua Duque de Caxias, onde atualmente funciona o Armazém Itaúna, de Fabiana Meneses Costa. Antonio Ulisses, como não recebia o pagamento pela desagradável tarefa de transportar o penico e seu conteúdo para a retrete, ia para a porta do estabelecimento comercial de vendas de tecidos e, caminhando na calçada a loja, ameaçava sua irmã, falando:
Se não me pagar o que me prometeu eu digo.
Com isso, Rosa Amália, mocinha nova, nervosa e envergonhada, cheia de pudores, sabedora das peraltices e da coragem de seu mano, cuidava logo de quitar tal divida, sob pena de o irmão trazer a publico o melindroso episodio do penico.
Do Livro Conte essa, Conta aquela – Dr. Flavio Costa Cavalcante.
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www.Pedra de Clarianã.blogspot.com
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