quarta-feira, 2 de junho de 2010
A fé que supera provações
Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. (Tg 1:2-3)
A carta escrita por Tiago é considerada uma das mais práticas epístolas do Novo Testamento: Ele começa, continua e termina a carta mostrando que a fé cristã autêntica vai além da teoria. A fé ensinada por Tiago é prática porque supera provações (1:1-4), valoriza o ser (1:9-11), discerne tentações (1:12-15), controla o temperamento (1:19-21), pratica a palavra (1:1-25), não apóia o favoritismo (2:1-13), manifesta-se nas obras (2:14-26), domina a língua (3:1-12), produz separação do mundo (4:1-10), rejeita a autosuficiência (4:13-17), espera a vinda do Senhor (5:7-12), acode o doente (5:13-18) e restaura o desviado (5:19-20).
Neste estudo iremos analisar a fé que enfrenta e supera provações, assunto tratado por Tiago logo no início da carta (1:1-3). De capa a capa, a Bíblia ensina que os servos e as servas de Deus passam por provações. Ela, porém, não ensina somente a realidade das provações. Vai além. Mostra-nos como enfrentá-las sabiamente. Trata-se de um ensino proveitoso. Se forem mal enfrentadas, as provações podem levar-nos ao álcool, às drogas, ao desespero, à depressão, à apostasia, à descrença. Se bem enfrentadas, porém, podem levar-nos ao crescimento, à santidade, à maturidade, à perseverança. Vale a pena, fazer a leitura deste estudo.
I - ENTENDENDO A MENSAGEM
Logo no início da carta, o autor se identifica com simplicidade: Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo (Tg 1:1a). Se quisesse, poderia se apresentar como “apóstolo” (Gl 1:19). Preferiu se descrever como “escravo”. Ainda que a sua pessoa e a sua palavra tivessem grande conceito na igreja primitiva (At 12:17, 15:13-22, 21:18), não era um homem orgulhoso, soberbo, vaidoso. Designa-se não como senhor, mas como servo do Senhor da Igreja e da Igreja do Senhor, o seu irmão (Gl 1:19; Mt 3:5) [1]. Ele não quis ser apóstolo! Que lição para a nossa época, em que muitos irmãos, em todos os níveis, brigam por posições e títulos na igreja de Cristo.
Na segunda parte do primeiro versículo, Tiago apresenta o destinatário da sua carta: às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações (Tg 1:1b). Os leitores originais da carta de Tiago eram cristãos judeus que viviam fora da Palestina e que sofriam perigosas perseguições. Por causa disso, Tiago se propõe a ensinar seus irmãos em Cristo a enfrentá-las adequadamente, dizendo: Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança (Tg 1:2-3). O que Tiago quer transmitir aos seus leitores com estas palavras? Ele deseja explicar-lhes a natureza das provações, como vemos abaixo.
As provações são imparciais - Por favor, preste atenção ao começo do primeiro versículo. De que forma Tiago se dirige aos leitores? Chamando-os de meus irmãos. Por que é importante enfatizar este tratamento? Porque indica quem vinha sendo atingido por provações: crentes em Cristo. Quem anda com Cristo, não está isento nem imune de passar por provas (Ap 1:9). As provas não fazem acepção de pessoas; atingem a todos, quer sejam justos, quer sejam ímpios (Jó 1:1). Neste sentido, um dos maiores enganos pregados na atualidade é o de que crente não sofre. Isto não é evangelho. Crente sofre, sim! E como sofre! O texto de II Co 11:23-27 confirma essa verdade.
As provações são freqüentes - Ao traduzir o segundo versículo do primeiro capítulo da carta de Tiago, a versão de Almeida, Revista e Atualizada, omitiu o termo grego “hotan”, que figura entre as palavras alegria e passardes. A NTLH o traduziu por quando: Meus irmãos, sintam-se felizes quando passarem . No lugar de quando ficaria melhor se fosse sempre que ou toda vez que, outra tradução possível, sugerida pelo Léxico do Novo Testamento [2]. Por que um termo tão pequeno é relevante? Porque mostra que as provações são repetitivas, freqüentes. Ao longo da sua vida cristã, você sempre enfrentará provações. Ninguém fica livre delas por muito tempo. Acontecem quase uma após a outra (Jó 1:13-19).
As provações são imprevisíveis - Atente para o verbo passardes. Ele foi traduzido de peripipto [3], que, de acordo com Léxico do Novo Testamento, poderia ser traduzido também por cairdes [4], no sentido de cair sem planejar. Tiago não usou esse termo grego por acaso. Ele quis mostrar aos irmãos que as provações são repentinas. Elas jamais podem ser agendadas, previstas. O homem que descia de Jerusalém para Jericó não imaginava que passaria por provação. Mas, sem que esperasse, ele veio a cair em mãos de salteadores, os quais lhe roubaram e lhe bateram (Lc 10:30).
As provações são variadas - Tiago ensina que o crente deve se alegrar sempre que passar por várias provações (II Co 6:4-5). Várias foi traduzido de poikilos [5], cujo significado é: de vários tipos, diversificado, múltiplo [6]. Conhecer uma provação não significa conhecer todas as provações, porque cada provação é específica. Deus quer que sejam assim. Se fossem todas iguais, com o passar do tempo, o crente seria capaz de vencer todas, por si mesmo, sem buscar a ajuda de Deus. Em meio às provações variadas, ficamos mais dependentes de Deus. Diante delas diremos como Josafá: ... em nós não há força para resistirmos a essa grande multidão que vem contra nós, e não sabemos nós o que fazer; porém os nossos olhos estão postos em ti (II Cr 20:12).
As provações são propositais - Tiago ensina que, além de serem imparciais, freqüentes, imprevisíveis e variadas, as provações são propositais: sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança (Tg 1:3). As provações não são acidentais. Deus tem em mente um propósito, ao permitir ou conduzir-nos às provações. Nada é por acaso (Gn 45:5; Fp 1:12-14). O sentido da palavra “provação” do terceiro versículo é diferente da palavra “provação” do segundo versículo. No segundo versículo, a palavra é peirasmos e, no terceiro, é dokimion. A palavra peirasmos (Tg 1:2) tem o sentido de “purificar/retirar a impureza” e dokimion (Tg 1:2) tem o sentido de “examinar/atestar a validade”.
Esses dois propósitos são claramente explicados na primeira carta de Pedro, o único outro lugar em que dokimion aparece [7] no Novo Testamento:
Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações [peirasmos], para que, uma vez confirmado [dokimion] o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado [dokimion] por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo. (I Pe 1:6-7)
Em suma, Tiago ensina que Deus nos submete às provações, em primeiro lugar, para “purificar” a impureza da nossa fé e, em segundo lugar, para “examinar” a validade da nossa fé.
II - APLICANDO O CONHECIMENTO EM NOSSA VIDA:
A fé que supera provações não se entrega à auto-suficiência - Por serem imparciais, freqüentes, imprevisíveis e variadas, as provações são humanamente impossíveis de se administrar. Elas são maiores do que nossas forças. Mesmo assim, muitas vezes, comportamo-nos como aqueles discípulos de Jesus que enfrentaram uma assustadora tempestade no lago da Galiléia: com autosuficiência (Mc 4:35-41). Com certeza, eles se esforçaram para contornar o problema, para saírem ilesos da tempestade. Mas nada puderam fazer para enfrentar a fúria do vento. Seus esforços não puderam vencer o problema. O problema era maior do que sua capacidade de resolvê-lo. Eles precisaram clamar a Jesus.
Há problemas que nos deixam com uma profunda sensação de impotência. Não temos força para resistir à fúria dos ventos e à força das ondas. O que fazer? Tiago ensina que quem enfrenta provações, precisa suplicar a intervenção de Deus: Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida. O que devemos pedir na oração? Sabedoria. Em tempos de provação, nossa tendência é suplicar por livramento divino. Deus, porém, quer dar-nos mais que seu livramento – quer dar-nos a sua sabedoria. Na hora da provação, sentimo-nos perdidos – sem sabermos qual caminho seguir, qual decisão tomar, qual palavra falar, qual conduta adotar. A sabedoria divina irá ajudar-nos a fazer o que for mais justo, certo e santo.
A fé que supera provações não se entrega à autoindagação - Os primeiros leitores da carta de Tiago estavam enfrentando a provação da perseguição. Em At 8:1-4, lemos que os crentes da igreja de Jerusalém foram dispersos por diferentes lugares, por causa da grande perseguição. Estevão havia sido apedrejado por pregar o nome de Cristo e outras vidas estavam sendo ameaçadas. Por isso, fugiram da cidade para poupar suas vidas. Nesta dispersão, porém, foram por todas as partes pregando o evangelho. Tiago escreveu exatamente para estas pessoas. Ele começou a carta dizendo: Tiago (...) às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações (Tg 1:1). Você consegue se colocar na posição desses irmãos?
Tente imaginar as indagações que devem ter passado pela mente de cada um: “Será que vale a pena seguir a Cristo?” “Por que ter uma fé que me obriga a mudar de lugar em lugar?” “Não seria melhor largar o Cristianismo e voltar ao judaísmo?” Estas auto-indagações são perigosas e venenosas, pois podem encher o coração de amarguras, de revoltas, de dúvidas, de irritações contra Deus. Podem ainda nos levar a questionar o caráter, a justiça, a bondade, a soberania de Deus. Se você ficar com vontade de auto indagar-se, durante as provações, utilize as palavras do salmista: Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu (Sl 42:5). Elas podem livrá-lo de dizer: Adeus, Deus!
A fé que supera provações não se entrega à autopiedade - Quem passa por provações, está sujeito a desenvolver autopiedade, que é sentir pensa de si próprio. Vive se justificando, se explicando, se defendendo. Faz-se vítima, a pior possível, até se tornar único em seu sofrimento. Acha-se rejeitado e esquecido pelos outros. Dramatiza e aumenta as suas doenças e dores. Ignora, conscientemente, o preciso recado do salmista ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã (Sl 30:5). Torna-se aborrecido, implicante, invejoso, ciumento. Perde a perspectiva, a esperança, a criatividade, a tenacidade, o compromisso. O exemplo mais conhecido de autopiedade na Bíblia é o do profeta Elias (I Rs 19).
Para que você não se entregue ao destrutivo sentimento da autopiedade, enfrente as provações com atitude positiva: Meus irmãos, sintam-se felizes quando passarem por todo tipo de aflições. Esse é o antídoto de Deus para que você não sinta pena de si mesmo, quando passar por aflições, testes, pressões, doenças. Aparentemente, esta ordem de Tiago é confusa e estranha. Não nos parece razoável nem possível alguém que fique alegre, ao passar por problemas. Como entender isso? De fato, as provações, em si, não são agradáveis, mas é o passar por estas provações autorizadas e governadas por Deus que traz benefícios ao nosso desenvolvimento emocional e espiritual. Entendendo assim, podemos ficar felizes, quando passarmos por provações, pois a experiência nos fará bem.
CONCLUSÃO
O crente em Jesus não está livre de passar por provações. Vimos, que elas são imparciais, freqüentes, imprevisíveis, variadas e propositais. De todas as características das provações, a que mais deve ser lembrada por nós é esta: as provações são propositais. Guarde isto no coração, prezado estudante: as coisas que acontecem com você não são frutos da casualidade. Há um propósito divino por traz da provação que você vem enfrentado ultimamente (Jó 42:1). Lembre-se de mais uma coisa ainda: Deus é bom, sempre bom. Às vezes, não conseguimos enxergar ou entender a bondade de Deus nas provações da vida, mas, mesmo assim, Deus continua sendo sempre bom.
Havia um súdito que dizia sempre para o rei que Deus é bom. Um dia, saíram para caçar; um animal feroz atacou o rei e ele perdeu o dedo mínimo. O súdito ainda lhe disse: Deus é bom. O rei mandou prendê-lo. Em outra caçada, o rei foi capturado por índios antropófagos – que se alimentam de carne humana. Na hora do sacrifício, o cacique percebeu que ele era imperfeito, porque lhe faltava um dedo. O rei foi solto; chegou para o súdito e disse-lhe: É verdade; Deus é bom. Mas por que eu lhe mandei para a prisão? O súdito respondeu: Porque se estivesse contigo, eu seria sacrificado.
As provações não anulam a bondade de Deus, pois a bondade de Deus dura para sempre (Sl 52:1).
Amém!
Pr. Genilson Soares da Silva - Estudo sobre a fé baseado na espítola de Tiago - Reproduzido e divulgado no PC@maral
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