terça-feira, 1 de junho de 2010

A magia da memória


PODEIS não ter conciencia do fato, mas sois um escritor. Cada ser humano escreve a história de sua vida nas páginas mentais, isto é, nas células do cérebro. Quando dizeis que vos lembrais de alguma coisa, o que quereis significar é que estais voltando a uma página anterior de vossa própria história, que vós mesmos escrevestes. O misterioso processo que chamamos memória é releitura mental de passada experiência de nossa vida. E’ reevocação de alguma coisa que dissemos, fizemos, pensámos ou aprendemos em prévia ocasião.

Vossa memória depende de vossa habilidade em guardar os fatos. Quanto mais profundamente os gravardes, tanto mais os retereis. Escreveis vossa vida, ou para usar de nossa nova maneira de falar, gravais vossa vida, com os instrumentos de vossos próprios sentidos. Quanto mais instrumentos utilizardes, tanto mais eficiente será a gravação. Se desejais recordar um poema, por exemplo, não o aprendais simplesmente com os olhos. Usai vossos ouvidos e vossa voz também. Em outras palavras, recitai o poema em voz alta para vós mesmos ao aprendê-lo. Se assim o fizerdes, ficará êle por mais tempo na vossa memória.

Esse artifício de memória, por meio de vários de nossos sentidos, é conhecido desde muito tempo. Quando eu era menininho, e ouso dizer que o mesmo é verdade no que se refere a meu avô, no seu tempo de rapazinho, era costume atar um barbante em torno do dedo como lembrança dum recado a dar, o qual doutra forma, poderia ficar esquecido na azáfama do trabalho ou do brinquedo. O que o barbante fazia pela memória era simplesmente isto: somava o sentido da vista (vós víeis o barbante), o sentido do tacto (vós o sentíeis em torno de vosso dedo) com o sentido do ouvido (geralmente recebíeis o pedido da incumbência pela palavra falada, através de vossos ouvidos).

O grande poeta, o grande músico, o grande inventor, é geralmente um homem que possue memória retentiva. E’ capaz de reevocar seus velhos pensamentos e experiências e reenlaçá-los em nova forma. Para cada grande trabalho há novo padrão de velhas impressões. O gênio tem uma memória de cera. Cada impressão marcada sobre êle permanece fixa. O homem médio, porém, tem uma memória de geléia. Nenhuma impressão fica nele gravada por muito tempo. Um famoso professor de psicologia costumava dizer a seus alunos: "Tratem de endurecer sua geléia para formar cera, se quiserem ser, alguma coisa no mundo."

Janaina Ramos

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