quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

CONSUMAÇÃO


Olho por olho e dente por dente
tudo um dia em pó se tornará
o apocalipse com certeza ocorrerá
nada é feito pra durar eternamente
nesse dia haverá ranger de dente
haverá tremor de terra, dilúvio, fogo e vento
para os erros e rancores resta o arrependimento
que da Pasárgada à Terra Prometida
importa que o tempo destroce da vida
do torpe ao excelso, do sonho ao invento

Se o tempo é o senhor da razão
e a própria razão desconhece
nossa vã filosofia adormece
e atrofia a nossa imaginação
presas fáceis rumo à consumação
e se a matéria não passa de excremento
prevaleçam na alma os sentimentos
e que sucumbam as relações estremecidas
importa que o tempo destroce da vida
do torpe ao excelso do sonho ao invento

Se no mundo virtuoso da verdade
não ficará pedra sobre pedra
com certeza bem maior será a queda
da mentira e da mediocridade
pagaremos pelas nossas aniquidades
que a tragédia anunciada tem fermento
e a sentença é uma questão de momento
a resposta da natureza vencida
importa que o tempo destroce da vida
do torpe ao excelso do sonho ao invento

Dar tempo ao tempo não dar
pois tempo ao tempo não dê
quem não tem tempo a perder
dar tempo ao tempo não dá
o tempo perdido jamais voltará
o tempo do tempo é cada momento
o espaço o tempo e o movimento
são as trilhas fiéis da nossa lida
importa que o tempo destroce da vida
do torpe ao excelso do sonho ao invento

Quem levar a vida inutilmente
atrelado aos bens materiais
aos prazeres levianos dos mortais
enganando a si próprio, simplesmente
a justiça suprema é inclemente
pois um dia no grande julgamento
haveremos de prestar conta do tempo
e já que o ócio é uma batalha perdida
importa que o tempo destroce da vida
do torpe ao excelso do sonho ao invento

No processo cruel da consumação
putrefação também é metamorfose
célula viva não passará de necrose
o sertão vai virar mar e o mar virar sertão
dos escombros e rescaldos da cremação
bradarão tristes gritos agourentos
os profetas provarão seus argumentos
e vira o homem Madalena arrependida
Importa que o tempo destroce da vida
do torpe ao excelso do sonho ao invento

Per omnea seculare et seculorum
alfa e ômega deixarão de ser extremos
serão meios, no julgamento supremo
e na sentença fatal no grande fórum
o perfume vira elemento inodoro
o Arco-Íris vai aparecer cinzento
nem abutres brigarão por alimento
cai a chuva com água já poluída
Importa que tempo destroce da vida
do torpe ao excelso do sonho ao invento

Pouco importa o neolítico ou avanços da ciência
pouco importa o precoce ou a longevidade
pouco importa a mesmice ou a criatividade
pouco importa o moderno ou a obsolescência
pouco importa o fracasso ou resistência
pouco importa o conforto ou sofrimento
pouco importa se nada é o azul do firmamento
pouco importa se tudo acaba em despedida
Importa que o tempo destroce da vida
do torpe ao excelso do sonho ao invento

Quem um dia foi arrimo e foi exemplo
Referência e por todos admirados
Para a guerra era o primeiro a ser chamado
Pai herói nos momentos turbulentos
Hoje engole o soluço atroz do desalento
Dos prazeres da vida em liberdade
Resta presa na alma uma saudade
Falta espaço pra guardar constrangimento
Sobra fama de velho rabugento
No calvário de uma velhice esquecida
Importa que o tempo destroce da vida
Do torpe ao excelso do sonho ao invento.

Rui Lopes Freitas é o
Autor do mote desenvolvido

Tibúrcio Bezerra

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