sexta-feira, 12 de agosto de 2011

LEMBRANDO DE ZÉ SALDANHA.



Nesse verso eu vou falar
De um conterrâneo querido
Que foi um tanto esquecido
Pelo povo do lugar.
Pois eu não vou me calar
Que poeta não se acanha,
Vou usar de artimanha
Para alguém ficar lembrando,
Que meu verso tá falando
Do saudoso Zé Saldanha.

José Gonzaga de Oliveira
Era seu nome completo,
Foi um cidadão correto
Mas chegado à brincadeira.
Num certo dia de feira
Contava uma novidade
Para o povo da cidade
E lá do motor dizia:
- Aqui eu tenho energia
Em casa Felicidade.

Saldanha foi arrojado
Teve versatilidade
E foi na nossa cidade
Por Jesus abençoado.
Devia ser contemplado
Por ter sido em sua vida,
O homem que deu partida
Para a cidade crescer.
Agora merece ter
Seu nome numa avenida.


Eu na minha mocidade
Lá para o motor corria
Para ver a energia
Iluminando a cidade.
Mas só ficava à vontade
Perto daquele motor
Porque tinha um protetor
Chamado de Zé Saldanha.
Por isso faço a façanha
De resgatar seu valor.

Zé Saldanha um certo dia
Ligou aquele motor,
O bicho fez tô, tô, tô.
E nada de energia.
Quando foi no outro dia
Fático lhe abordou
E de cara perguntou:
- Zé porque faltou corrente?
Zé respondeu de repente:
- Acho que enferrujou.

Além de bom carpinteiro
Rádio técnico e eletricista,
Foi também grande ciclista
E um excelente pedreiro.
Na profissão de oleiro
Também mostrou sua raça,
Colocou a as mãos na massa
Fazendo tijolo e telha.
Também colheu mel de abelha
Que eu ganhava de graça.

Serviu no tempo da guerra
Num quartel em fortaleza
Mas depois teve a grandeza
De voltar pra sua terra.
Foi morar no pé da serra
Onde tudo é natural,
Tomou leite do curral
Bebeu água da neblina,
Com a pureza nordestina
Da sua terra natal.

Retornou a capital
Sem ser mais para servir
Pois queria construir
Seu ramo comercial.
Conseguiu seu ideal
Quase na beira do mar,
Para a brisa balançar
Os cabelos das meninas,
Que brincavam na esquina
Da Canuto de Aguiar.

Naquele tempo o carvão
Era a sua atividade
E a Dona Felicidade
Era cobrindo botão.
Coisas para construção
Saldanha também vendia
Mas vez por outra perdia
Quando vendia fiado,
Porque quem paga atrasado
Na corrige a mixaria.

Eu lhe visitei um dia
No seu agradável lar
E ele veio me mostrar
Pimenta que não ardia.
Ele esfregava e comia
Mas nem fazia careta,
E era da malagueta
Daquela bem vermelhinha.
Fiquei calado na minha
Sem duvidar da faceta.

Depois disso me servia
Enquanto batíamos papo
Um licor de jenipapo
Que ele mesmo fazia.
E ele com alegria
Me falava do passado,
Do motor lá do mercado,
Do cheiro da umburana
Do Riacho da Caiana
E do Vale do Machado.

O bom relacionamento
Que Zé Saldanha gerou
A sua família herdou
E conserva no momento.
Aquele comportamento
E aquela dignidade
Lhe deu a capacidade
De ter servido ao Brasil.
Mas quando foi em dois mil
Morreu deixando saudade.

Mundin do Vale
Várzea Alegre - Ce

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