terça-feira, 9 de agosto de 2011

APOLOGIA AO CORDEL


1
Cordel é Literatura
Com certeza popular.
No baú dos portugueses
Chegou e foi para ficar.
Em Salvador aportou,
Sua semente semeou,
Logo começou a brotar.
2
Sua origem é da Europa
Mas aportou na Bahia.
Ganhou um novo sotaque
Para nossa alegria.
Tem cara de nordestino
E cumpre bem seu destino
Numa eterna romaria.
3
Leandro Gomes de Barros,
Com sua sabedoria
É poeta renomado
De muita categoria
Sábio empreendedor
E se tornando editor
Abriu uma tipografia.
4
Criou, publicou folhetos,
Com dinamismo vendeu.
E foi assim que o cordel,
No papel apareceu.
Sendo o mestre de Pombal
A figura principal
Do cordel em apogeu.
5
O cordel não agoniza,
Como sempre ouvi falar.
Cada dia ganha força
Floresce em todo lugar.
Retirou o pé do sertão
Para invadir a nação
Na arte de se propagar.
6
Na mala dos nordestinos
Embarcou paro o Sudeste.
Ganhou a periferia
Na voz do cabra da peste.
Ganhou feira, até salão
Falando de tradição
E costumes do Nordeste.
7
Se no rádio sempre esteve,
Com certeza continua.
Na feira de São Cristovão
É o repentista que atua
Demonstrando essa cultura
Que não foi pra sepultura
E ganha aplausos na rua.
8
É no rádio que o cordel
Mostra bem o seu valor.
Com histórias engraçadas
Contadas no interior
Muito bem interpretadas
Onde o povo dá risadas
Escutando o locutor.
9
Poetas têm seguimentos,
Que atento leitor seduz.
No dialeto de matuto
Enfatizo Zé da Luz.
O que transmite emoção
Falando com o coração
E à singeleza faz jus.
10
Temos mestre Patativa
Que honrando o seu cinzel
Fez da saga nordestina
A musa do seu cordel.
Escreveu “Triste Partida”
A história dolorida
De uma seca tão cruel.
11
Na voz de Luiz Gonzaga,
O nosso rei do baião,
O cordel de Patativa
Transformou-se em canção.
Foi hino dos retirantes
Dos nordestinos errantes
Que deixavam seu torrão
12
“Vaca Estrela, Boi Fubá”
Fagner foi quem gravou
Também é de Patativa,
Muita gente se encantou,
Sendo um cordel musicado,
Bem aceito no mercado,
Na mídia se propagou
13
A mulher cavou espaço
E consegui penetrar
Neste mundo do cordel
Ocupando seu lugar
Deixou de viver reclusa
Abdicou de ser musa
Para os versos encarar.
14
O cordel bem sabiamente
Abriu alas para mulher.
Que neste mundo machista
Meteu bem sua colher
E trouxe em sua bagagem
Um punhado de coragem
De quem sabe o que bem quer.
15
Tem o cordel engraçado,
Matuto e educativo,
Criticar velho cordel
Confesso não há motivo,
Ele tem suas vertentes
Mesmo sendo diferentes
Tem o seu leitor cativo.
16
Há quem fale em cientistas,
E também em pensadores,
Políticos importantes,
E fazendo os seus louvores.
Mostrando conhecimento
Dos astros e firmamento
E tantos outros valores.
17
O cordel das prateleiras
Já fez festa no sertão
Balançando-se ao vento
Pendurado num cordão.
Com as lendas de princesas
E contando safadezas
Do famoso Lampião.
18
O cordel modernizado
Na mídia se faz presente,
Inclusive na internet
E cruzando continente.
O cordel está na praça,
Pois cordelista tem raça
E consegue ir em frente.
19
Afirmo, também não vale
Criticar a evolução.
De quem escreve cordel
Usando a língua padrão
Usando sabedoria
Com muita categoria
E buscando erudição.
20
O cordel na internet
É mesmo sensacional
Onde pesquisas são feitas,
Até duelo virtual.
O cordel sem retrocesso
Navega para o sucesso
Dando um salto universal
21
E nas universidades
O cordel é estudado.
Desempenha seu papel
Nas teses de doutorado.
Cordelista dá palestra
E se muita mente adestra
Celebra bom resultado.
22
Poeta de fino trato
Por favor, seja fiel.
Não se esqueça das raízes
Que tem o nosso cordel
Mesmo sendo singular
Mas sempre foi popular
Na boca do menestrel.
23
Mensageiro da notícia
Sempre será o cordel.
Popular literatura
Que cumpre bem seu papel.
No rádio e televisão,
Em mera publicação
Divulgada em painel.
24
O cordel vai se movendo
Em nítida evolução
E vai se modificando
Tal qual o camaleão.
Vai acompanhando os tempos
Seguindo os movimentos
Mostrando sua ascensão.
25
E salve o velho cordel!
Chamado tradicional.
Salve a nova criação
Neste mundo virtual
E salve a diversidade
Pois essa variedade
Faz o cordel maioral.

de Dalinha Catunda


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