terça-feira, 9 de agosto de 2011

Um inesperado dia de fúria abala mais que uma tempestade.


Ele era um ótimo carpinteiro, fazia coisas de encomenda de madames, e recebia muitos elogios, trabalhava na sala de casa, lá era sua marcenaria, as vezes eu ficava horas olhando ele transformar um simples tábua em uma porta, ou em algo bonito como um quadro para ser pintado.
Neste dia estava tudo calmo , eu já havia feito minhas obrigações de casa e minha irmã estava dormindo, eu o observava a terminar uma cristaleira, peça linda de encomenda, toda de vidros com desenhos de peças de louça finas, coisas que eu nunca vira de perto, sua pernas eram torneadas, sua cor de mel, os espelhos faziam o acabamento perfeito, eu estava sentada perto em um banquinho que ficava sempre lá, eu era sua admiradora sempre que podia e isto o agradava, eu ficava de boca aberta em cada peça que ele terminava, mas meu sonho mesmo era um dia ter um guarda roupa, muito embora não tivesse tantas assim, mas uma garota de 14 anos sonho, e cada uma sonho com coisas diferentes, o meu era um guarda roupas com espelhos, sempre gostei de espelhos, sempre fui muito organizada e guardava minhas poucas peças de roupas em uma mala de madeira que ele fez pra mim, eu a envolvia em um saco para não sujar. as minhas amigas admiravam eu trocar a brincadeira pra ficar olhando seu trabalho e neste dia era especial, ele ia terminar finalmente a cristaleira, pronto só faltava um trinco, era colocar meter a chave e girar, estaria tudo pronto, mas de tepente eu vi um ataque de fúria, ele pegou um martelo e começou a quebrar tudo, assustei-me mas tive coragem para gritar : Pare padunda, não faça isto, está lindo demais, no entanto ele continuava a quebrar tudo, cacos de vidros foram sendo atirados pra todos os lados e suas mãos já estavam sangrando, ele gritou comigo: Saia daqui e eu obedeci apavorada, sui até o quintal e passei por minha mãe num desesperado choro e fui para meu pé de umbu, lá era meu esconderijo, lá eu podia chorar e ninguém veria, tremia toda, não entendia o ser humano, o que acontecera pra ele agir com tanta raiva e ódio? Eu era muito calma, até demais, nunca elevava a voz, na verdade acho que tinha era muito medo dos humanos. Fiquei ali chorando horas, nem mesmo uma cobra verde fina se enroscando em um galho perto de mim me amedrontou mais que a cena terrível que eu acabara por ver de tão perto. De lá vi minha mão entrar e sair balançando a cabeça, agora seria mais alguns dias de grande aperto até passar a raiva dele.
Como pode o ser humano ser tão destrutivo. Outro dia meu psicólogo mandou-me quebrar uns pratos de vez enquanto, rasgar algumas folhas, botar minha raiva pra fora, senão eu que me quebraria. Sei não! Posso até me quebrar, mas prefiro deixar as coisas inteiras.
Meu Padrasto era assim um homem inteligente, bom quando sóbrio, mas muito explosivo e com isto se prejudicava e nos prejudicava também. Lembrei deste fato agora porque hoje estou precisando quebrar algumas coisas, mas acho que minhas coisas são laços que precisam serem quebrados, mais difícil do que madeiras e espelhos. Mas com toda minha calma vou ponderando e relevando. Está é a Irismar que quem sabe terá um dia seu dia de fúria. Torço pra que nunca chegue este dia, mas estão me provocando demais, até aonde irei ? Nem sei, enquanto tiver água no chuveiro...

Íris Pereira.

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