quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A SAGA DE UM RIACHO


Nasci no brabo sertão
respirei muita poeira
enfrentei muitas ladeiras
tirei o sustento do chão
vi lama virar torrão
riacho virar estrada
vi fazenda abandonada
e a natureza ranzinza
pintar o verde de cinza
talvez em troca de nada

em troca de nada, em vão
é isso mesmo que acho
como é que um riacho
sem a mínima explicação
leva a água do sertão
o banho da criançada
numa carreira danada
e sem ninguém lhe ensinar
corre direto pro mar
pra virar água salgada

como é que um riacho
ver um plantio de arroz
e sabe que logo depois
vai vê-lo soltando o cacho
mesmo assim como um capacho
ou moleque de recado
sai doido desembestado
faça calor faça frio
pega carona num rio
e mergulha no mar salgado

O riacho é mesmo idiota
e uma besta quadrada
que doida despinguelada
numa corrida sem volta
num grande rio se encosta
e ali viaja espremido
mal visto que nem bandido
junto com lixo e lama
mesmo assim sequer reclama
e vai pro mar poluído

O riacho nasce franzino
vem das entranhas da terra
da chuva que cai na serra
peralta que nem menino
vai cumprindo o seu destino
desprezando quem lhe ama
acaba virando lama
correndo por gravidade
e com os esgotos da cidade
no negro mar se derrama.

Tibúrcio Bezerra

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