sexta-feira, 8 de outubro de 2010

MARINHA



DITOSOS a quem acena
Um lenço de despedida!
São felizes: tem pena…
Eu sofro sem pena a vida.




Dôo-me até onde penso,
E a dor é já de pensar,
Órfão de um sonho suspenso
Pela maré a vazar…




E sobe até mim, já farto
De improfícuas agonias,
No cais de onde nunca parto,
A maresia dos dias.






PAIRA à tona de água
Uma vibração,
Há uma vaga mágoa
No meu coração.




Não é porque a brisa
Ou o que quer que seja
Faça esta indecisa
Vibração que adeja,




Nem é porque eu sinta
Uma dor qualquer.
Minha alma é indistinta,
Não sabe o que quer.




É uma dor serena,
Sofre porque vê.
Tenho tanta pena!
Soubesse eu de quê!…

FERNANDO PESSOA

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