sábado, 14 de janeiro de 2012

João Paulo Júnior


João Paulo Jr. é daqueles que se guiam pela cartilha do tradicional, mas não é tradicionalista, tanto que um dos seus CDs intitula-se Forró Mangue, no qual presta uma homenagem póstuma ao grande Chico Science.

A música de João Paulo Jr. é, pois, a temas contemporâneos, mas sempre com fortes ligações com as raízes da música nordestina. Ao contrário da grande maioria dos forrozeiros de hoje, que prefere trilhar o caminho aparentemente fácil do xote, João Paulo Jr. sabe que o forró é o manto sob o qual se abriga uma fartura de ritmos: entre ouros, baião, rojão, xenhenhen, marchinha junina e samba.

Mas deixemos de entretanto, e vamos ao finalmente. Forró Forrado que tem como um dos destaques um samba, do jeito e formado que o saudoso Abdias gostava, o samba de latada. Para os que desconhecem a vertente nordestina do samba, este vai ensinar direitinho. A letra é romântica, mas carregada de passionalismo. A instrumentação vai além da sanfona, zabumba e triângulo.

Aos xiitas do pé-de-serrá básico vale lembrar que o hino Asa Branca foi gravado por Luiz Gonzaga acompanhado pelo Regional Canhoto, enquanto Jackson do Pandeiro também não fazia cara feia para qualquer família de instrumento. Para os dois mestres, o que importava era músico e música boa.

Alcymar Monteiro é quem assina a Vida conjugal, o tal samba, que conta com as participações especialíssimas de dois mestres e lendas vivas da MPB (forró é MPB, pois não?), com João Paulo Jr., estão nesta faixa Domiguinhos e Zé Calixto, com seus timbres e talentos inconfundíveis. Forró Forrado, a faixa-título, uma parceria de Alcymar e de João Paulo Jr., tem o gosto do forró de antigamente.

A sanfona de Belo Hortiz pinicando, enquanto João Paulo Jr. canta um baião despretensioso, destinado tão somente para o lúdico, ou seja, levar o caboclo e a cabocla a unirem e relaxarem o corpo e o espírito, depois de uma semana inteira de labuta. A voz de João Paulo Jr. tem um quê de antigamente, lembra o despojamento do não menos saudoso Lindú do Trio Nordestino.

São poucas as faixas aqui que não levam a assinatura de João Paulo Jr. e Alcymar Monteiro. Aliás, apenas três, entre dezesseis faixas. Uma delas é a reverência obrigatória que todo forrozeiro tem que prestar à voz maior do Nordeste: Luiz Gonzaga.

Do repertório de Gonzagão foi pinçado a bela e pungente A morte do vaqueiro (parceria com Nelson Barbalho), cantada com a devida emoção que a toada e a letra ao mesmo tempo poética e realista exigem. De Gilvan Neves, João Paulo Jr. interpreta Saudade. A terceira é a inclusão de Festa de Santos Reis (Márcio Leonardo), que fez sucesso com Tim Maia nos anos 70.

Irmão mais novo do parceiro Alcymar Monteiro, um dos maiores nomes do forró contemporâneo, João Paulo Jr. soube conviver com o parente famoso, sem ser ofuscado por seu brilho. Está na estrada da música desde 1973, com uma discografia iniciada em 1987, quando decidiu deixar de ser apenas compositor. É um autor gravado por artistas do porte de Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Fagner, Elba Ramalho, Domiguinhos, Caju e Castanha, Sivuca, Teça Calazans, Marines, entre outros.

“Quanto mais o coro come, vai subindo o poeirão/No tum tum tum do zabumba no salão”. O coro come não apenas no tum tum tum do zabumba de Quadrilha (que também faz o coro comer com o triângulo), come com a sanfona endiabrada de Beto Hortiz, nas guitarras de Lalá Menezes e Luciano Magno, nos baixos de Jair Tavares, no cavaquinho de Chico Botelho, e na percussão de Sivaldo Kembell e de Delbert Lins.

José Teles é crítico de música e escritor.

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