quinta-feira, 18 de março de 2010

O ANDARILHO LIVRE




Viajando pela rodovia Anhanguera encontrei um andarilho, parei o carro e fui até onde ele estava sentado, dei-lhe boa tarde e perguntei: Posso ter um dedinho de prosa com o senhor? Ele olhou-me com os seus olhos negros e muito vivos dando-me a impressão que só com aquele olhar me analisou num segundo. Respondeu - Se a senhora não for assistente social, podemos conversar. O que deseja saber? - Posso sentar-me aí neste tronco pra ficar enfrente ao senhor? E sem esperar já fui me instalando em um grande tronco de árvore que ali morta jazia, fiquei tão próxima que que as rugas do rosto queimado, mas com traços que outrora fora bonito, eu pude ver com detalhes. Meu nome é Íris e gosto de escrever, sempre que via um andarilho tinha curiosidade em saber, o senhor algumas vezes pega carona? - Carona pra que? Não tenho pressa pra chegar, nem tenho aonde chegar, ninguém me espera em nenhum lugar. Ando atoa, devagar, observando este mundão que Deus fez e o homem modificou, ando pelas estradas e quando encontro uma encruzilhada escolho pelo que mandar o coração, da direita ou da esquerda de asfalto ou chão vou seguindo até o cansaço me exaustar, aí procuro como agora um lugar pra sentar, mas sem nunca deixar de observar o que estar em volta. - E o senhor nunca parou numa destas casas abandonadas que ficam nas estradas e nela ficou nem que fosse por uns dias como moradia? - Moradia pra que, sou livre, não pago imposto é verdade, mas faço a minha parte, não jogo papel no chão, apago todas bitucas que jogam dos carros, não mato animais por prazer só faço pra me alimentar e se tenho sede procuro uma fonte ou um rio e neste mundo de Deus disto somos ricos. - E como o senhor faz nos dias de chuvas? - Deus dá o frio conforme a roupa, sempre tenho onde ficar, sou esperto, quando vejo o tempo mudar procuro me abrigar e o que não falta é lugar. - E o senhor é feliz assim? Ele pensou um pouquinho, passando a mão pela barba já crescida quase de toda branca, respondeu:- Se felicidade for se sentir livre, poder olhar a noite estrelada, nadar nos rios, escolher quando ir ou ficar, falar com a lua sem esperar resposta...Sou feliz. Dizendo isto levantou-se pegou suas coisas, estendeu a mão pegando na minha ajudando-me a levantar, apertou e disse: - Foi um prazer estar com você Íris. Saiu pra direita e eu segui pra esquerda.

por Iris Pereira

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