quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A Igreja evangélica nos dias de Noé


“E o que de mim, entre muitas testemunhas,

ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos

para também ensinarem os outros”

II Timóteo 2;2.

Segundo Donald Stamps, em seus comentários na Bíblia de Estudos Pentecostal, “A Igreja tem a responsabilidade de salvaguardar a verdadeira e original doutrina bíblica que se acha nas Escrituras, e transmiti-la aos fiéis sem transigência nem corrupção”. Quanto ao ensino das doutrinas bíblicas, nunca, nos últimos cinco séculos, os cristãos tiveram tantos mestres e tanta literatura de excelente didática e qualidade, todavia ao analisar a segunda parte da afirmação, considerando os últimos 20 anos da Igreja evangélica brasileira, vivemos tempos de tanta transigência e corrupção.

Hoje ao abrir o jornal vi que uma entidade evangélica de Dourados – MS. mantenedora de um hospital evangélico local, está sob suspeita de “financiar” um esquema de “mensalão”. Na prestação de contas do convênio do 3º setor, cerca de R$50.000,00 eram devolvidos em dinheiro vivo, para as mãos do executivo municipal, calçados por notas frias, segundo denúncias locais. Cerca de 28 pessoas foram presas.

Cerca de oito meses atrás, um colega de serviço enviou-me um arquivo “ppt” mostrando uma mansão nos Estados Unidos, que a princípio pensei fosse a Casa Branca. No finalzinho dos slides, fiquei sabendo que aquela casa pertencia a um bispo dono de uma grande rede de televisão. Meu colega não é crente, e se admirou da prosperidade daquele líder evangélico.

Ainda, há umas duas semanas, um conhecido, auditor de um TCM, enviou-me email com o título “Novo Programa da Casa Própria”, embaixo, aparecia a tela do YouTube. Imaginei que fosse algo parecido com o programa “Minha Casa, Minha Vida”, mas não. Era um conhecido tele-evangelista de minha Igreja, Assembleia de Deus, lançando mais um plano de “sementes”. Na fala do evangelista, ele dizia que se alguém vivia pagando aluguel, e desejasse adquirir sua casa própria, deveria separar uma oferta no valor do aluguel, e a plantasse como semente na conta bancária do pastor.

Nesses tempos eleitorais, eu sei que isto não acontece na Igreja evangélica brasileira, mas decerto em “outros países”. Quantos pastores presidentes de campos, de Igrejas e congregações – “lá” – assentam-se com candidatos não cristãos para negociar votos a troco de favores imorais e fisiológicos? Quantos candidatos evangélicos “desses países” não estão fazendo propaganda política ilegal dentro e na porta das Igrejas, profanando o testemunho dos velhos pioneiros que puseram o testemunho acima dos interesses pessoais?

O que fazer neste momento se grande parte dessa liderança evangélica já se corrompeu? Ministério cristão não se resume em ensinar, pregar, misturar línguas estranhas no meio de sermões para dissimular uma situação pessoal de mornidão. E o testemunho, como é que fica? A palavra bíblica sem a equivalente sinceridade, é conversar para boi dormir. É engano. É falsidade profética.

Tenho ainda que criticar, veementemente, os mestres responsáveis pela produção e comentários das Revistas de Escola Dominical. Por que eles não veem que esta instituição tão conceituada está sendo desmoralizada, enquanto pensam que bastam textos eruditos, teologicamente corretos, de fina ortodoxia, para tapar o sol com a peneira? Estes textos estão sendo atropelados pelo mau testemunho de um ministério (respeitando poucas exceções) que já se corrompeu. Os atuais "donos" da Igreja são os mesmos a quem Cristo confrontou em seu tempo: "Coais um mosquito, e engolis um camelo." Para aonde foi a moral de uma instituição que ensina a verdade, a santidade, o caminho, mas anda de braços dados com aqueles que vivem na hipocrisia, na avareza, na mentira, no caminho largo. Não basta combater o pecado (nas lições) na base do faz de contas, com palavras desprovidas de testemunho. Ensinam como agradar a Deus, mas suas atitudes O repugnam. Ensinam mas não praticam. É por isso que muitos deles já perderam suas famílias para o mundo, pois vivem uma mentira; e Deus não se deixa escarnecer, retribuindo-os segundo suas obras. O que adianta escrever para o mundo inteiro e perder a própria família para o inferno?

A primeira carta do Apocalipse, à igreja de Éfeso, retrata muito bem este momento, o final da primeira década do século XXI. “Escreve ao anjo da Igreja que está em Éfeso... “Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos (pastores líderes) e o não são Tu os achaste MENTIROSOS”. Como é possível um pastor dormir em paz com o travesseiro servindo em um ministério em uma situação dessas? A fidelidade é um compromisso devido, primeiramente, a Deus. E o que acontece se as autoridades religiosas superiores já quebraram este compromisso?

É por isso que não se vê mais falar no Espírito Santo nas Igrejas. É por isso que nos grandes templos (ressalvando poucas exceções) ninguém mais se interessa por batismo como Espírito Santo. É por isso que os fiéis estão indiferentes nos cultos.: Jesus está do lado de fora. A corrupção e a transigência com o pecado trouxe a profanação do sagrado, e onde impera a sujeira o Espírito de Deus não habita mesmo.

E agora Senhor, enviarás um novo Pentecostes? Levantarás novos e santos líderes para nos ensinar? Reformarás a Reforma, depois de 500 anos? É possível Senhor avivar as cinzas de uma Igreja morta? Onde estará a Tua presença para que possamos seguir após ela? Será possível que já estamos chegando aos tempos do fim, que os verdadeiros adoradores serviriam solitários com suas próprias famílias, como nos dias de Noé?

João Cruzué

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