quinta-feira, 24 de março de 2011

AINDA QUE NÃO TE IMPORTE...


Ainda que não te importe
nunca aceitei ter crescido,
nunca aceitei ter perdido,
nunca aceitei o acontecido,
a vil guerra, a separação…
Nunca aceitei ter partido,
ter chorado, ter sofrido
as malhas da ingratidão!


Não aceito o vazio, a morte,
tão pouco a dor, a solidão,
este ser sem ser, este estar indo,
este silêncio transido
sem verso ou condição.
Não aceito o desvalido,
tal desejo amortecido
sem visto ou passaporte.

Mereci mais e melhor sorte
que uma esfíngica paixão
de gelo em bronze fundido!...
Mereci a senha, o transporte,
dum eternal caminho
ou, de minha mãe, vagindo
este meu inquieto coração
nunca teria nascido.

Ainda que não te importe
pesa-me o tempo vivido
na carapaça de ser forte
com asas de passarinho…
Pelas portas que vou abrindo,
páginas de mão em mão
fogem-me, sem que as recorte,
do tosco livro que escrevinho…

Se chorei, se sofri sorrindo
resta-me a fria indignação
do que teria feito sentido
se teu rosto, teu corpo, teu norte
longe deixasse esquecido
naquela infância suporte,
meu carrossel de emoção
de onde nunca deveria ter saído!...

Isabel Branco

http://novapangeia.blogspot.com/

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