domingo, 6 de março de 2011

REZAR


Rezar é esquecer a terra e lembrar-se do céu. É mergulhar a alma no infinito à procura de Deus. Daí porque aqueles que rezam se aliviam tanto do peso da terra. Nada faz tanto bem ao homem como a oração. Tanto o desanuvia. É uma espécie de banho que refresca por dentro.
Rezar não é apenas bater os lábios. Não é ler formas escritas. Nem tão-só dobrar os joelhos. A oração é mais uma ação espiritual da alma que uma atitude mecânica do corpo.
Rezar é isolar-se do mundo pelo pensamento. É fechar os lábios para que o coração fale. Cerrar os olhos para enxergar melhor. Tapar os ouvidos para melhor escutar. A lágrima é oração que goteja dos olhos. Um gemido é uma prece de angústia à procura do alívio divino. O silêncio, uma reza muda.
Os olhos, que fitam o firmamento com emoção, estão rezando, que Deus ilumina de dia, com o candelabro do sol, e de noite, com o círio das estrelas. Os morros, que se elevam, são degraus de altar, onde podemos ficar mais perto de Deus e mais longe da terra.
Os olhos da inocência são dois querubins de joelhos. Até a lágrima do moribundo é uma oração, que começa na terra para terminar na eternidade. Até o silêncio dos túmulos é uma prece de saudade.
Quem sabe rezar não é infeliz. Não vive só. Deus é companheiro do homem que reza. A pior desgraça é a dos que não sabem rezar. A oração é uma perene transfiguração. Quem se ajoelha não se curva para a terra. Eleva-se para cima, para Deus.
Um dia, o neto de Renan, filho da dúvida e da impiedade, procurou os desertos de Marrocos, e entre aqueles dois desertos, o de sua alma e o d planura imensa doas areais, soltou este grito de desespero que é tortura infinita das almas que não sabem rezar: - "Oh! Deus, se vós existes, sejais Buda ou Maomé, Cristo ou Zaratrustra, ensinai-me a reza que os meus pais não me ensinaram."
E ali no deserto, pela primeira vez, Ernesto Paycharri dobrou os joelhos e rezou. Naquele dia encontrou a felicidade porque se encontrou com Deus

Padre Vieira
escritor varzeaalegrense

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