quarta-feira, 18 de maio de 2011

A carreira da onça


Já fui homem caçador
Mas não sai de madrugada
Dentro da mata fechada
Uma gata me espantou
Eu ia numa quebrada
E me vali das canelas
Me subi numa favela
Encheu meu corpo de espim
Ela com medo de mim
E eu corri com medo dela

O véi Luiz me chamou
Pra nós ir numa caçada
Quando foi de madrugada
O seu cachorro acuou
Pra mim um bicho miou
Eu quase corri co a cela
Quis me valer das canelas
O corpo tava tremendo
E eu corria dizendo
Véi Luiz aquilo é ela!

Travessamos pro Zumbi
Lá vi o rastro da gata
Apaguei dentro da mata
Não procurava desvi
Topei-me com um novi
Sai numa capoeira
Me subi numa aroeira
Já lá no desconsolado
Eu ia todo cortado
Dessa franga de carreira

Eu abandonei a caçada
No serrote do José
Trevessando o imbé
A mata muito fechada
A bicha tava zangada
No tronco duma favela
Tive muito medo dela
Ela rosnava eu ouvia
Eu sei que ela queria
Q’eu fosse pro rabo dela

Eu topei essa gatinha
Lá no pé da serra nova
Digo issodou aprova
Era bem de manhãzinha
Bati da mão a faquinha
Dentro duma mata bruta
Nós comecemo uma luta
Miãs pernas tavam tremendo
E a gatinha me comendo
Na rebanceira da gruta

Bati da mão a peixeira
Escorreguei na quebrada
A ponta tava amolada
Mas deu mole como cera
Me vali duma carreira
Corri que fiquei zanoi
Passei por cima dum boi
Rasguei meu chapéu de massa
E sai enchendo as calça
Mas eu não sei do que foi

Joaquim Dodô

poeta varzealegrense

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