terça-feira, 10 de maio de 2011

A ORIGEM DO VEGETARIANISMO


Não tem como contar a história do vegetarianismo e estudar as suas raízes sem falarmos da sua intrínseca relação com a religiosidade humana. Hoje em dia, são muitas as razões que podem levar uma pessoa a ser vegetariana; razões de saúde, razões éticas, razões ecológicas, razões econômicas e razões religiosas, mas, a pergunta crucial aqui é; Será que os nossos antepassados comiam carne ou não ? Essa questão de que devemos evitar comer carne tem fundamentos filosóficos antiqüíssimos. É possível que a sua origem seja muito anterior a culturas conhecidas do homem. Estudando a origem etimológica da palavra ‘vegetarianismo’, descobrimos que ela vem do latim ‘vegetare’, que significa dar vida, forte, vigoroso. Mas, o termo ‘vegetariano’ só passou mesmo a ser usado depois da fundação da Sociedade Vegetariana Britânica em 1847. Existem estudos e pesquisas que concluem que já na pré-história nossos ancestrais eram vegetarianos. Cientistas dizem algo em torno de 127 mil anos. Foi durante a última era glacial quando a sua dieta de frutas, nozes, folhas e sementes tornou-se inacessível, que os primeiros seres humanos tiveram de comer carne para sobreviver. Isso tornou-se inevitável. Mais tarde, as populações humanas foram criando culturas de vegetais fixas, que começaram a atrair animais como porcos selvagens, ovelhas, cães, cabras, aves, ratos e pequenos felinos, que foram sendo então domesticados. Alguns animais começaram a ser mortos para consumo. Foi aí que o homem se tornou sedentário e começou a encarar os animais como alimentos.
Nas civilizações antigas como a do Egito, sábios e conselheiros religiosos dos faraós, cerca de 3.200 AC. Acreditavam que a abstinência de carne criava um poder kármico que facilitava a reencarnação e também contribuiam num processo evolutivo do homem. Na China e Japão Antigos (século III, AC), o clima e os terrenos eram propícios à prática do vegetarianismo. O primeiro profeta-rei chinês, Fu Xi, era vegetariano e ensinava às pessoas a arte do cultivo, as propriedades medicinais das ervas e o aproveitamento de plantações para roupas e utensílios. Gishi-wajin-den, um livro de história da época, escrito na China, relata que no Japão não existiam vacas, cavalos, tigres ou cabras e que os povos viviam das plantações de arroz, do peixe e dos crustáceos que apanhavam. Muitos anos mais tarde, com a chegada do Budismo, a proibição da caça e da pesca foi bem recebida pelas populações japonesas. Já entre os gregos e romanos, a dieta alimentar baseava-se muito nos valores do trigo, da vinha e da oliveira. O pão, o vinho, o azeite, os figos e o mel eram símbolos de uma vida simples, de saúde e de satisfações singelas. A proeminência do pão na cultura antiga era também decorrente da primitiva ciência dietética, que colocava o pão no topo da escala de nutrição. Os médicos gregos e latinos viam no pão o equilíbrio perfeito entre os “componentes” quente e frio, seco e húmido, conforme os ensinamentos de Hipócrates. Em contraste, o consumo da carne foi sempre problemático. Imagem do luxo, da gula, da festa, do privilégio social, a carne não era considerada pelas civilizações antigas do Mediterrâneo como um bem tão essencial quanto os produtos da terra: o seu preço não era sujeito a um controle político como eram os cereais. Em certas épocas, a venda de carne chegava a ser proibida ao público. Dessa época podemos destacar Pitágoras e Platão que eram defensores radicais de uma vida vegetariana. Segundo eles, esta era a chave para a coexistência pacífica entre humanos e não humanos, focando que o abate de animais para consumo embrutecia a alma das pessoas. Os argumentos de Pitágoras a favor de uma dieta sem carne apresentavam três pontos principais; Convicção religiosa, saúde física e responsabilidade ecológica. Ele até chegou a ser chamado pelos historiadores de “ Pai do Vegetarianismo ” e aqueles que seguiam o vegetarianismo eram chamados por europeus e americanos de Pitagóricos. Em seus escritos, Platão também se referia ao ideal de uma dieta vegetariana e falava de assuntos relativos a alma. Existe ainda dessa época, o ensaio de Plutarco, sobre comer carne, escrito em fins do século I ou início do século II da nossa era, é um argumento detalhado em defesa do vegetarianismo, apoiando-se nas idéias de justiça e tratamento humano dos animais. Outros Registros mostram também que as civilizações Incas e os Essênios (primeiros judeus) eram contra o abate de animais. Com o passar dos tempos essa cultura foi se perdendo para dar lugar aos luxos e comodismos de uma dita vida moderna das classes mais abastadas.

O Vegetarianismo também sempre esteve bastante ligado a religiosidade, e a força dessa relação parece vincular-se diretamente há idade da religião. Por exemplo; Os Vedas que são antigos livros de conhecimento da Índia, existem a mais de cinco mil anos e pregam a chamada religião eterna Sanãtana Dharma, a ocupação eterna dos homens no serviço de adoração amorosa a Deus. O conjunto dessa obra de conhecimentos é classificada hoje como hinduísmo. Frequentemente é citado como a "mais antiga tradição religiosa" dentre os principais grupos religiosos do mundo ou como a "mais antiga das principais tradições existentes". É formado por diferentes tradições e não possui um fundador. Já nesses ecritos se restringia a dieta alimentar a plantas e vegetais, principalmente pelo fato dessa literatura pregar enfaticamente a não-violência e o respeito as diferentes formas de vida. Os Hindus possuem princípios vegetarianos registrados nas Escrituras Védicas, eles acreditam na doutrina da reencarnação a qual defende à abstenção de carne. O vegetarianismo não é colocado alí como um dogma, e sim, recomendado como sendo um estilo de vida no modo da bondade sátvico (purificador).

O Povo da Índia até os dias de hoje abstêm-se predominantemente de carne, e alguns até vão mais longe quanto a evitar produtos de pele. Cerca de 70 % dos vegetarianos no mundo estão na Índia. Mais de 40 % de sua população segue essa dieta estritamente e outros comem carne muito esporadicamente. Existe um profundo respeito aos animais, independente de espécie. A vaca por exemplo chega a ser identificada como uma figura quase maternal. O Próprio Deus as vezes é chamado pelos Vedas de Govinda ou Gopala “ aquele que protege as vacas e a terra ”. Na literatura Védica encontramos várias passagens que retratam a relação de harmonia, de amizade, carinho e respeito entre semi-deuses, humanos e animais. Na maior parte da Índia existe a proibição sobre a venda de produtos de carne e a matança de animais.
Um importante grupo de religiosos dessa linha, popularmente chamados de Hare Krishnas começou a espalhar pelo mundo não somente a crença filosófica e ensinamentos védicos, bem como a prática do vegetarianismo. Podemos dizer que ao início do séc. XVI, quando se deu na Índia um grande renascimento espiritual encabeçado por Sri Caitanya Mahaprabhu. Este grande Mestre fez renascer a devoção a Krishna (Deus), conquistando milhões de seguidores em todo o subcontinente Indiano. Mais tarde, em 1966, um representante seu; Bhaktivedanta Swami Prabhupada, trouxe para o mundo ocidental os ensinamentos de Sri Caitanya. Fundou a Sociedade Internacional da Consciência de Krishna (ISKCON) em Nova Iorque, que rapidamente teve grande acolhimento em toda a América do Norte e Canadá. Na década seguinte, partindo para outros países, a sua sociedade tornou-se uma confederação mundial de templos, escolas, institutos e fazendas comunitárias. Estima-se que exista atualmente mais de 1 milhão e meio de praticantes em todo o mundo. Todos são lacto-vegetarianos e desenvolvem um conhecido e importante programa de distribuição gratuita de refeições lacto-vegetarianas, Food for Life. Esta foi uma das ordens do Mestre (acarya) Srila Prabhupada “Ninguém, num raio de 10 milhas de qualquer um dos nossos templos, passará fome”. Também possuem restaurantes vegetarianos em países da Ásia, América e da Europa.

O exemplo dessa cultura de paz também foi ensinado no Budismo. Sidharta Gauttama, o Senhor Buda pregava basicamente AHINSA (não-violência). Os Budistas não tinham o direito de matar animais e acreditavam na compaixão por todas as criaturas capazes de ter sensações. Hoje alguns budistas infelizmente comem carne. O Jainísmo também prega a não-violência em relação a qualquer criatura viva e, portanto, a não ingestão de carnes.
O Islamismo, não tem uma cultura vegetariana forte, mas Maomé pregava sim a gentileza com os animais, e uma vez salvou insetos do sofrimento fazendo os seus homens apagar um fogo de cima de um formigueiro.

O Sikhismo, uma religião, síntese entre o Hinduísmo e o Islamismo, foi fundada no séc. XV D.C. Por Guru Nanak, um mestre espiritual Indiano, que considerava que todos são iguais perante o mesmo Deus único. Pregava uma doutrina de amor, compreensão e igualdade. Existem atualmente cerca de 2,3 milhões de Sikhs em todo o Mundo, mais da metade é vegetariana.


Partindo agora para as tradições ocidentais, vemos os Judeus citando o primeiro capitulo do livro de Génesis como uma prescrição da dieta original: "E Deus disse, Eu vos dei cada semente de erva, que estão por toda a terra, cada árvore, nas quais estão os frutos de semente; para vocês elas servirão de comer" (Génesis 1:29). Apesar dessa cultura, os Judeus chegaram a considerar a abstinência de carne como uma depravação, frequentemente associada como símbolo de pesar e tristeza. O filosofo judeu do séc. I Philo dizia que Deus havia proibido o uso da carne de porco e mariscos porque essas eram as carnes mais saborosas. Ele afirmava que esse era o meio pelo qual Deus restringia os desejos e prazeres do corpo. Acredita-se que a permissão para comer carne só teria sido dada após o dilúvio.
O Cristianismo primitivo, com as suas raízes na tradição judaica, viam o vegetarianismo de maneira similar; Um jejum modificado para purificar o corpo. Tertuliano (155-255 DC), Clemente de Alexandria (150-215 DC) e João Crisóstomo (347-407 DC) ensinaram que evitar a carne era uma maneira de aumentar a disciplina e a força de vontade necessária para resistir as tentações. Isso tornou as restrições dietéticas, como o vegetarianismo, muito comuns no comportamento cristão da época, e essa crença foi passada adiante ao longo dos anos de uma forma ou de outra. Por exemplo, a proibição de carne da Igreja Católica Romana nas sextas-feiras durante a Quaresma. São Bento, fundador da ordem dos beneditinos pregava o mesmo.
Muitos acreditam que Jesus era vegetariano, embora não existam evidências disto, Porém é extremamente significativo seu mandamento direto ‘ Não Matarás’. E não existe na escritura, qualquer referência Dele comendo carne. É certo que na bíblia existem diversos versículos que condenam o consumo da carne. Isaías, Paulo e outros apóstolos falavam disso. Entre Cristãos de destaque que defendem o vegetarianismo, podemos falar dos Adventistas do Sétimo Dia. Uma ramificação de evangélicos que surgiu nos Estados Unidos no século XIX. Seus adeptos cultivam um espírito pacífico e tranquilo, preservam o meio ambiente e velam pela sua saúde, através de uma alimentação racional. Muitos adventistas escolhem por isso, o regime vegetariano.
A alimentação dos Adventistas privilegia frutas, verduras, oleaginosas e os cereais integrais (os famosos sukrilhos, cereais de Kellogs foram criados por John H. Kellogg, um Adventista). Sua comunidade tem sido alvo de centenas de estudos e artigos científicos em matéria de saúde. Por isso são referência mundial de maior longevidade, atribuída ao seu regime alimentar. Dão importância à educação e à saúde. Criaram em todo o mundo várias escolas onde as crianças podem seguir uma alimentação vegetariana, incluindo a Universidade de Linda Loma (Loma Linda University Adventist Health Sciences Center) nos EUA, responsável por vários estudos sobre a alimentação vegetariana.

Falando Sobre o Espiritismo, Allan Kardec e Chico Xavier nunca colocaram explicitamente o vegetarianismo como uma necessidade, mas em diversas ocasiões, tanto eles como seus mentores espirituais afirmaram ser melhor ao homem se abster da carne, desde que tivesse condições de manter de forma saudável e equilibrada o corpo físico, para assim cumprir sua missão. Principalmente Chico Xavier defendia o fim da exploração abusiva dos animais (que ele chamava de irmãos menores ) por parte do homem. Uma vez falando em nome de Emmanuel, ele instruiu; "não recomendo aos homens que façam de seus estômagos, cemitérios ambulantes. Isso não é bom em nenhum aspecto, e traz malefícios físicos e perturbações ao espírito na sua tarefa de evolução. Os animais foram postos na terra como companheiros para os homens".
Outro ponto importante, é que se recomenda a seus médiuns passistas que no dia que forem doar passes as pessoas ou aplicarem tratamentos, que eles não comam carne, pois isso atrapalha na transferência dos fluídos positivos. Embora não seja uma obrigação para os médiuns ser vegetarianos.


Saindo da religião e partindo para o campo da filosofia, não podemos deixar de falar aqui da importância que foi dada ao vegetarianismo por pensadores, poetas artistas, inventores e filósofos de destaque na nossa história. Isaac Newton, Albert Schweitzer, Crates de Tebas, Diogenes, Epicetus, Henry David Thoreau, Henry Salt, Jean Jacques Russeau, Sêneca, Mahatma Gandhi, Voltaire, Zenão, Goethe, Beethoven, Charles Darwin, Pascal, Tolstoi, Sócrates, Leonardo da Vinci (1452-1519), que declarou que "Eu tenho desde criança abandonado o consumo da carne e um dia os homens verão o assassinato dos animais da mesma forma como vem hoje o assassinato dos humanos." Dr. William Lambe (1765-1847), que disse que "o uso da carne dos animais é um desvio das leis de sua natureza, e é uma causa universal de doenças e mortes prematuras". O conhecido Albert Einstein, Sigmund Freud, Thomas Edson, Benjamin Franklin, Arthur Schopenhauer, entre outros.

O interesse pelo vegetarianismo resurgiu e ganhou mais espaço de discussão nas rodas de intelectuais e pessoas cultas em geral, no século XIX, devido a preocupações com questões de saúde e tratamento humano dos animais. Agora criou-se um movimento de ativistas dessa ideologia que vêm ganhando força a nível mundial com a adesão de muitos artistas, e também médicos, pesquisadores e cientistas. Mas isso já é matéria para um outro tópico.

por Júlio Anderson
do blog atitude e consicencia veg

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